Isaura Lemos diz que leva disputa para 2º turno em Goiânia

Candidata à prefeitura de Goiânia, a deputada Isaura Lemos (PCdoB), está disposta a levar a disputa para o segundo turno. Isaura não poupa críticas aos opositores. Para ela, Paulo Garcia não tem luz própria e só lidera as pesquisas devido ao seu antecessor, o prefeito Iris Rezende (PMDB). Em relação a Jovair Arantes (PTB), seu concorrente direto por uma vaga no segundo turno, Isaura ressalta que o petebista tem bom trânsito em Brasília, mas é ausente da vida política da capital.  

A comunista elenca as áreas de transporte e saúde como as mais problemáticas da capital e diz que administrará a cidade ouvindo a população. Isaura Lemos concedeu entrevista a Tribuna do Planalto.

Tribuna do Planalto: Qual a estratégia da Sra. para levar a disputa para o segundo turno?
Isaura Lemos: Muito trabalho, intensificar as caminhadas, as pequenas carreatas em todas as regiões da cidade e sensibilizar os segmentos estudantis. Estamos indo para as portas das universidades e estamos sendo muito bem recebidos. As universidades são áreas bastante segmentadas, com participação do PSTU, do Psol, do PCB e outros.

Tribuna do Planalto: Como temos três candidaturas da esquerda, a Sra. acredita em segmentação de votos?
IL: Sim. Na verdade o PSTU e o Psol são minoritários. A massa mesmo de estudantes está indefinida. Estou bastante animada com que eu vi. Fomos tratados com muito respeito e com bastante abertura para ouvir e conhecer as propostas.

Tribuna do Planalto: O que precisa ser trabalhado para dar um salto nesta reta final de campanha?
IL: O crescimento científico é muito difícil quando se tem um décimo do tempo de propaganda no rádio e na televisão que os outros candidatos têm. Nós também não temos um exército de pessoas nas ruas. Nós temos a convicção de que a campanha não deve ser comprada. Nós estamos vendo pagamentos para por ‘citru’ nos carros (adesivo perfurado que é colocado no vidro de trás dos veículos), placas nas portas das casas, ‘plotters’. As pessoas não gostam de perder seus votos, de votar em quem não tem presença nas ruas. Elas não percebem que quem coloca este exército nas ruas está gastando uma fortuna e esta fortuna vem de algum lugar. Para eu reverter a situação depende muito do convencimento do eleitor.

Tribuna do Planalto: Então a principal dificuldade da sua candidatura é estrutural e financeira?
IL: É isso. Falar que está do lado do povo é fácil. Quando vamos ver o histórico de cada um, vemos que estes políticos nunca estiveram do lado do povo. Nunca fizeram um trabalho que pudessem lhes aproximar do povo. Tanto que eles estão patinando. O principal fato do prefeito não crescer é que ele era um desconhecido para a população. E ainda é desconhecido. Não foi a pessoa que liderou neste período o município.

Tribuna do Planalto: Quem liderou então?
IL: O ex-prefeito Iris Rezende.

Tribuna do Planalto: Mesmo com o Paulo prefeito?
IL: Quem indica, quem instrui, quem dá toda a posição política para aquele grupo é o prefeito Iris. Isso o Paulo nunca deixou de reconhecer. Por não ter força própria e não ter construído isso, ele nunca deixou de reconhecer que a força política em seu governo era o PMDB.

Tribuna do Planalto: Mas então porque as pesquisas indicam que o prefeito ganharia, hoje, no primeiro turno?
IL: Porque ele pegou um trem rápido no piloto automático. As pessoas não sabem quem está dirigindo, mas a máquina está andando. O que eu quero passar para o eleitor, e não estou tendo tempo, é isso – que é uma máquina no piloto automático. A capacidade de ouvir dele é muito pequena e a capacidade dele de liderar ouvindo a sociedade é praticamente nula.

