Um mês depois Santa Maria rende homenagens às vítimas da tragédia

Moradores de Santa Maria (RS) fizeram uma manifestação barulhenta na manhã desta quarta-feira (27) para lembrar as vítimas da tragédia que matou 239 pessoas na boate Kiss. Hoje, o incêndio completa um mês. No início da noite estão programadas caminhada, missa e distribuição de faixas brancas próximo ao local da tragédia.


Familiares e amigos rezam durante homenagem às vítimas do incêndio/ Foto: Felipe Truda/G1



Às 8h, começou o chamado "barulhaço". Os sinos das igrejas da cidade começaram a tocar e foi o sinal para que todos saíssem às ruas munidos de buzinas, sinos, apitos, cornetas. A homenagem que estava programada para ser de um minuto, durou cerca de 15. Centenas de pessoas, muitas emocionadas, carregavam fotos e cartazes. Elas se reuniram em frente à boate e numa praça para prestar homenagem as vítimas. Muitas palmas foram ouvidas.

Isolda Branco, tia de um sobrevivente, estava em frente à Kiss. "A cidade parou", diz. Para ela, Santa Maria ainda está de luto "e deverá continuar assim por muito tempo".

O consultor de vendas Leo Becker, pai de uma das vítimas do incêndio, Erika, de 22 anos, é vice-presidente da associação de pais das vítimas e falou com a imprensa. Segundo seu relato, o grupo preferiu evitar o local da tragédia e se reuniu na praça Saldanha Marinho.

"Foi um momento de muita emoção, choramos, oramos, agradecemos a solidariedade da população que temos recebido de todas as partes."

Em Porto Alegre, será entregue ao Ministério Público um documento com 27 mil assinaturas pedindo justiça. “É mais um clamor por justiça, que os fatos sejam apurados. Mais ou menos 10% da população de Santa Maria assinaram. É para mostrar que a gente está mobilizada e acordar nossas autoridades”, disse Becker.

Ainda nesta quarta-feira a associação irá receber uma delegação de pais de vítimas da tragédia semelhante na Argentina, em 2004, na qual morreram 194 pessoas. Segundo Becker, eles também participarão de uma caminhada programada para às 19h desta quarta, que seguirá da Praça Saldanha Marinho até a Igreja de Fátima, onde será celebrada, às 20h, missa em homenagem às vítimas.

Nesse mesmo horário, na Arquidiocese de Santa Maria, outra celebração será feita para lembrar os mortos no incêndio. Está programada ainda a distribuição de 239 faixas brancas pelas ruas Vale Machado, dos Andradas (onde fica a Boate Kiss) e a Avenida Rio Branco.

Homicídio doloso qualificado

O Ministério Público do Rio Grande do Sul deverá denunciar os responsáveis pelo incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), ocorrido em janeiro, por homicídio doloso qualificado – em que a pessoa assume o risco por sua atitude, mesmo sabendo que a conduta pode resultar em morte. Devem ser denunciadas as quatro pessoas que estão presas: os proprietários da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Hoffman, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor Luciano Augusto Bonilha Leão.

“[Nossa intenção], em princípio, é denunciar por homicídio doloso qualificado essas pessoas que estão mais próximas do incêndio, vamos dizer, do fato em si. São aquelas pessoas que tinham domínio sobre o local e que poderiam, de algum modo, ter evitado a tragédia. Vão ser denunciadas, nessa primeira etapa, por homicídio doloso qualificado, em função da asfixia, em princípio”, disseo promotor Joel Dutra.

Outras pessoas, além dos quatro já presos, podem ser denunciadas, a depender de informações do inquérito da polícia, que ainda não foi concluído. Para o promotor, os proprietários e os dois músicos agiram sem se importar com a segurança do público. “Eles teriam como prever que um resultado trágico poderia acontecer e, mesmo assim, continuaram o que estavam fazendo, não se importando com a segurança”, destacou.

De acordo com Dutra, após a denúncia das pessoas relacionadas diretamente ao incêndio, os agentes públicos, a prefeitura e o estado poderão ser processados. “Em um segundo momento, o inquérito policial irá continuar apurando conduta de possíveis responsáveis. E aí estarão incluídos, talvez, os agentes públicos”.

A promotoria terá cinco dias para apresentar a denúncia à Justiça após o encerramento do inquérito policial, previsto inicialmente para o próximo fim de semana. “O inquérito está com 3 mil páginas e para ler isso em cinco dias, não é muito fácil. Vamos fazer uma força-tarefa para construir essa peça o mais rápido possível. Mas o prazo pode ser ultrapassado em razão da complexidade”, acrescentou.

Com agências