Rússia e Europa firmam acordo para a exploração de Marte

Proposta de acordo prevê que os europeus construam a sonda orbital TGO (Trace Gas Orbiter), que será lançada em 2018 e cuja principal função será o estudo de constituintes da atmosfera de Marte, entre outras.

Por Andrêi Kisliakov, na Gazeta Russa

Os europeus devem também construir um módulo de pouso. A parte russa se compromete a construir equipamento científico para a sonda orbital e a oferecer um veículo lançador Proton-M, que será lançado a partir de base de Baikonur, no Cazaquistão.

O Conselho da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) aprovou a proposta de acordo com a Agência Espacial Russa (Roskosmos) para a realização de trabalhos conjuntos no âmbito da missão à Marte ExoMars. O principal objetivo da missão é a busca de possíveis fontes de vida no planeta vermelho.

"Os trabalhos no âmbito do projeto continuam", disse à imprensa o porta-voz da ESA, Franco Bonacina. "A assinatura desse acordo significa que a parte europeia está disposta a firmar o documento principal."

A proposta de acordo prevê que os europeus construam a sonda orbital TGO (Trace Gas Orbiter), que será lançada em 2018 e cuja principal função será o estudo de constituintes da atmosfera de Marte, entre outras. Os europeus devem também construir um módulo de pouso. A parte russa se compromete a construir equipamento científico para a sonda orbital e a oferecer um veículo lançador Proton-M, que será lançado a partir de base de Baikonur, no Cazaquistão.

Se tudo correr conforme o planejado, o Proton com a sonda marciana a bordo deve partir para o espaço em 2016.

A Rússia tem uma rica experiência de construção de equipamentos científicos para projetos internacionais. O carro marciano Curiosity, por exemplo, leva a bordo dez instrumentos científicos, entre os quais alguns de fabricação russa, com um peso total de 75 kg.

"A superfície marciana está coberta de poeira trazida por tempestades de poeira globais. Por isso, para encontrar áreas de interesse para o estudo de minerais e biomarcadores, é preciso ‘ver’ através da camada de poeira", explica Iúri Zaitsev, porta-voz do IPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) da Academia de Ciências da Rússia.

Essa missão é confiada ao equipamento russo DAN, construído por um dos laboratórios do IPE. O DAN instalado a bordo do carro marciano americano emite poderosos pulsos de nêutrons para sondar o solo marciano a uma profundidade de até 1 metro. Pelo feixe de nêutrons refletido pelo material em análise pode-se saber se ele contém hidrogênio, que faz parte das moléculas de água. Portanto, os dados obtidos pelo DAN permitirão aos cientistas avaliar o teor de água no solo marciano e prospectar áreas de interesse para os estudos com alto teor de água em minerais. Essas áreas despertam especial interesse em termos de busca de sinais de vida.

O equipamento Hand, antecessor do DAN e também de autoria do IPE, passou 10 anos a bordo do satélite americano Mars Odyssey.

Também na Lua

Mas não é só em Marte que o equipamento russo resolve importantes problemas científicos. A sonda americana LRO (Lunar Reconnaissance Orbiter), lançada no outono de 2009, provou que a Lua tem água, ainda que sob a forma de gelo. A descoberta foi feita pelo detector de nêutrons russo LEND (Lunar Exploration Neutron Detector), também construído pelo IPE. A maior concentração de água foi encontrada no polo sul, disse o chefe de laboratório do IPE, Ígor Mitrofanov.

"O detector capta nêutrons, que são muito sensíveis à presença de água, à distância. Quanto menor o número de nêutrons e menor sua energia, maior é a quantidade de água no local em análise", diz o jovem cientista Maksim Mokrousov, autor do detector ao lado de Anton Sanin. "Nos polos da Lua, há crateras com água condensada. Não é água ou gelo propriamente ditos, mas uma espécie de areia molhada, de onde é necessário extrair a água."

A presença da água na Lua pode corrigir muito os planos de estudos espaciais.

"Verificamos que o teor de água no solo lunar chega a 10%. Não será difícil extraí-la", diz Mokrousov.

"Isso é necessário à exploração de Marte, que é mais parecido com a Terra. O planeta vermelho tem um clima mais frio e uma atmosfera diferente, mas isso não é problema, vamos corrigi-lo. Afinal, a Terra tem uma atmosfera porque tem a vida e não vice-versa. Se levarmos para Marte microorganismos semelhantes, também haverá uma atmosfera lá. Se a água não tivesse sido encontrada na Lua, as missões marcianas deveriam seguir diretamente para Marte sem escala. Uma viagem até Marte demora 9 meses, portanto, devemos tentar prever tudo. A Lua, que fica a 4 dias de voo, tem condições demasiadamente duras para que se viva lá, podendo, porém, ser transformada em um campo de testes para as missões marcianas", completa Mokrousov.

Em três anos, será dada a largada a um projeto russo-europeu de exploração da Lua por meio de sondas Luna-Resurs e Luna-Glob.

"Pelo que sabemos, a Roskosmos está se preparando para lançar um projeto em grande escala de estudo da superfície lunar. A Europa e a Alemanha, em particular, estão muito interessadas em participar desse projeto promissor", disse o presidente do Conselho de Administração do Centro Aeroespacial Alemão, Johann-Dietrich Wörner.