Aldo Rebelo: Conflito de paixões no idioma

 O Brasil fez a lição de casa, mas foi obrigado a adiar a vigência da segunda etapa do Acordo Ortográfico.

  Em 2009 adotamos novas formas de escrever palavras, em simultaneidade com as antigas (vôo/voo, manda-chuva/mandachuva) e em 1º de janeiro de 2013 deveríamos usar unicamente a grafia concertada pelos países de língua portuguesa em 1990.

A resistência de Portugal, que ainda se considera síndico do idioma, e mais um ou outro país africano, nos fez manter a simultaneidade de grafias por mais três anos.

Em rigor, os brasileiros aderimos ao Acordo Ortográfico com boa vontade imediata. Até a imprensa, em geral avessa a iniciativas desse naipe, passou a escrever voo e mandachuva. Os dicionários e livros escolares adotaram as novas regras. É visível o interesse das pessoas em saber se epopeia tem acento ou quais são as mudanças do hífen. Não se vê ninguém pedir a volta do trema.

Chama atenção, no entanto, a resistência de filólogos de plantão, em aliança curiosa de puristas e jacobinos. Continuam a criticar o Acordo Ortográfico com ranhetice e açodamento. Uns pregam a mumificação; outros, a simplificação radical da língua nacional.

Falta a esses críticos a compreensão de que, se qualquer pacto demanda estudos, debates e concessões, ou seja, muita costura diplomática, um acordo linguístico é o palco perfeito do que o gramático Celso Cunha chamou de “língua, conflitos de paixões”. Oito países, que usam o mesmo idioma com variações tão profundas, chegarem a um acerto foi uma vitória da lusofonia. Reúnam-se os críticos para emendar as regras e teremos uma nova Torre de Babel.

O Brasil demonstrou maturidade nesse episódio. Como o maior falante do português, com toda sorte de influências a preservar, vai esperar a adesão dos parceiros porque tem interesse geopolítico em harmonizar uma comunidade idiomática.

Aldo Rebelo é Ministro do Esporte

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