Wagner: É preciso diferenciar estar no governo de estar no poder

Após intensa agenda dos trabalhadores e trabalhadoras, no inicío de março, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, ao conceder entrevista nos estúdios da Rádio Vermelho, avalia a conjuntura nacional, o papel do movimento sindical e aponta as propostas das centrais para que o Brasil inicie uma nova arrancada pelo devolvimento, com inclusão e valorização do trabalho.

Joanne Mota, da Rádio Vermelho em São Paulo

Wagner Gomes - Foto: Portal Vermelho


Segundo Wagner, o Brasil mudou muito ao longo destes 10 anos, mas ainda tem pela frente uma longa jornada para atingir um robusto desenvolvimento. "Este grupo, no qual os trabalhadores e trabalhadores junto com os movimentos sociais, de forma geral, ajudaram a eleger, chegou ao governo, mas não ao poder.

“É preciso diferenciar ‘estar no governo’ de ‘estar no poder’. Neste país, o poder ainda está nas mãos dos banqueiros, dos latifundiários, dos grandes empresários. Então, nosso desafio deságua em uma luta, na qual disputamos quais os rumos do Brasil, se na manutenção dos interesses dos setores já citados, se na construção de uma nação desenvolvida, mas que inclua e valorize o trabalhador”, salientou Wagner.

Desenvolvimento com justiça social

O dirigente falou sobre a última reunião que as lideranças sindicais tiveram com a presidente Dilma Rousseff e informou que as centrais apresentaram suas avaliações e suas propostas para construir, junto com o governo, sem perder de vista os interesses dos trabalhadores, um novo Brasil.

“Entendemos que, neste momento, o país necessita de uma nova arrancada e nós [trabalhadores e trabalhadoras] estamos preparados para contribuir neste avanço”, sinalizou o presidente da CTB.

Na oportunidade, Wagner rememorou duas questões muito positivas tomadas pelo governo: a redução da taxa de energia e a desoneração da cesta básica. O que, segundo o dirigente, coloca "o governo Dilma vai em direção contrária aos dogmas e interesses que orientam o pensamento dominante. A redução dos impostos e dos preços, tanto da cesta básica como da energia, estimula a demanda e a produção, ao mesmo tempo em que contribui para conter o processo inflacionário".

Sobre a questão do superávit primário, Wagner voltou a criticar a política empreendida pelo governo e ressaltou que para reverter os baixos resultados econômicos é preciso medidas que ataquem o centro do problema.

"A CTB, bem como as centrais que lutam por uma política econômica diferente da que está aí, entende que uma das questões que precisa ser revista é a questão do superávit primário. Para nós este é o ralo principal por onde escoa o dinheiro que poderia ser investido em infraestrutura, tecnologia, inovação".

Marcha pelo Brasil

O dirigente explicou que "a marcha de centrais é um desdobramento da 2ª Conferência Nacional da Classe Trabalhadoras (Conclat), que foi realizada em 1º de junho de 2010 e reuniu 30 mil trabalhadores em torno de uma pauta comum: lutar por desenvolvimento com valorização do trabalho e inclusão social. Naquele momento, tiramos uma pauta mínima e dentre elas estava a luta pelo fim do Fator Previdenciário, Redução da Jornada de Trabalho, Ratificação da Convenção 151 e da 158 da OIT,o reajuste para os aposentados e o 10% do PIB para a Educação e Saúde".

Wagner reconhe que o governo tem dado passos significativos no sentido de derrubar os muros que brecam o desenvolvimento. Porém, o dirigente sindical pondera que “a história já provou que o caminho para o desenvolvimento passa por mais investimentos públicos, pela valorização dos trabalhadores, pela ampliação da renda e pela inclusão social”.

Ele lembrou que o movimento sincical iniciou 2013 à todo vapor e que os atos realizados no início de março aumentaram o protagonismo da classe trabalhadora no país. “Esperamos que uma nova etapa, com mais diálogo e participação da classe trabalhadora, seja iniciada daqui para frente. Esses atos demonstraram que é a partir da unidade de ação que poderemos obter avanços, evitar retrocessos e conseguirmos uma maior inserção nos poderes Legislativo e Executivo", afirmou o sindicalista.

Invisibilidade na mídia

Wagner tamvém avaliou a conbertura da mídia conservadora e criticou o tratamento dado às manifestações dos movimentos sociais ao longo de sua história de luta. Segundo ele, a mídia, além de não informar,  criminaliza os que nada mais querem do que um país justo, desenvolvido e soberano. “É impressionante, mais de 50 mil trabalhadores e trabalhadoras se unem pelo Brasil e nenhuma foto foi noticiada”, criticou o sindicalista.

Segundo ele, “a postura que a mídia assume, historicamente, só reforça o papel que este setor [a mídia] joga na luta política. Mais do que nunca devemos nos unir por um novo marco regulatório para o setor. Um marco que garanta não só o funcionamento, mas a democratização com regionalização e fomento da cultura e da educação. Para que os cidadãos e cidadãs, que pagam seus impostos, tenham o direito de, ao ligar a TV, ter acesso a uma programação comprometida com o interesse e serviço público”.

Ouça na Rádio Vermelho a íntegra do programa: