Marta Brandão: Desafios e caminhos para a saúde pública

Por *Marta Brandão

Vencedor de um pleito disputado voto a voto, o novo prefeito de Fortaleza, quinta maior capital do Brasil, deve governar para resolver questões que castigam nosso povo, entra gestão, sai gestão. Assim como educação e transporte público, a saúde, tão presente nas promessas de campanha política, precisa se concretizar como direito de todos e todas.

Observo a questão a partir de três ângulos – como mulher, trabalhadora da saúde e usuária do Sistema Única de Saúde (SUS) – e alguns desafios se apresentam nitidamente. Apesar dos cerca de 190 estabelecimentos de saúde públicos, os fortalezenses ainda enfrentam longas filas para o atendimento, demorada espera para a realização de exames, falta de vagas nos hospitais públicos e falta de medicamentos.

Fundamental para solucionar esses problemas é o cuidado com quem cuida da população, ou seja, os profissionais da saúde. O Sindsaúde (sindicato dos profissionais de nível médio da saúde) denuncia, há anos, a condição análoga à escravidão a que o Município de Fortaleza submete quase mil trabalhadores nos postos de saúde, Frotinhas e Gonzaguinhas.

São auxiliares de enfermagem/laboratório, maqueiros, porteiros, serviços gerais etc, que trabalham avulsos, recebendo menos de um salário mínimo do próprio hospital, sem direito à carteira assinada, férias, 13º salário, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e vale transporte. Como mulher, revolto-me ao saber que são mais de 300 companheiras privadas do direito à licença maternidade. Esse cenário já foi denunciado pelo Sindsaúde aos órgãos de fiscalização (Tribunal de Contas dos Municípios, Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Emprego), mas não há notícia de nenhuma providência concreta.

Muito nos preocupa ouvir promessas de construir mais e mais unidades – eco de determinado modelo político, por vezes, apenas um meio de se autopromover, inaugurando mais uma obra. Para que mesmo, se ali não há número suficiente de profissionais?

Uma solução óbvia e desejada seria a abertura de concursos públicos. Garantiriam os direitos negados aos terceirizados e avulsos e acabariam com apadrinhamentos políticos – deixando os profissionais reféns do jogo político, têm péssimo reflexo na qualidade do serviço.

Estaremos, como sempre, vigilantes e dispostos a contribuir com nossa experiência como trabalhadores para melhorias na saúde pública de Fortaleza. Que venham boas mudanças, nosso povo já está cansado de promessas.

*Marta Brandão é Secretária-geral do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará

Fonte: Jornal O Povo