Dilma pede união de sul-americanos e árabes para reagir à crise

A presidenta Dilma Rousseff defendeu nesta terça-feira (2) a ampliação das parcerias entre os países sul-americanos e árabes como forma de reagir aos impactos da crise econômica internacional.

Dilma reiterou as críticas ao protecionismo dos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, que atinge a economia das nações em desenvolvimento. Ela também reclamou do que chamou de exportação da crise para o mundo.

“Os efeitos da crise econômica se propagam”, disse a presidenta, que foi a primeira chefe de Estado a discursar na 3ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo América do Sul-Países Árabes (Aspa), em Lima, no Peru.

“Um protecionismo disfarçado se impõe”, acrescentou, apelando aos presentes: “precisamos desenvolver nossa cooperação com bases solidárias”.

Dilma condenou os países desenvolvidos que sofrem de maneira mais intensa os efeitos da crise econômica internacional e que adotaram planos de austeridade na tentativa de conter os impactos e pagar as dívidas. Para a presidenta, essas medidas não são a solução para o que chamou de “desemprego galopante”, que afeta principalmente os países da zona do euro

“O futuro das nossas regiões depende da cooperação, educação e ciência”, ressaltou a presidenta, informando que essas parcerias levarão ao aumento da segurança alimentar e energética entre os países. “Não podemos nos conformar com o papel de meros exportadores de commodities, em um mundo cada vez mais interdependente.”

Energia nuclear pacífica

Dilma também apelou para que o programa nuclear do Irã tenha fins pacíficos e não de produção de armas, como vem garantindo o governo do país persa.

Os Estados Unidos e seus satélites têm pressionado a ONU e seus membros para que condenem e proíbam o Irã de ter acesso à tecnologia de enriquecimento de urânio, alegando que isso possibilitaria ao país persa a construção de armas nucleares, o que não é comprovado por nenhum relatório da Agência Internacional de Energia Atômica, organismo da ONU.

As autoridades iranianas informam que não há produção de armas no país, mesmo assim, o Irã é alvo de uma série de sanções econômicas, comerciais e financeiras promovidas pelos Estados Unidos e seus satélites.

Embora faça críticas às supostas dificuldades impostas pelo governo do Irã à fiscalização de seu programa nuclear, a AIEA informou recentemente que está em curso uma articulação para que um grupo de inspetores verifique as instalações nucleares iranianas nos próximos meses.

Dilma defendeu a criação de uma área de livre de armas nucleares. “[O Brasil] apoia uma iniciativa para uma zona livre de armas de destruição no Oriente Médio”, disse a presidenta, lembrando o ideal é a busca de soluções por meio do diálogo e da paz.

Dilma nega apoio a intervenção na Síria

Outro aspecto abordado pela presidenta Dilma na 3ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo América do Sul-Países Árabes foi sua posição contrária a qualquer possibilidade de intervenção militar externa nos países que sofrem algum tipo de conflito.

“[A solução] só poderá ser encontrada por eles próprios [os países em conflito]. Sabemos que o caminho desses países passa por eles”, disse a presidenta, em defesa da busca pelo diálogo e uma alternativa negociada.

“O mundo árabe vive profundas mudanças, que exprimem anseios universais, como [o desejo de] justiça social e liberdade”, disse a presidenta, lembrando que a história recente na América do Sul mostra que os países da região também viveram “processos semelhantes e luta política e inclusão social”.

Ao mencionar os episódios recentes de violência religiosa envolvendo muçulmanos e ataques a representações diplomáticas norte-americanas e de aliados, a presidenta disse que o Brasil repudia a intolerância. Nos últimos dias, várias representações diplomáticas foram atacadas por muçulmanos indignados com um filme anti-Islã, produzido nos Estados Unidos.

“Repudiamos todas as formas de intolerância religiosa, todas as manifestações de islamofobia”, disse a presidenta. Ela lembrou que o repúdio também é válido contra os ataques a representações norte-americanas, alemãs e britânicas.

Também estão presentes à cúpula os presidentes Juan Manuel Santos (Colômbia), que amanhã (3) vai se submeter a uma cirurgia para a retirada de um tumor maligno na próstata, Rafael Correa (Equador) e Evo Morales (Bolívia), que usaram camisas e paletós tradicionais de seus povos, além de José Pepe Mujica (Uruguai) e Cristina Kirchner (Argentina).

Com informações da Agência Brasil