Precisamos refundar o Maranhão – José Lemos

 

 Talvez não exista no Brasil um estado com maior potencial para deslanchar um circulo virtuoso de desenvolvimento includente e sustentável do que o Maranhão. O desenvolvimento, por definição precisa incluir os sujeitos sociais. A ênfase no uso do adjetivo é para deixar cristalino que precisamos, com urgência, retirar de um estágio de verdadeira calamidade um contingente de maranhenses que, em pleno século vinte e um, sobrevive como se ainda estivéssemos no século dezenove, tal o nível de carências. São setenta e cinco anos, ou três quartos de um século em que o Maranhão é usado para atender aos interesses de dois grupos perfeitamente identificados. Passou da hora de dizer: BASTA!

Acredito que a maioria dos maranhenses sabe, mas nunca é demais lembrar, que o Maranhão é, provavelmente, o estado com a maior vocação agrícola do Brasil. Nas suas fronteiras se encontram quase todos os biomas brasileiros. Amazônia, Cerrados, Pantanal, Litoral e Sertão. Há uma bacia hidrográfica em que prevalecem rios caudalosos e perenes. Ainda que, pelo menos quinze municípios onde sobrevivem aproximadamente um milhão de maranhenses, tenham características técnicas de semi-árido que o Governo Federal insiste em desconhecer, no restante do estado as chuvas, em geral, se distribuem com normalidade. A relação chuva que cai e evaporação do solo e transpiração das plantas (balanço hídrico), costuma não ser problemática. Os solos predominantes no estado não são dos melhores, mas são agricultáveis e, com tecnologia adequada, podem surpreender.

Todos os dias os meios de comunicação informam acerca da exuberância do setor agrícola brasileiro que está se preparando para ser líder mundial na produção de alimentos e matérias primas, inclusive as de agroenergia. O PIB medíocre do ano passado no Brasil apenas não foi menor porque o setor agrícola apresentou crescimento expressivo. A despeito de preços em retração de boa parte dos produtos que constituem a nossa pauta, conseguimos avanços em resultados econômicos desses produtos devido ao espetacular crescimento da produtividade agrícola em todos os itens. Este é um fato.

O Maranhão assiste a tudo isso passivamente. Com exceção da soja, em que alguns empresários do Sudeste, do Sul e Centroeste descobriram o “mapa da mina” no sul do estado, em todos os demais setores da produção agropastoril o nosso estado patina, em alguns até anda pra trás, como é o caso da produção dos itens tradicionais dos agricultores familiares (arroz, feijão, mandioca e milho). Todas essas culturas têm produtividade estagnada no Maranhão, devido à assistência técnica capenga. Como os produtos que saem dali são de qualidade inferior, não encontram mercado. O resultado é o desestimulo aos agricultores que se limitam a produzir apenas para o autoconsumo. Como existe o paliativo do Programa “Bolsa Família” do Governo Federal buscam a pouca renda em dinheiro que circula nas áreas rurais maranhenses empobrecidas. O Maranhão é o estado brasileiro que, proporcionalmente, tem o maior contingente de “beneficiários” desse programa.

O PIB per capita dos maranhenses mergulhou novamente num fosso. Em 2010 o seu valor, em termos de poder de compra, era equivalente àquele que prevalecia em 2008, ultimo ano do governo Jackson Lago. Isso aconteceu num indicador que experimentou crescimento nominal expressivo entre 2003 e 2008, apenas superado pelo esplendor de avanço apresentado em Tocantins. Nos anos 2009 e 2010 que “coincidem” com a volta do grupo poderoso às rédeas do estado, o Maranhão retomou uma trajetória de queda livre no PIB agregado e per capita, culminando no valor divulgado pelo IBGE que equivale a apenas 1,1 salário mínio anual de 2010. Um desastre!

Mas como o que é ruim sempre pode piorar, há no Maranhão 194 municípios em que o PIB per capita é menor do que o do estado. Nesses municípios sobrevivem 4,86 milhões de maranhenses (74%). Para esses locais eu estimei, com base nos dados do IBGE, que o PIB por pessoa equivale a sessenta por cento da média estadual.

Nesses municípios que são os mais agrícolas do estado, pois neles as populações rurais superam as urbanas, a taxa de analfabetismo da população maior de quinze anos é de 25,6% e a escolaridade média é de apenas quatro anos (analfabetismo funcional). Algo como 75% dessa população sobrevive em domicílios cuja renda total de todos os seus membros está contida no intervalo de zero a dois salários mínimos (0,3 salários mínimos por pessoa). Pobreza absoluta. São indicadores equivalentes aos do Zimbabwe na África.

Para reverter cenário tão ruim, que joga pra baixo a nossa auto-estima, precisamos refundar o nosso estado. Fazer-lhe uma assepsia política. Temos que reunir as nossas forças, abandonar os projetos pessoais. Identificar quem nas oposições tem mais condições de enfrentar o grupo poderoso e nos unir a ele. Como dizia Tancredo Neves: “não nos dispersemos”. Isso é tudo que as forças que mantém o Maranhão no atraso querem.