Nádia Campeão: "Estamos trabalhando para cumprir nosso Programa"

O clima de entusiasmo, realização, renovação e muito trabalho está na ordem do dia na Prefeitura de São Paulo desde a posse do prefeito Fernando Haddad (PT) e da vice-prefeita Nádia Campeão (PCdoB). Após vencer uma das disputas eleitorais paulistanas mais acirradas dos últimos anos, a nova gestão assume a administração da capital com desafios e estratégias bem definidas.

Por Mariana Viel, da Redação do Vermelho

Na última quarta-feira (9), Nádia Campeão recebeu o Portal Vermelho em seu gabinete na Prefeitura para falar das primeiras ações da nova gestão. Entre as tarefas mais imediatas dos novos secretários e quadros que compõem o governo está o detalhamento do plano de metas para os próximos quatro anos – em conformidade com a Lei Orgânica do município.

“Vamos apresentar nos próximos 80 dias um plano de metas que vai detalhar nossas ações. Estamos todos envolvidos nisso. De saída já está em curso a busca pelos terrenos para a construção das creches, dos três hospitais, dos corredores de ônibus, do Bilhete Único Mensal. O que temos mais importante para apresentar agora é que a Prefeitura está trabalhando desde o primeiro dia para cumprir o seu Programa.”

Segundo a vice-prefeita, as discussões com setores da sociedade civil organizada, movimentos sociais, especialistas e a população de diversos bairros e regiões da capital durante o período pré-eleitoral foram fundamentais para nortear o começo da atuação da nova equipe.

“Entramos na Prefeitura já sabendo o que fazer. O ano de 2012 foi um ano de trabalho para entrar na gestão de São Paulo sabendo o que iríamos fazer e por onde começar. Não fizemos uma campanha pela campanha. Isso talvez seja um legado importante. Foi onde muitos pecaram e perderam, porque acharam que podiam chegar com programas genéricos.”

Ela relata que há um forte sentimento de renovação entre os membros da equipe de governo, mas ao mesmo tempo também existe o compromisso com a continuidade da prestação de serviços e atendimentos aos cidadãos paulistanos.

“A ordem do prefeito Haddad para todos nas reuniões é que não haja descontinuidade. Isso quer dizer que aquilo que a gente não puder de saída melhorar, piorar e descontinuar de jeito nenhum. O sentimento é de passar em revista o que tem e promover mudanças – seja no sentido de coisas que possam ser melhoradas, seja no sentido de alargar horizontes. Trazer novos projetos para a administração, ser criativo e impulsionar novos projetos. Esse é o espírito que a equipe tem.”

Para Nádia, a gestão começou com coerência com o Programa de Governo – principal instrumento para o enfrentamento da desigualdade em São Paulo ao longo dos próximos quatro anos.

“É um programa para um mandato e, talvez, até para mais de um mandato. Nada daquilo que acontece em um processo que vem se instituindo há décadas você resolve nos primeiros 10 dias de governo. Eu diria que qualquer planejamento e todas as primeiras ações que levam em conta essas diretrizes que tivemos no Programa de Governo. Essas diretrizes vão sendo cumpridas no fundamento de todas as ações. Diminuir a desigualdade é levar as oportunidades, o emprego e os polos de desenvolvimento para outras regiões da cidade. E ao mesmo tempo conseguir que o centro tenha também uma distribuição mais equilibrada de possibilidades e moradia.”

Já nos primeiros dias de governo, a Secretaria de Educação começou a procurar os terrenos para a construção de creches. “À medida que um grande número de creches está perto de onde as pessoas moram e precisam deixar seus filhos a gente vai diminuindo um pouco essa desigualdade.”

“O que tínhamos que mostrar para a cidade sobre o que vamos fazer foi apresentado no nosso Programa de Governo. O Bilhete Único Mensal já está em discussão, em estudo de viabilização e ele vai acontecer. Todas as coisas que falamos estão começando a ser alinhadas. A gestão está colocando em andamento praticamente todas as ações fundamentais com as quais ela se comprometeu. Também vamos dar conta das coisas do cotidiano e das urgências da melhor forma possível – que nesses primeiros meses são enfrentar enchentes, retomar o ano letivo, organizar o Carnaval.”

Descentralização do desenvolvimento

A descentralização do desenvolvimento da capital é uma das diretrizes para a diminuição da desigualdade. Segundo Nádia, a proposta é abrir novos projetos em outras regiões da cidade, como o polo da Zona Leste.

“Quando isso estiver plenamente em funcionamento a geração de empregos e oportunidades será grande. Quem mora na Zona Leste já não terá uma diferença tão grande nas condições de moradia, trabalho e lazer de outras regiões da cidade. São processos que mexem com projetos de vulto, de desenvolvimento urbano e isso demora um pouco mais para fazer.”

