Recife: um guia para visitar a história e não esquecê-la

"O Recife é uma cidade recatada. Não se exibe. Não se mostra. Retrai-se. Contrai-se. Esconde-se, até, dos olhos dos estranhos", descreveu o sociólogo Gilberto Freyre, com conhecimento de causa. E é para desvendar essa cidade que se deixa conquistar aos poucos que foi lançado o livro Recife Lugar de Memória, dos escritores Plínio Santos Filho, Malthus Oliveira de Queiroz e Sidney Rocha.

Por Joana Rozowykwiat

Rua da Aurora

 A publicação, disponível por enquanto em versão digital, é mais que um guia turístico, é um documento com valor histórico, que revela a cidade a partir desses lugares de memória, marcados pela luta contra a violência, a opressão e a supressão de direitos. Trata-se de um roteiro dos recantos em que os pernambucanos resistiram e brigaram por liberdade, democracia e justiça social. Afinal, como escreveu Carlos Pena Filho, "é dos sonhos dos homens que uma cidade se inventa”.

O livro propõe então um passeio por locais, fatos e personagens que marcam a história dos direitos humanos num Recife de revoluções libertárias. Com o olhar voltado para a disseminação e preservação da história, a obra tem um formato de guia de visitação, com roteiros selecionados para serem percorridos a pé, de carro mesmo de bicicleta. A ideia é descobrir a cidade sem pressa, já que o Recife, dizia Gilberto Freyre, "prefere namorados sentimentais a admiradores imediatos". 

Resultado de uma parceria entre a Prefeitura da Cidade do Recife e a Agência de Estudos e Restauro do Patrimônio (Aerpa), com financiamento do Ministério da Justiça, o guia é dividido em quatro rotas: a Rota do Açúcar, que explora locais e memórias remanescentes da época do "ouro branco" e da escravidão no Recife; a Rota dos Holandeses, época decisiva para a formação do Recife e do ideal da nacionalidade brasileira; a Rota das Revoluções de 1817 e 1824, movimentos que refletem o desejo de estabelecer uma república no Brasil; e a Rota da Ditadura de 1964, uma ferida ainda aberta na história da democracia brasileira. São referências que marcaram de maneira contundente a trajetória e a identidade da cidade, com reflexos ainda nos dias atuais.

Para a secretária de Direitos Humanos da Prefeitura, Amparo Araújo, um povo sem memória não tem identidade. ”Não podemos analisar a história contemporânea sem ter um olhar para o passado. O guia é voltado para um público mais específico, que tem um olhar sobre a história. Nós estamos inseridos no conceito da Coalizão Internacional de Sítios de Consciência, e também preservamos a tese ‘Para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça’, que adotam os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade”, disse Amparo, ao Portal da Prefeitura.

Em 104 páginas, o guia reúne fotos, documentos e muita informação, além de um mapa anexo. Fruto de muita pesquisa, passa por engenhos, museus, parques, fortes e igrejas, para falar de gente como Joaquim Nabuco, Maurício de Nassau, Frei Caneca, Miguel Arraes, Gregório Bezerra e D. Helder. Personagens de uma história que é do Recife – essa cidade "metade roubada ao mar, metade à imaginação"-, mas também do Brasil.

Confira o guia turístico Recife Lugar de Memória no link: http://www.restaurabr.org/rlm.pdf