Luciano Siqueira: Julio e Haddad, o que eles têm em comum?

Dois gestores públicos experimentados, reconhecidos apenas como quadros técnicos, protagonizaram vitórias espetaculares em São Paulo e no Recife: Fernando Haddad, do PT e Geraldo Julio, do PSB, recém-eleitos prefeitos de suas cidades.

Por Luciano Siqueira*

Além desse traço característico é possível listar mais de uma dezena de semelhanças entre eles – de militantes de partidos de esquerda ao fato de haverem iniciado a peleja com baixíssimos índices de intenção de votos, 3 e 4%, respetivamente.

Durante a campanha e após proclamados os resultados, muito se tem comentado sobre a vitória de Haddad e de Geraldo apontando elementos que compõem o perfil de ambos, assim como fatores que terão contribuído para que vencessem disputas dificílimas. Destaca-se que o apoio de Lula terá sido um trunfo decisivo para Haddad, assim como no Recife o envolvimento direto do governador Eduardo Campos terá contribuído de modo igualmente decisivo para a vitória de Geraldo. Lula e Eduardo são eleitores obviamente influentes nas duas cidades.

Dois elementos, entretanto, precisam ser ressaltados: o desempenho dos candidatos e a evolução da correlação de forças.

Por mais que se reúna uma frente ampla e potencialmente poderosa em torno de uma candidatura e, em certos casos, se desenhe um cenário favorável, nada substitui o papel do candidato a quem cabe o intransferível comando da empreitada. Ao longo de muitas campanhas para governador e prefeito da capital de Pernambuco, pude observar situações em que o comportamento sofrível do candidato agiu como fator de desagregação e enfraquecimento da campanha – e a derrota se tornou inevitável.

Vi também situações muito adversas, que se tornaram favoráveis mercê de um conjunto de fatores, destacadamente a performance do candidato – e a vitória foi alcançada.

À distância foi possível observar que Haddad cresceu muito durante a campanha. Tal como cá na província Geraldo Julio se converteu num líder político seguro, determinado e hábil, capaz de liderar ampla e avançada frente partidária e social, mantendo-a unida e coesa.

Quanto à correlação de forças, em geral analistas das mais variadas tendências a subestimam. Entretanto, é essencial e decisiva em toda e qualquer batalha – de uma simples e localizada luta corporativa à guerra entre nações.

De um estado inicial das forças litigantes até o final da disputa, um conjunto de variáveis atuam e é preciso tê-las em conta na orientação tática adotada. Pesam as tendências do eleitorado, que se alteram conforme o andar da luta; pesam fatores de desagregação ou de unidade ou de conquista de novos apoios. Pesam a definição precisa do alvo principal e, inclusive, a costura de alianças abertas ou veladas com concorrentes suscetíveis de serem neutralizados. O fato é que tanto na capital paulista como no Recife, a correta exploração dessas variáveis possibilitou uma extraordinária inversão da correlação de forças.

Ponto para a tática como alma da política – e para os que a manejam com firmeza, flexibilidade e competência na condução da guerra eleitoral.

*Deputado estadual (PCdoB-PE), vice-prefeito eleito do Recife.

Fonte: Brasil 247