Aldo Rebelo: Conflito de paixões no idioma
O Brasil fez a lição de casa, mas foi obrigado a adiar a vigência da segunda etapa do Acordo Ortográfico.
Publicado 25/01/2013 16:11 | Editado 04/03/2020 16:28
Em 2009 adotamos novas formas de escrever palavras, em simultaneidade com as antigas (vôo/voo, manda-chuva/mandachuva) e em 1º de janeiro de 2013 deveríamos usar unicamente a grafia concertada pelos países de língua portuguesa em 1990.
A resistência de Portugal, que ainda se considera síndico do idioma, e mais um ou outro país africano, nos fez manter a simultaneidade de grafias por mais três anos.
Em rigor, os brasileiros aderimos ao Acordo Ortográfico com boa vontade imediata. Até a imprensa, em geral avessa a iniciativas desse naipe, passou a escrever voo e mandachuva. Os dicionários e livros escolares adotaram as novas regras. É visível o interesse das pessoas em saber se epopeia tem acento ou quais são as mudanças do hífen. Não se vê ninguém pedir a volta do trema.
Chama atenção, no entanto, a resistência de filólogos de plantão, em aliança curiosa de puristas e jacobinos. Continuam a criticar o Acordo Ortográfico com ranhetice e açodamento. Uns pregam a mumificação; outros, a simplificação radical da língua nacional.
Falta a esses críticos a compreensão de que, se qualquer pacto demanda estudos, debates e concessões, ou seja, muita costura diplomática, um acordo linguístico é o palco perfeito do que o gramático Celso Cunha chamou de “língua, conflitos de paixões”. Oito países, que usam o mesmo idioma com variações tão profundas, chegarem a um acerto foi uma vitória da lusofonia. Reúnam-se os críticos para emendar as regras e teremos uma nova Torre de Babel.
O Brasil demonstrou maturidade nesse episódio. Como o maior falante do português, com toda sorte de influências a preservar, vai esperar a adesão dos parceiros porque tem interesse geopolítico em harmonizar uma comunidade idiomática.
Aldo Rebelo é Ministro do Esporte