Farc: Justiça é a base para a paz justa e duradoura

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc-EP) e o governo iniciaram em 18 de outubro, em Oslo, Noruega, o diálogo voltado para o estabelecimento de um acordo de paz. Para as Farc-EP, trata-se de uma justa medida direcionada ao objetivo de conquistar uma paz democrática e justa. Para as oligarquias, o imperialismo e a mídia a seu serviço, é outra coisa, como demonstra o comunicado da Delegação de Paz das Farc-EP, que o Portal Vermelho divulga com exclusividade em português.

Depois de um período intenso de discussões sobre as injustiças que a Colômbia sofre, foi instalada a Mesa de Diálogos pela paz em Oslo, capital da Noruega.

Desde que o governo de Juan Manuel Santos buscou se aproximar, as Farc-EP reiteraram com toda a clareza ante seus representantes, as razões sociais e políticas do levante armado, indicando de forma transparente a necessidade de instaurar a plena justiça como base para
a paz estável e duradoura. Por isso insistiram na inclusão de um preâmbulo vinculante que encabeça o conjunto do chamado "Acordo Geral".

Na breve introdução está, nada mais e nada menos, que o espírito e o sentido que têm que ser dados ao conjunto do documento assinado pelas duas partes em Havana, para iniciar as discussões.

É necessário que ao interpretar a Agenda ou o conjunto do Acordo, compaciência e levando sempre em conta o fator de inspiração que são os anseios de justiça e de reconciliação do povo colombiano, optemos por não desconhecer seu contexto nem delimitá-lo com visões pessoais. Por exemplo, consta no Acordo a possibilidade de que outros atores da
confrontação política e social possam confluir ao processo em um momento determinado. É o caso de um tema transcendental como "as vítimas do conflito" que se encaixa perfeitamente dentro da forma literal do compromisso assinado na Capital de Cuba, forma literal que inclui,
sem dúvida alguma, o dever de abordar o terrorismo de Estado como fator essencial que está na raiz desse fenômeno.

Tomara que antes do 15 de novembro, data na qual se iniciam as sessões da Mesa, quem estiver elaborando o "Acordo Geral para o término do conflito e a construção de uma Paz estável e duradoura", tenha tempo e condições de oferecer uma explicação objetiva do Documento ao conjunto de suas equipes de trabalho. Isso é fundamental para que iniciemos com bom entendimento e para evitar que desde os porta-vozes das partes surjam mensagens que gerem confusão na população disposta a participar dos diálogos mediante suas diversas iniciativas.

Além da clareza dos porta-vozes relacionada com a Agenda, também se requer que a grande mídia faça um esforço por entender que estamos tratando de empreender um caminho que conduza à solução de um conflito que se tem prolongado por décadas. Ainda que sendo contra sua natureza mercantilizada e submissa aos interesses das transnacionais, achamos que devem se esforçar por transmitir com equilíbrio e veracidade suas informações. Até hoje e, de forma geral, têm-se dedicado a "informar" tirando as coisas de seu contexto real e, em seu lugar, passam a correr atrás, a qualquer custo, das notícias sem importância, ou a editá-las com ânimo de censura ou de distorção a respeito do ator insurgente.

A forma como a Rede de Rádio Colombiana Caracol e a Rede de Rádio Nacional transmitiram para toda a Colômbia, o evento da instalação dos Diálogos em Oslo, é uma mostra nauseabunda do que são essas empresas de difusão, que atuam em favor não dos interesses sociais, mas dos interesses capitalistas empresariais. Tendo o dever de informar sobre um processo que é de interesse nacional, impediram que o país escutasse os pontos de vista da insurgência.

Observamos, também, um lamentável contraste na instalação dos diálogos, que deve ser superado com urgência: dos 140 meios de comunicação presentes na instalação dos diálogos, havia só dois meios alternativos colombianos. Os dirigentes das Farc parabenizaram o seuesforço e expressaram a determinação de que daqui para frente serão atendidos de forma prioritária.

É urgente abrir um espaço verdadeiro, eficiente e oportuno, o canal público e os meios democráticos para que Colômbia tenha um conhecimento certo dos desenvolvimentos do processo, quer dizer, sobre tudo o que ocorra em Havana entre o governo e a insurgência e sobre o desenvolvimento da participação popular, especialmente.

A Agenda de Havana é breve mas profunda; seus propósitos não são formais, propõe objetivos de fundo. No discurso de instalação das Farc em Oslo, os aspectos tocados estão estritamente contemplados. A insurgência não tem agendas paralelas nem ocultas. Assim, terminado o momento da confidencialidade e da reserva própria da exploração inicial, entramos no tempo da participação cidadã, dos intercâmbios francos frente ao país, nos quais a discrição não podeser sinônimo de segredo.

A Delegação de Paz das Farc-EP