Sorrentino: nossa luta é pelo Projeto Nacional de Desenvolvimento

Em 2012, tivemos um bom resultado do projeto eleitoral. O desempenho eleitoral depende do lugar político que ocupamos, e quanto a isso estamos em amplo consenso de que estamos bem situados. Resta-nos aprofundar o caminho da luta pelo novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, dar-lhe um novo impulso.

Por Walter Sorrentino*

Mas eleições têm seu caráter político próprio. A acumulação é um caminho progressivo e disputado. Prevalecem relações de força, mais que de confiança, entre os partidos da base, mesmo à esquerda, com PT e PSB. O essencial é apresentar-se. Sem o projeto relativamente mais ofensivo que adotamos, sairíamos gradativamente da cena política. Convencemos de que buscávamos um caminho de afirmação própria: maioria das capitais com projeto 65.

Os resultados relativos alcançados são marcantes quanto à progressão, os resultados absolutos são modestos. Politicamente, destaque para SP e São Luis, além de Recife e Olinda, Contagem, Jundiaí e Belford Roxo. Revezes eleitorais (Florianópolis e Manaus), algumas opções questionáveis (Fortaleza), insuficiências de vereadores de capitais foram marcas desse processo.

Continuamos entre a 10ª e 15ª força partidária nesse tipo de eleição. Serão 6 prefeituras grandes, governaremos para 2,3 milhões de pessoas, e a soma dessas cidades com 5 bilhões de orçamento. Foram 62% a mais de vereadores, sendo 62% a mais em cidades com mais de 200 mil e 104% a mais em cidades com mais de 100 mil. Significativo é o foco perseguido. São 304 cidades-pólos no país, em geral com mais de 100 mil habitantes, e representam 54% da população. O 7º Encontro foi baseado nelas. Temos Comitês Municipais em todos esses 304 municípios, desses 296 fizeram convenções eleitorais. Tivemos 28 cidades com candidaturas a prefeito pelo partido, elegemos 6. Em 97 delas elegemos vereadores, num total de 141 vagas. Elegemos prefeito apoiado pelo partido em 140 no total, praticamente 50% delas. É aí que reside e precisa residir, mais e mais, a força maior do PCdoB.

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Foram resultados alcançados no âmbito muito favorável para a base de Dilma, sobretudo à esquerda. Dilma está fortalecida à reeleição, dependendo também da evolução econômica no país. Lula é o maior vitorioso, ao lado de mais algumas importantes lideranças como Haddad e Eduardo Campos.

A luta política eleitoral foi faceta da luta política mais geral no país. Aí surge a grande liderança de Lula, a força do governo Dilma, as saídas econômicas avançadas mais para a crise ser aproveitada como oportunidade, a própria luta política-ideológica que envolveu o julgamento no STF. Na verdade, em meio às vitórias e avanços, nos impingiram uma derrota política-ideológica importante, revelando o quanto é complexa essa luta. A luta pela reforma política do financiamento público e a regulamentação do poder da mídia mantém e crescem em importância nesta realidade.

Nosso vértice é 2014, e é Dilma até onde a vista alcança, com Lula e – nessa medida – com PT. Objetivamente o PT é a principal força hoje. Com ele há relações de confiança política, mas prevalecem relações de força próprias da realidade política.

Essencialmente, 2014 é para avançar nossos caminhos de acumulação. Antes de tudo, reeleger Dilma. Mas há condições objetivas para alcançar o marco de 20 federais – fator decisivo da afirmação de caminhos próprios de acumulação. Devemos nos concentrar em criar essas condições. Reeleger os atuais, digamos, e buscar por em teste SC, MA, GO, AM; elevar mais um federal em SP, RJ, MG, BA e PE e, ainda, examinar CE e DF. Fora isso, concentrar-se em conquistar um governo (MA). Não dispersar tanto, talvez. Os demais não perdem em eleger de fato estaduais, ultrapassar os atuais marcos já cristalizados.

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Há exames de fundo a fazer no balanço eleitoral, e aguardamos os pareceres estaduais. Não tivemos um acompanhamento central sistemático, porque estava além das forças da direção nacional. Até o momento, entretanto, uma pista de desenvolvimento da linha partidária político-organizativa surge e é necessário debater desde já, tendo em vista que 2013 é ano de congresso partidário.

A força eleitoral do partido é, todavia, restrita. Este não é um tempo em que os comunistas possam ter hegemonia sobre grandes processos transformadores, menos ainda quando são centrados nos processos eleitorais. Viragens políticas podem acontecer, com o aprofundamento da luta por novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Todavia, poderiam ocorrer ao contrário.

Se entrarmos na disputa num campo maior de força e protagonismo, precisamos acumular condições, passo a passo, eleição a eleição. Cada vez menos haverão atalhos para essa acumulação. O partido não tem redutos eleitorais em geral, e em especial nas capitais como se viu, por exemplo, no RJ e SP. Os antigos redutos ficaram limitados em termos de produto eleitoral. Os novos redutos não surgiram, mas podem se beneficiar com as prefeituras conquistadas. Por isso, a acumulação eleitoral refletirá a correção da linha política, a habilidade em conduzi-la, mas também as relações com o povo e a construção do partido forte em suas bases. É necessário penetrar mais fundo nas relações sociais e também com os movimentos sociais. Em suma, uma boa política, com a condição de que ela alcance grandes camadas do povo concretamente, ligando os grandes temas nacionais anseio delas por uma vida melhor e com isso construir uma grande força partidária na base. É uma exigência política, essa. Mas também uma exigência do que somos, do que queremos ser, de nosso propósito de não abrir mão dos fundamentos de ser comunista para tempos mais avançados.

