Joaquim Barbosa diz ter votado no PT e cobra 'mensalão tucano'

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que vem sendo ovacionado pela direita e pelo PIG – Partido da Imprensa Golpista – tornando-se, inclusive, capa de Veja desta semana, votou em Lula em 2002 e em 2006, e em Dilma em 2010 e diz não se arrepender. "Eu não me arrependo dos votos, não. As mudanças e avanços no Brasil nos últimos dez anos são inegáveis. Em 2010, votei na Dilma", declarou em entrevista à Folha de S. Paulo, no domingo (7).

Primeiro negro nomeado ao STF, por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, votou no PT mesmo já sendo relator do processo que ficou conhecido como mensalão.
Barbosa também revelou na entrevista que votou no ex-metalúrgico em 1989, contra Fernando Collor. Além disso, defendido o ex-presidente no exterior no início do seu primeiro mandato, quando havia um temor causado pela direita.

"Vou te confidenciar uma coisa, que o Lula talvez não saiba: devo ter sido um dos primeiros brasileiros a falar no exterior, em Los Angeles, do que viria a ser o governo dele. Havia pânico. Num seminário, desmistifiquei: 'Lula é um democrata, de um partido estabelecido. As credenciais democráticas dele são perfeitas'", diz Barbosa, que na semana passada indicou a condenação dos petistas José Dirceu e José Genoíno.

Forças anti-democráticas têm se apropriado da atuação do ministro para fazer um julgamento sumário, em praça pública, com o claro objetivo de detonar o PT e manchar a herança dos governos Lula e Dilma.

Joaquim Barbosa também comentou, o que já havia dito anteriormente, que o mensalão tucano (em Minas Gerais) não ganhou projeção nacional uma vez que a imprensa "nunca deu bola para o mensalão mineiro", ao contrário do que faz com o do PT. "São dois pesos e duas medidas", afirma.

O ministro acredita que a mídia, como as forças dominantes do país em geral, é racista e conservadora: "A imprensa brasileira é toda ela branca, conservadora. O empresariado, idem", diz. Para Barbosa, "todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos de pessoas brancas e conservadoras." O racismo se manifesta em "piadas, agressões mesmo".

Ainda sobre o mensalão do PSDB, o jornal questionou se diante de centenas de grandes escândalos de corrupção no Brasil, e de só o mensalão do PT ter chegado ao final, se é possível desconfiar que a máquina de investigação e punição só funcionou para este caso e agora será novamente desligada?

"Não acredito", diz Barbosa. "Haverá uma vigilância e uma cobrança maior do Supremo. Este julgamento tem potencial para proporcionar mudanças de cultura, política, jurídica. alguma mudança certamente virá."

Da redação com Folha de S. Paulo