Estudo aponta setores que o DF precisa desenvolver

O Distrito Federal tem enorme potencial para se desenvolver. Possui mão de obra de grande nível educacional (leia mais na […]

O Distrito Federal tem enorme potencial para se desenvolver. Possui mão de obra de grande nível educacional (leia mais na página 9), a maior renda per capita do país e uma localização geográfica privilegiada, na área central do Brasil e da maioria dos países da América do Sul. Por outro lado, sua infraestrutura urbana encontra-se congestionada e a economia centraliza-se na área central, responsável por 69% dos postos de trabalho. Além disso, crescem os indicadores econômicos negativos de boa parte dos 22 municípios que formam, com Brasília, a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do DF (Ride-DF).

Presidente da Companhia de Desenvolvimento e Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), o economista Júlio Miragaya é o responsável pela produção dos dados estatísticos que embasam os programas de governo. Ele enfrenta dificuldades. As informações disponíveis sobre o DF são confiáveis, mas não há qualquer dado sobre os municípios do Entorno. “É gente que trabalha, estuda e usa os serviços de saúde daqui, sobre a qual não temos a menor ideia de quanto ganha e se tem emprego.”

A verdade é que a área metropolitana é a maior fonte de preocupação para o Distrito Federal. Estima-se que 800 mil pessoas saem diariamente das cidades vizinhas de Goiás rumo a Brasília, boa parte em busca de emprego. Esse movimento afeta a mobilidade urbana da capital da República e dificulta o fluxo de mercadorias interestadual.

Além disso, os índices de violência na periferia explodem. “Há dez anos”, afirma Miragaya, “a grande preocupação das autoridades federais em termos de segurança pública era a Baixada Fluminense. Hoje, o foco de atenção voltou-se para o Entorno, que está sob a guarda da Força Nacional de Segurança.” Segundo o presidente da Codeplan, “o problema do narcotráfico impõe desafios sobre Brasília e o aumento de sequestros relâmpagos é uma das consequências disso.”

O desemprego afeta 12,9% da população da capital brasileira. De uma maneira geral, há um padrão. O Plano Piloto, o Park Way, o Sudoeste, a Octogonal e os lagos Norte e Sul apresentam altíssimo nível de renda (veja quadro ao lado). Essa relação é inversamente proporcional à distância da moradia em relação à área central. “Há uma força centrípeta que expulsa os mais pobres para a periferia”, diz o economista. “Além disso, quanto mais longe das áreas nobres, maior é o índice de desemprego. Estima-se que, em algumas cidades do Entorno, chegue a 30%.”

Dependência

Segundo o presidente da Codeplan, a matriz produtiva de Brasília é extremamente dependente do setor público. Quase metade do PIB de Brasília, equivalente a R$ 140 bilhões, é oriundo de recursos vindos direta ou indiretamente dos governos federal e distrital. “Há uma excessiva dependência e isso é danoso a longo prazo. Precisamos diversificar nossa economia.”

Para isso, a Codeplan trabalha com uma hipótese polêmica na preparação do Segundo Programa Especial da Região Geoeconômica de Brasília (Pergeb II): a ampliação do número de indústrias Segundo Júlio Miragaya, o setor de transformação é o que apresen ta maior potencial de crescimento. Atualmente, o setor industrial gera 195.533 empregos, de acordo com estatísticas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A maior parte desse total gerada, cerca de 80%, oferecida por pequenas e microempresas. A participação no PIB de Brasília é pequena: 6,58%.

Ele reconhece que há dificuldades a superar. “Temos problemas energéticos, o que produzimos mal supre a demanda residencial atual”, ressalta. “Uma das empresas que se instalou no Polo JK teve de instalar grupos geradores e produzir sua própria eletricidade para garantir um suprimento confiável.”

Além disso, segundo Miragaya, há um gargalo logístico: “Possuímos apenas uma saída ferroviária para o Porto de Santos e seria necessário integrar-nos à Rede Norte-Sul, que interliga Anápolis ao Porto de Itaqui, no Maranhão. São obstáculos perfeitamente ultrapassáveis.”

O Pergeb II também defenderá a criação de um a zona de desenvolvimento industrial em 10 dos 22 municípios da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF). “Precisamos gerar um cinturão de riqueza em torno de Brasília, capaz de gerar empregos para diminuir a pressão sobre o DF”, afirma Miragaya.

Audácia

O presidente da Codeplan defende uma ação agressiva e conjunta do governo do Distrito Federal e da opinião pública. Segundo ele, essa foi a receita para que um novo gasoduto chegasse a Uberlândia. “Necessitamos com urgência de fontes de energia. Lá, a população e os governos municipal e de Minas Gerais se uniram para que a cidade fizesse parte da rota”, lembrou. “No futuro, deverá chegar até aqui, oferecendo uma fonte limpa e confiável de energia, mas não temos previsão de quando isso ocorrerá.”

Pa ra o economista, receitas usadas no passado mostraram-se infrutíferas. “Não devemos distribuir terrenos”, acentua. “A maioria das vezes que isso ocorreu, a destinação foi alterada e deixou de cumprir o objetivo inicial, como no Polo de Moda do Guará e nos setores de oficinas. Além disso, não há mais, legalmente, como oferecer incentivos fiscais.”

A resposta estaria em mão de obra qualificada e segurança jurídica. “Foi a receita usada por Goiás para atrair a Hyundai”, disse Miragaya. “Só para dar uma ideia do tamanho do investimento, a área da fábrica é duas vezes maior que a do Polo JK.” Ele reconhece o desempenho do agronegócio na matriz produtiva do DF, mas afirma que ela perde escala diante do gigantismo do setor público.

“O secretário de Agricultura, Lúcio Valadão, reclamou que com uma produção equivalente a US$ 1 bilhão sua participação no PIB do DF era extremamente baixa”, conta o presidente da Cod eplan. “Reconheci que é um senhor desempenho, superior a Rio Verde (GO). Temos o 10º maior polo do país. E precisamos nos orgulhar disso, mas ele fica pequeno quando confrontado com o volume de investimento da União aqui. Brincando, disse que precisava reclamar com o governo federal.”