Mário Magalhães: "Marighella é um gigante da História"

O jornalista carioca Mário Magalhães está em Salvador para o lançamento do livro “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras), uma biografia sobre a vida do guerrilheiro comunista, morto em 1969, durante a Ditadura Militar (1964-1985). O primeiro encontro com o público baiano aconteceu na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na manhã desta terça-feira (4/12).

Com duração de nove anos (2003/2012), a pesquisa do jornalista reuniu documentos e mais de 200 entrevistas que recontam a trajetória de Marighella, com o objetivo de incluí-lo como protagonista das lutas no país pelo fim do regime militar. Para o autor, há uma tentativa de excluir o comunista e a sua participação nos movimentos de libertação da História do Brasil.

“A História Oficial tentou eliminar os rastros de Marighella, rastros esses que já vinham sendo apagados por ele próprio para se manter vivo. Ele é o político baiano de maior projeção internacional de todos os tempos e o seu reconhecimento ainda é maior lá fora do que aqui. Meus filhos, por exemplo, nunca ouviram falar dele na escola. Isso é um crime intelectual”, conta.

Novidades

Dentre as principais novidades trazidas pelo autor para a história do guerrilheiro, está a confirmação de que Marighella não trocou tiros com os militares que o assassinaram, durante uma emboscada, como foi noticiado na época. Magalhães entrevistou os policiais vivos que participaram da operação e eles confirmaram que o baiano sequer estava armado.

“Apurar a morte dele foi muito difícil porque todas as versões, os jornais da época, todos eram unânimes: Marighella estava armado e enfrentou os policiais, mas eu sempre desconfiei”, acrescenta.

Além disso, o trabalho contesta a idade com que Marighella ingressou no Partido Comunista, a partir de uma autobiografia escrita em castelhano que o jornalista teve acesso. No documento, o comunista afirma ter se filiado ao partido aos 23 anos, em 1934, e não aos 18, como é costumeiramente divulgado.

Lições

O autor contou que biografar o baiano foi uma das experiências mais fantásticas de sua vida e que, dificilmente, escreverá a história de outra pessoa, pela marca que Marighella deixou nele. “A história dele é muito mais fascinante do que qualquer fantasia. Ele era um mito vivo e hoje é um gigante da História”, defende.

Outros encontros

Além do encontro com na UFBA, Mário Magalhães ainda participa, nesta terça, de uma cerimônia de entrega de todo o material de pesquisa reunido por ele à família do guerrilheiro, às 18h30, na Livraria Cultura do Salvador Shopping. Logo após, o jornalista realiza uma segunda sessão de lançamento do livro, que acontece no mesmo local.

Todo o material recebido pela família vai compor o acervo da Fundação Marighella, instituição que deverá ser instalada no Estado com o objetivo de preservar a memória do comunista, ainda sem data definida para início do funcionamento.

De Salvador,
Erikson Walla