Dívida da Prefeitura

Outro tema que permeia os principais debates da Prefeitura é a renegociação da dívida do município com o governo federal. Durante seu discurso de posse, Haddad afirmou que São Paulo não pode conviver com “uma dívida que é 200% da nossa arrecadação e que compromete toda a capacidade de investimento”.

Nádia criticou o índice de investimento per capita na capital que, de acordo com ela, representa a metade do valor aplicado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. “São Paulo é uma cidade gigante, quase um estado. E os recursos disponíveis são muito aquém daquilo que precisa – seja por conta do pagamento da dívida, seja porque os investimentos federais em São Paulo foram muito menores do que os de outras cidades.”

Um dos objetivos da gestão é dobrar esses investimentos ao longo dos próximos quatro anos. “A cidade que mais recebe gente é a que menos tem investimentos. Isso é um contrasenso. Esse impulso de elevar São Paulo a um outro patamar de investimento social, urbano e de desenvolvimento urbano é a grande tarefa da gestão. Se não transformarmos São Paulo em um centro onde se investe muito mais, com caminhos de desenvolvimento urbano e econômico muito mais fortes e com um programa social arrojado não vamos conseguir diminuir a desigualdade.”

Integração

Na segunda-feira (7), Haddad instituiu, através de decreto, cinco Comitês Integrados de Gestão Governamental (CiGG), com o objetivo de articular as secretarias municipais, além de “identificar, implantar e supervisionar atividades, projetos e programas que demandem a participação de mais de um órgão ou atividade da Administração Pública Municipal”.

“Outra coisa que será uma força da gestão é o trabalho integrado. Todos os secretários, principalmente aqueles que trabalham aqui na sede do governo, procuram fazer coisas com sinergia e conduzir processos em conjunto. Trabalhar como um time, como uma gestão única. E não cada um pensando apenas naquilo que tem que fazer e na sua área. Começamos trabalhando muito.”

Além dos comitês permanentes, eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a campanha de São Paulo para sediar a Expo 2020, exposição mundial de projetos urbanos, também irão depender de um trabalho extraordinário de integração. Ambos os eventos serão coordenados pela vice-prefeita. “A Copa do Mundo é apenas no ano que vem, mas todas as ações já têm que ser previstas e incrementadas agora.”

Nádia explica que a atual gestão optou por substituir o antigo formato da Secretaria Especial da Copa em São Paulo (Secopa) – que ainda era um Projeto de Lei que deveria ser votado pela Câmara Municipal – por um Comitê Governamental de Gestão Integrada Extraordinário das Ações da Copa que irá terminar em 2014.

Na semana passada, Nádia manteve reuniões com o COL (Comitê Organizador Local da Copa), a CBF, o Corinthians, a Secretaria Estadual de Esporte e outros órgãos envolvidos na realização do evento.

“Temos que mostrar rapidamente algumas alterações de gestão que iremos fazer, mas sem nenhuma descontinuidade nos compromissos. Também já estamos dando andamento à candidatura de São Paulo para a Expo 2020 que é um projeto de desenvolvimento muito grande. Se conquistarmos será uma coisa extraordinária para a cidade e vai abrir um campo de desenvolvimento humano, econômico e social enorme. Estamos investindo nisso como um projeto estratégico.”

Alianças

A vice-prefeita comentou também a aliança política formada em São Paulo para as eleições de 2012 – composta originalmente pelo PT, PCdoB, PSB e PP. Ela afirma que o Programa de Governo reflete conceitos e compromissos das principais forças e partidos que constituíram essa aliança e que, atualmente, recebe ainda a adesão do PMDB e do PV.

“Nosso programa de governo claramente propôs uma ampla aproximação e apoio com o governo federal e com as linhas de desenvolvimento propostas pelo governo da presidenta Dilma Rousseff. Todos sabem que quando votaram no Haddad, optaram por uma proposta que está alinhada com o Projeto Nacional de Desenvolvimento encabeçado primeiro pelo ex-presidente Lula e pela Dilma.”

“Eu diria também que dentro de alguns partidos existe um conceito mais avançado e estratégico de sociedade. O Fernando Haddad sempre disse que ele tem um compromisso, um ideal de uma sociedade diferente assim como nós do PCdoB temos claramente – através do Programa do Partido. Do ponto de vista da nossa intervenção mais geral, da nossa luta mais geral, inclusive não apenas como gestores da Prefeitura, mas como cidadãos que têm uma trajetória política.”

PCdoB

Nádia explica que a que a atuação do PCdoB, através da Prefeitura de SP, pode contribuir para o crescimento do Partido na capital e no restante do estado de São Paulo. “Claro que o PCdoB, o PT, o PSB e os demais partidos que estão na administração, se governarem corretamente, vão crescer, ampliar sua experiência e, sobretudo, a relação com a população. Os bônus para o Partido virão à medida que essa gestão cumpra o seu programa de governo e mostre para a população que esta foi uma boa escolha.”