Tribuna do Planalto: Na administração do ex-prefeito Iris havia este diálogo, tanto político quanto com a sociedade?
IL: Não, quando Iris fez o processo licitatório do transporte, aquilo foi imposto às outras prefeituras. Em Goiânia, você não consegue ver o contrato disponibilizado no site. Em Curitiba, se você acessa o site, está lá, de forma transparente, o que foi tratado. A diferença é que lá se tem um contrato que coloca o usuário em primeiro lugar, enquanto que aqui se coloca as empresas em primeiro lugar. E ainda ficamos sabendo que metade daquilo que as empresas deviam pagar elas não pagaram. Houve uma renegociação e foi aceito isso sem o conhecimento da população.

Tribuna do Planalto: E os contratos preveem uma série de obrigações que a gente não vê na prática.

IL: Os usuários não conseguem comprar o ‘sitpass’ à noite ou no fim de semana. O transporte noturno está no plano diretor, ficou de ser implantado e não foi. A nossa grande preocupação é que não há fiscalização nenhuma. Não existe multa nenhuma aplicadas a estas empresas. Se você conversa com um motorista ele vai dizer que só tem mil ônibus rodando. E as empresas juram que são 1.400 ônibus. Tudo isso foi feito pelo prefeito Iris porque ele sempre teve um compromisso muito grande com essas empresas.

Tribuna do Planalto: Mas este problema já vem de várias administrações. Há um jeito de resolver este problema?
IL: Há um jeito, mas precisa de coragem e independência. Por isso nós propomos um presidente da CMTC (Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo) que não seja vinculado às empresas – o atual já foi funcionário do Setransp. Tem jeito, mas precisa de independência, coisa que o prefeito atual não tem.

Tribuna do Planalto:
A Sra. disse que o prefeito Iris não dialogava. Mas o ex-partido da Sra. (PDT) integrou a sua administração, assim como o seu atual partido (PCdoB). Como é isso?
IL: O fato de a gente apoiar a administração não quer dizer que ele (prefeito) só erre ou só acerte. No quesito diálogo, o prefeito Paulo e o prefeito Iris são muito parecidos. Eu fui candidata a prefeito contra o Iris (em 2004) e perdi. Apoiei ele no segundo turno, por considerá-lo a melhor opção naquele momento. Agora, ele nunca se preocupou em fortalecer a aliança política, em aumentar a participação popular. O prefeito Iris acabou com o Orçamento Participativo. Essa era uma forma de governar que ele nunca acreditou. E também o Paulo, que não reativou o Orçamento Participativo.

Tribuna do Planalto: Em relação ao Orçamento Participativo, ele não criava um problema político, já que os vereadores não engoliam o programa e a sua influência nas bases deles?
IL: Existe problema para você governar com a participação do povo. É um desafio. Mas não existe forma de se avançar sem ser assim. Tem que haver conversa e informação, para o povo escolher as prioridades. No governo do Pedro Wilson o povo falava: “a prioridade é asfalto”. E a prefeitura fazia escolas. Não foi reeleito. Não quer dizer que nós temos que fazer aquilo que o povo fala que tem que fazer. Temos que tomar em consideração aquilo que o povo fala que tem que fazer, mas também considerar aquilo que é prioritário dentro de um horizonte maior. Mas temos que debater com o povo. Por que a saúde chega a essa situação? Porque dentro do SUS nós temos uma série de desafios, não só em Goiânia, de como fazer um médico especialista sair lá do seu consultório particular e vir atender na periferia, para ganhar nem o piso de médico. Então, estamos propondo que quem precise de especialista seja atendido lá no consultório e que seja pago a tabela do SUS, mais um acréscimo de meia tabela pela prefeitura.

Tribuna do Planalto: E como melhorar o atendimento no bairro?
IL: Primeiro é qualificar mais as equipes do PSF. Nós temos que ampliar – hoje chega a 60% da capital – e qualificar. Porque a prevenção e promoção da saúde é prioridade no sistema SUS. Nós temos também que informar sobre a alimentação para pessoas hipertensas e diabéticas. Nós queremos transformar os Cais em unidades de pronto atendimento (UPA). Esta transformação de Cais em UPAs já está sendo feita na atual administração, de forma muito lenta. Aparecida já tem UPA, outras cidades do interior também. Goiânia ainda não inaugurou uma UPA. Temos ainda a situação gravíssima de epidemia do crack e das drogas. O PSF poderia acrescentar uma forma de cadastramento de pessoas que querem se tratar.