É preciso um movimento de revigoramento partidário com tudo que isso implica, a começar por empenhar mais energia ideológica, mais capacitação política dos quadros médios, mais intervenção social de todo o partido e mais forte empenho a partir da linha política-organizativa, em fortalecer as bases partidárias de todo tipo. Isso virá a beneficiar a atração de novas lideranças que ampliem nossas relações com o povo trabalhador. É preciso manter e fortalecer a política de abertura nesse sentido.

Os novos desenvolvimentos políticos-organizativos

1) Revivificar inserções e relações sociais mais amplas e profundas, relações com o povo, servir mais ao povo. Falamos em aproveitar a abertura do partido a novas lideranças para isso, é certo, como também, principalmente, disputar eleições majoritárias – isso é o que mais imediatamente dá identidade ao partido no campo de forças políticas. Mas é preciso revivificar inserções. Não bastam, para a disputa eleitoral, as bases de inserção nos movimentos sociais ou mesmo os tradicionais comitês distritais e de empresas. A sociedade é dinâmica e há uma despolitização rasa e pragmática nas disputas, mas novas formas de disputa e politização acabam por surgir. O caso em SP, por exemplo, é emblemático: difícil dizer que foi disputa despolitizada; o partido esteve bem situado politicamente, mas em meio a poderosa disputa com PT, que domina o “maquinário” da identidade social com o povo, à esquerda. Não logrou, entretanto eleger vereador o Jamil Murad. Para além das considerações meramente eleitorais é um problema do Partido! O mesmo no Rio de Janeiro. E, por outras circunstâncias, em Manaus.

2) Uma pista para o debate: é preciso constituir movimentos políticos, manter os tradicionais, mas constituir novos, e capitalizar para isso as intersecções e reforços mútuos entre: 1) políticas e gestão públicas; 2) alavancas dos movimentos sociais; 3) mandatos; 4) bandeiras políticas gerais. Isso dando ensejo a bandeiras concretas em cada situação, mais próximas da realidade do povo. Um exemplo entre outros, a refletir estrategicamente é a questão da educação: 10% do pré-sal, governos municipais, mandatos, mobilização popular com UNE, UJS, UBES, e uma rede de base para mobilizar no partido. Enfim, temos trunfos estratégicos nisso. São “campanhas” partidárias, com bandeiras mais próximas do cotidiano do povo.

É o caminho, também, para constituir novos redutos eleitorais. Conferem identidades mais tangíveis perante o povo à luta do PCdoB e serão aproveitadas em candidaturas futuras.

3) Em ligação com isso, conferir expressões organizativas a esse movimento, de forma a aprofundar a atual linha quanto à constituição de bases mais amplas e fortes. Se tivermos uma rede de mobilização social em torno de bandeiras e movimentos, fica mais claro o papel das organizações de bases (OBs), e fica mais fácil organizá-las para a luta. Ao mesmo tempo, isso carece de comando de Comitês Municipais (CMs) com expressão mais elevada quanto à capacidade política, organizativa e firmeza nos propósitos do PCdoB. Isso implica em manter no foco os Comitês Municipais dos maiores municípios, e devem ser reforçadas duas condições: fazê-los voltarem-se mais para as bases e relações renovadas com o povo e ser movimento de toda a direção, não apenas organizativo, mas político-organizativo. Porque a tarefa de fortalecer as OBs recai sobre o estrato médio dos quadros, sem suficiente estímulo e apoio do conjunto das direções superiores, e essa foi a questão apontada como gargalo pelo 7º Encontro do Partido para que elas cheguem mais ao trabalho de base. E porque a questão de fortalecer os CMs é um movimento mais permanente, duradouro, que precisa de mais empenho das direções em geral. O nosso problema é Política de Quadros. Em ano de Congresso, isso se volta para os quadros nacionais, mas como manter a concentração nos quadros intermediários? Já reconheci que foram insuficientes os esforços de que somos capazes na Comissão Nacional de Organização (CNO). A questão permanece em aberto.

Consideração final: é fora de questão que isso diz respeito mais diretamente às capitais, mas não exclusivamente. E teremos um laboratório avançado nos 6 municípios maiores onde temos prefeitura, incluindo São Luis. Dá para fazer uma experiência vanguardeira nesses locais e manter o foco nas 304 cidades prioritárias.

Voltemos ao início: tudo vai amarrado por um projeto político e eleitoral para 2014 e 2016, ao lado da intervenção nas demais frentes da luta de ideias, tendo por foco o aprofundamento do Projeto Nacional de Desenvolvimento, e na luta social em sustentação desse desígnio.

*Walter Sorrentino é secretário Nacional de Organização.

Fonte: Portal da Organização