Cúpula do Mercosul debate direito à memória e justiça 

A representante da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) Graciela Rodriguez abriu a mesa temática de direitos humanos da Cúpula Social do Mercosul comemorando a inauguração da Comissão Nacional da Verdade brasileira, em maio. Ela também ressaltou a importância destes órgãos nos outros países do Mercosul, centrais para a construção da democracia na região.

Em seguida, Heloísa Starling, professora de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou um projeto multimídia sobre os mortos e desaparecidos da ditadura militar brasileira, baseado no livro Direito à Verdade e à Memória, lançado em 2007. O projeto foi desenvolvido na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, antes mesmo da aprovação da Comissão da Verdade brasileira.


Leia também:
Cúpula Social do Mercosul discute papel da juventude
Ministros do Mercosul defendem cidadania e direitos sociais
Mercosul deve manter Paraguai suspenso do bloco
Aposentadoria de estrangeiro é tema da Cúpula Social do Mercosul

Ele conta a história de 375 personagens através de fotos, vídeos, músicas, fatos históricos e ambiente cultural da época. Também faz uma contextualização histórica, com eventos importantes na América Latina, como a Operação Condor, articulação de diferentes governos sul-americanos para reforçar a repressão às dissidências na época, ou o golpe de estado chileno, em 1973.

“Pela primeira vez, em 2007, se reconheceu que pessoas foram mortas ou houve desaparecimentos forçados por obra de agentes do Estado brasileiro durante a ditadura”, disse Heloísa. Para explicar o funcionamento do site, ela mostrou a história do guerrilheiro brasileiro Carlos Marighella, morto em 1969 por agentes do regime militar.

A coordenadora latino-americana do Serviço Paz e Justiça (Serpaj), Ana Juanche, falou sobre o processo de construção de uma comissão de investigação sobre os mortos e desaparecidos da ditadura uruguaia, sem se esquecer das críticas. “Este é um processo de disputas políticas. Não há nenhum mecanismo que obrigue os militares a declarar a verdade no Uruguai”, disse.

Assim como os regimes militares se instauraram quase simultaneamente nos países do Cone Sul nas décadas de 1970 e 1980, Ana também qualificou a impunidade dos criminosos desta época como um fenômeno regional. “Do México à Terra do Fogo, foi registrado um dos genocídios mais importantes da história da humanidade. E assim como a repressão, a impunidade é uma sequela desse processo que se instalou regionalmente”, disse.

A coordenadora do Serpaj também ressaltou uma nova situação em seu país em matéria de reconhecimento do direito à verdade, memória e justiça. “Com a chegada do presidente José Mujica ao poder, foi oficializado o processo de criação da comissão da verdade”, afirmou.

Os debates dos grupos temáticos continuarão pela tarde desta quarta-feira (5). 

Fonte: Site da Cúpula Social do Mercosul