Tribuna do Planalto: O que mais falta hoje à população da periferia, além da saúde e da infraestrutura?
IL: A periferia precisa muito dos centros de esporte, lazer e cultura. A juventude na periferia não tem para onde ir. Ela não tem como vir para um shopping. Na periferia nós temos uma população extremamente angustiada e que busca cultura. Eu encontrei no Bairro São Carlos um professor de violão que levou uma turma para disputar com mais 300 pessoas uma seleção de violão clássico no Basileu França. Quem está distante da realidade acha que jamais uma pessoa do Bairro São Carlos quer aprender violão clássico.

Tribuna do Planalto: Qual o déficit habitacional hoje em Goiânia?
IL: Hoje existem 80 mil famílias cadastradas na secretaria de Habitação. Mas são 160 mil que pagam aluguel, ou moram de favor. Destes nós temos que excluir a faixa salarial. Deve ser um pouco menos do que isso. O Paulo Garcia, inclusive, tinha falado que construiria 20 mil e agora, porque eu falei que a gente vai construir 40 mil casas, 10 mil por ano, ele também abraçou esta ideia.

Tribuna do Planalto: Em relação às pesquisas, a Sra. era a segunda colocada, caiu para terceira e já aparece em quarta, em algumas delas. A Sra. acredita em queda na campanha?

IL: Eu não acredito que a campanha esteja caindo, porque nas ruas nós não vemos isso. Pelo contrário, depois do programa de televisão, o estímulo e o incentivo aumentaram. Também nas carreatas. Qualquer um de nós três pode ir para o segundo turno, se houver segundo turno. E nós acreditamos que haverá, devido a essa falta de crescimento do Paulo.

Tribuna do Planalto: A coligação de Paulo Garcia insinuou uma suposta ligação de Jovair Arantes com Cachoeira. Este respondeu e disse que ia processar o prefeito. Como a Sra. vê este embate?
IL: Esta mudança de tom mostra exatamente aquilo que eu falei – como o Paulo não cresce, alguma coisa tem que ser feita. Eu vejo que, justamente por isso, nós temos possibilidades de voltar a crescer. O Paulo não cresce e estão criando uma alternativa para isso. Para mim essa é uma alternativa burra. Porque se está tão bem, para que bater? Já está claro que não está tão bem assim. E esta forma de querer ganhar eleição é um risco. Por que, se tiver segundo turno? Nós estamos sendo atacados. Temos três processos do prefeito para tirar o nosso tempo de televisão. Então, estão destruindo uma ponte que existia entre nós. Isso é uma atitude burra.

Tribuna do Planalto: O Jovair Arantes tem uma grande estrutura e não consegue sair do empate com vocês. A Sra. credita isso ao candidato ou a fase ruim do governo estadual?
IL: O candidato Jovair sempre teve uma atuação federal. Participa do governo Dilma de uma forma expressiva. Mas em Goiânia, onde estava o candidato Jovair? Uma coisa é trazer obras, que são coisas que os federais têm acesso, outra é vivenciar a cidade.

Perfil
Isaura Lemos (PC do B)
Cargo: Deputada estadual
Cidade natal: Jundiaí (SP)
Profissão: Técnica em enfermagem
Idade: 58 anos
Cargos eletivos: Deputada estadual (1999-2002; 2003-2006; 2007-2010)
Histórico: Entrou na política a partir de movimentos revolucionários. Ao lado do marido, o ex-vereador Euler Ivo, foi uma das fundadoras do PCdoB de Goiás. Aos 14 anos, em 1968, Isaura participou do primeiro evento político de sua vida, quando integrou uma passeata de protesto contra a morte de um estudante universitário morto pela ditadura militar. Passou a integrar o grêmio estudantil da escola, até que, por força da ditadura, as aglomerações foram proibidas. Em Goiás, Isaura criou o Movimento Contra a Carestia, que lutava para diminuir o preço da cesta básica. Em 1991, Isaura e Euler fundaram o Movimento de Luta pela Casa Própria (MLCP). Deixou o PCdoB em 1992 para integrar o PDT, e, em 1998, tentou com sucesso a primeira eleição. Em outubro de 2011, retornou ao PCdoB.

Fonte: Tribuna do Planalto