Preconceito contra garis em Águas Claras

O calor era de 33ºC, ao meio-dia de ontem. Nesse horário, vestidas com espessos macacões alaranjados, 12 garis — todas mulheres, entre elas uma grávida de sete meses — capinavam os canteiros da Quadra 205 de Águas Claras sob o sol.

Pouco depois, no horário do almoço, procuraram refúgio na sombra do shopping Quartier Center, onde se reúnem para almoçar há mais de um ano, com autorização do condomínio.

Estavam em frente ao estacionamento quando a dona de um salão de beleza para crianças, Alzira Jurema Seara Couto, 67 anos, aproximou-se e disse que as garis deveriam se retirar porque estariam incomodando os clientes. A polícia acabou acionada e a lojista foi autuada em flagrante por injúria.

“Ela nos expulsou do prédio. Disse que estávamos incomodando os clientes enquanto dormíamos, mas já estávamos quase indo embora”, revela Silvia Maria Monteiro, 35 anos, moradora do Areal. A gari, casada e mãe de dois filhos, trabalha com limpeza urbana há menos de um mês. Ela estava acompanhada de Raimunda Umbelina, 44, e de Maria Gonçalves de Souza, 50, ambas casadas e mães de dois e três filhos, respectivamente.

“É a primeira vez que vivemos isso em Águas Claras. Trabalhamos debaixo de sol e só procuramos uma sombra para almoçar. Ela nos humilhou, disse que não devíamos estar lá, pois estávamos assustando as pessoas. Não dormimos, pois temos apenas 70 minutos de almoço”, afirmou Silvia Maria na 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), onde o caso foi registrado.