Violência torna sombrio o panorama na Síria

Um intermitente canhoneio das forças governamentais durante grande parte da noite deste domingo contra áreas da periferia rural de Damasco, ilustra hoje a complexidade do panorama na Síria.

Por Luís Beatón, na Prensa Latina

Nos últimos meses, a grande afluência de mercenários estrangeiros, armados na Líbia, Afeganistão e Iraque e por países ocidentais, mais o apoio em armas sobretudo provenientes da Líbia e de mercados clandestinos, marcaram um ponto de inflexão na crise nesse país do Oriente Médio, na opinião de vários analistas.

A consumação desse apoio externo aos bandos, a chegada de armas mais sofisticadas, inclusive foguetes Stinger e Sam7, proporcionaram aos grupos mercenários um maior poder de fogo para enfrentar as tropas do Exército Árabe Sírio (EAS) que participam na ofensiva governamental.

Apesar das tentativas de atores externos como a Rússia, o Irã e a China, entre outros, de impulsionar um acordo entre sírios e o início do diálogo, a situação se deteriora, pois outros insistem em apoiar a revolta, enviar armas, proporcionar financiamento e inteligência aos mercenários e rebeldes, e solicitar a saída do presidente Bashar al-Assad, como condição para negociar.

Hoje ninguém se atreve a prever o desenlace da agressão contra a Síria, ainda que a maioria alerte sobre as implicações do conflito para toda a explosiva região do Oriente Médio, onde inclusive, até as monarquias que apoiam a revolta estão em perigo, e por conseguinte os mercados de gás e petróleo.

Igualmente, o impulso que países do Ocidente dão aos bandos armados também preocupa em muitas capitais europeias e inclusive em Washington. Há o temor de que um desenlace da situação na Síria seja aproveitado por grupos extremistas muçulmanos vinculados à rede Al-Qaeda para levar suas ações para fora da região.

Em semanas recentes aumentou a violência do conflito: há mais explosões terroristas na capital, violentos enfrentamentos em províncias e incessantes bombardeios de lugares onde há a presença dos bandos.

Isto indica uma escalada da crise, enquanto as gestões diplomáticas não avançam por falta de acordo entre as partes e a fratura existente entre os chamados opositores, muitos mercenários e outros sírios que estão há 20, 30 ou 40 anos fora do país, como assegurou recentemente a secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton.

As reuniões em Doha, Catar, impulsionadas por Washington, apontavam para essa falta de unidade entre as "forças rebeldes".Tais reuniões pretendem dar uma maquiagem às forças opositoras, com elementos que participam na revolta interna, pois estas forças não gozam do apoio de grande parte da população.

Washington espera que as forças contrárias ao governo do presidente Al-Assad cerrem fileiras e se convertam em uma opção para um diálogo ou consigam impor pela força uma mudança na Síria.

Atualmente, poucos se atrevem a prever até onde vai a crises e quais são as opções.

Em termos internos prossegue a ação dos esquadrões da morte, mais recentemente com o massacre de pelo menos 30 pessoas na cidade de Harem, província de Idleb, e de 28 prisioneiros na localidade de Saraqeb, e o governo recorre mais à aviação para enfrentar os bandos armados da oposição.

É evidente que a situação se complica mais a cada dia. O EAS ainda não emprega todo o seu armamento nem todas as forças contra os bandos armados, algo que poderia ocorrer como última opção, pero descuidaria da defesa do país contra uma potencial agressão externa.

Em linhas gerais, é assim que alguns comentaristas internacionais percebem o avanço da crise, mas sem se atreverem a fazer um prognóstico sobre onde estaria a solução.