Opositor de Rafael Correa quer ser o Capriles equatoriano

Guillermo Lasso, candidato a presidente do Equador, está aplicando uma estratégia similar à de Henrique Capriles para enfrentar o desafio de derrotar Rafael Correa. Banqueiro e membro do Opus Dei, ele mantém um discurso social onde a crítica ao “correismo” se alterna com propostas para manter parte do legado do regime.

Guillermo Lasso

Como Capriles, apela para uma imagem bíblica. Se o venezuelano dizia “nós temos que derrotar Golias e cada um de vocês é um David. Eu sou David, mas cada um de vocês é um David também”, o equatoriano assegura que “todo Golias tem seu David, que com um instrumento singelo e um tiro certeiro, venceu”.

Guillermo Lasso Mendoza lidera o Movimento Criando Oportunidades (CREIO) que o proclamou como o primeiro candidato à Presidência da República para as eleições de fevereiro de 2013. A quatro meses das eleições gerais no Equador, Lasso é o segundo candidato com mais intenção de voto, com 22%, bem longe de Rafael Correa, com 55%. Atrás se encontram o ex-presidente Lucio Gutiérrez, 8.8%; Alberto Acosta, 8.2%; o magnata Álvaro Noboa, 2.9%; e Abdalá Bucaram, 1.6%.

Uma ampla coalizão anticorreista

Lasso está em pleno processo de formar uma ampla aliança de forças de centro-direita e já está confirmado o voto do prefeito de Guayaquil, Jaime Nebot: “Não desqualifico nenhum outro candidato, de quem guardo consideração, mas pelas já citadas atitudes e pronunciamentos concretos, vou apoiar e votar por Lasso”.

Nebot arrasta consigo a aliança do Partido Social Cristão (PSC) com o movimento Madera de Guerrero, grupo de caráter provincial que ele lidera.

Ademais, cerca de vinte agrupamentos e políticos deram seu apoio ao candidato. Trata-se de partidos políticos que não conseguiram reinscrever-se no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), como uma facção da Esquerda Democrática (ID) ou Aliança Nacionalista (PAN). Movimentos habilitados, mas de caráter provincial, como Machete (Manabí) e Mudança (Tungurahua). E participantes da assembleia não filiados ou separados das filas do Prian, liderado por Álvaro Noboa.

Andrés Páez, um desses líderes que apoia Lasso, definiu os objetivos de todos estes grupos: “Esta é uma unidade que o país pede. Não tenhamos medo de dar a cara para o futuro… Os que estamos aqui, simplesmente queremos voltar a viver em paz, em democracia”, uma aliança onde não cabem os “correístas”, porque a aspiração é “recuperar o país de paz e unidade”.

Assim mesmo, conseguiu uma cota de apoio indígena, pois seu colega de fórmula como vice-presidente será Auki Tituaña, ex-prefeito de Cotacachi, um indígena kichwa dedicado a temas de descentralização e oriundo de Imbabura.

Guillermo Lasso, de 57 anos, baseia sua proposta para chegar a Carondelet no aumento do emprego, da segurança, fortalecer a democracia, defender a liberdade de expressão e lutar contra a corrupção.

Um banqueiro do Opus Dei

Tem uma proposta de alto conteúdo social com ideias como a de manter e melhorar o título de desenvolvimento humano e congelar o preço do gás. Acha que acabar com o título “seria um ato quase criminoso” e oferece continuar com a gratuidade da educação superior.

Seus pontos fracos, sua condição de banqueiro e de membro do Opus Dei, recebem dele esta resposta: “Para os que me dizem que fui banqueiro ou que sou membro do Opus Dei, com todo respeito, não tem cuidado comigo”.

Acusam-lhe de ter vinculação com a crise financeira de 1999 da qual ele se defende: “é uma campanha suja, é uma tentativa de assassinar minha reputação. É parte de um processo eleitoral dos quem têm esgotado as ideias, as propostas e estão preocupados em ver como minha candidatura avança nas pesquisas. Pretendem confundir”.

Ademais, acrescenta que “há uma acusação por uma foto na qual estou com o ex-presidente (Jamil) Mahuad, mas eu não tive nada a ver com o feriado bancário. Eu era governador de Guayas quando se adotou”.

O próprio Rafael Correa lembrou estes fatos como uma forma de deslegitimar o candidato: “indubitavelmente, assim quer tampar o sol com um dedo, o senhor Guillermo Lasso teve responsabilidade política no feriado bancário. Não venham me dizer que um banqueiro de sua magnitude, parte do governo de (Jamil) Mahuad, não sabia nada do feriado bancário. Não só isso, aceita o superministério de Economia, após congelar os depósitos, e renuncia dois dias antes que se declare a moratória da dívida externa, porque não estava de acordo que se deixasse de pagar a dívida”.

Outro de seus pontos frágeis é que esteve vinculado a esse governo de Jamil Mahuad como governador da província de Guayas.

Alguns analistas como Gonzalo Maldonado criticam a postura de Lasso de não levar a cabo um ataque frontal ao regime, pois já disse que subirá o Título de Desenvolvimento Humano (TDH) de US$ 35 para US$ 50 mensais: “duvido muito que Guillermo Lasso possa triunfar nas próximas eleições utilizando a mesma retórica que seu competidor mais forte, Rafael Correa. No baralho de ofertas, Correa tem chances de ganhar porque suas promessas são mais críveis do que as do resto, já que ele maneja os recursos públicos há cinco anos”.

Apoiado por parte do indigenismo (Tituaña), o centro-direita (Nebot) e o empresariado, Lasso alça-se como uma alternativa aos que tentam evitar um triunfo esmagador de Rafael Correa.

Com Infotalam