Ato lembra os 20 anos do Massacre do Carandiru em SP 

A escadaria da Catedral da Sé, no centro da capital paulista, foi ocupada nesta terça-feira (2) por um grupo de manifestantes. Eles lembraram os 20 anos do Massacre do Carandiru. Segundo a Polícia Militar, cerca de 80 pessoas participaram do ato, organizado pela Rede 2 de Outubro com a participação da Pastoral Carcerária e do movimento Mães de Maio.

Na tarde de 2 de outubro de 1992, por volta das 14h, a dois dias das eleições municipais, dois detentos brigam no Pavilhão 9, na Casa de Detenção de São Paulo, um complexo penitenciário construído nos anos 20 no bairro do Carandiru, na zona norte de São Paulo. Foi o estopim de uma tragédia que deixou 111 detentos mortos, resultado da invasão da Polícia Militar (PM) que ocorreria pouco depois, e que ficou conhecida como o Massacre do Carandiru.

No início do ato, os manifestantes lembraram as mortes dos 111 presos com orações e um culto ecumênico. Depois, artistas e representantes de movimentos sociais marcaram o protesto com poesias, músicas e cartazes com frases: “Periferia contra o Encarceramento em Massa” e “Carandiru Nunca Mais”. Faixas estendidas na escadaria da catedral destacavam os nomes dos detentos executados.

Após o ato político e cultural, os manifestantes seguiram em caminhada até o prédio do Tribunal de Justiça de São Paulo, na Praça da Sé, e para a sede da Secretaria de Segurança Pública, também no centro da cidade.

“Esta é uma luta contra todos os massacres. De 1992 até hoje ocorreram vários massacres na periferia, em São Paulo, e também continua acontecendo [mortes] nas carceragens da polícia e no sistema prisional. Também estamos em uma luta contra o encarceramento em massa”, disse o padre Valdir Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária.

David Orestes, ex-detento do Pavilhão 9 do Carandiru, era uma das pessoas que acompanhavam a manifestação. David passou 20 anos de sua vida no presídio, entre 1974 e 1994, preso por assalto. Ele foi um dos sobreviventes do massacre. Hoje, trabalha em uma comunidade religiosa na cidade de Osasco e dá aulas de violão.

David disse para a Agência Brasil que a confusão ocorrida no Carandiru, naquele 2 de outubro de 1992, começou no pátio do Pavilhão 9 com uma briga entre dois detentos que pertenciam a grupos rivais. “Os ânimos venceram, e a confusão começou. Os presos que estavam nos andares começaram a bater nas grades, outros abananavam os lençóis, e foi um barulho muito grande. Os agentes [penitenciários] decidiram então avisar o diretor do presídio, dizendo que os presos estavam armados, mas eles não estavam. E preferiram chamar a tropa”, relatou.

“Atiraram em todo mundo. Fomos para os andares e veio então uma ordem para todo mundo tirar a roupa e descer para o pátio interno, novamente. Descemos todos correndo, rápido. Os que demoraram um pouco para descer da cela ou os que tropeçaram ou os que ficaram para trás ou os que tiveram menos sorte, morreram”. David sobreviveu “por sorte, acho, e também por não me expor muito”.

Na opinião dele, os responsáveis pelas mortes também deveriam cumprir pena, assim como ele cumpriu sua condenação por assalto. “Eu cumpri a minha pena totalmente. Sempre faço esta pergunta: qual é o perigo ou ameaça que tem um cara preso e despido a um homem que está com uma metralhadora? Vejo isso como uma grande injustiça. Quem mata é criminoso, não importa quem ele matou”, disse.

Pela manhã, manifestantes protestaram em frente à casa de Luiz Antonio Fleury Filho, governador de São Paulo na época do massacre. Procurados pela Agência Brasil, o Tribunal de Justiça e a Secretaria de Segurança Pública não se manifestaram sobre as manifestações. A reportagem também tentou ouvir o ex-governador, mas foi informada que ele não estava hoje em São Paulo.

Fonte: Agência Brasil