Testemunha do caso Eliza Samudio é executado em Belo Horizonte

Sérgio Rosa Sales, 24 anos, foi assassinado na quarta-feira (22), em Belo Horizonte, com seis tiros disparados por dois homens em uma moto. Ele era testemunha-chave nas investigações sobre o desaparecimento e provável morte de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza, primo de Sérgio.

Dois homens em uma moto se aproximaram enquanto ele caminhava e dispararam em sua direção. Após ser baleado, ele correu em direção a um barracão na rua, em busca de proteção. Não satisfeito, o atirador foi atrás e disparou outras vezes, uma delas na cabeça.

O rapaz, morto a três quarteirões de sua casa, na zona norte de Belo Horizonte, por volta das 7h. foi o único entre os oito réus que chegou a confirmar o depoimento do adolescente que incriminou o goleiro pela morte de Elize, cujo corpo nunca foi encontrado.

No entanto, voltou atrás e desmentiu seu depoimento, afirmado que fora ameaçado e torturado na delegacia. A polícia trabalha com a hipótese de crime premeditado, por causa dos seis disparos efetuados contra ele. "Vamos checar a situação de vida dele nos últimos tempos para ver as causas motivadoras dessa execução", disse o delegado Breno Pardini.

Mas, Pardini e o chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil, delegado Wagner Pinto, ainda não relacionam o novo fato ao caso de Eliza.

Ele chegou a declarar à polícia que Bruno esteve na casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, onde Eliza teria sido morta, mas depois voltou atrás. Na reconstituição que fez, disse que Bruno lhe contou, no local, que Eliza "já era" e que o goleiro chorou.

"Ele prestou informações relevantes para o esclarecimento da autoria [da morte de Eliza], então, pode ter essa hipótese [queima de arquivo], mas só as investigações poderão apontar", disse o delegado Wagner Pinto.

O adolescente que denunciou a suposta trama cumpre medida socioeducativa. Já o primo do goleiro era um dos oito réus do caso e aguardava o julgamento em liberdade, depois de permanecer um ano e um mês, até ganhar liberdade provisória em 11 de agosto de 2011. Pesou a favor dele o fato de ter colaborado com as investigações.

Sérgio responderia pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (com uso de meio cruel, com impossibilidade de defesa da vítima e cometido com o intuito de garantir a impunidade de outro crime), sequestro, cárcere privado e também ocultação de cadáver.

Violência contra a mulher

A Secretaria de Politicas para Mulheres (SPM) lamentou a morte de Eliza Samudio em junho de 2010, às vésperas da Lei Maria da Penha (11.340/06) completar quatro anos de existência. Os últimos passos de Eliza foram em direção ao 3º Juizado de Violência Doméstica do RJ, que negou seu pedido de proteção feito em outubro de 2009, por considerar que a jovem não mantinha relações afetivas com o goleiro Bruno Fernandes. Na ocasião, a Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá (DEAM) pediu à Justiça que o atleta fosse mantido longe da vitima, já que Bruno cometeu os crimes de agressão, e de cárcere privado, alem de ter dado substâncias abortivas.

"O artigo 5°, inciso III da Lei Maria da Penha caracteriza como violência doméstica "qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independente de coabitação. A legislaçào não estipula o tempo da relação, porque a violência doméstica e familiar contra a mulher se configura por meio de qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico, além de dano moral ou patrimonial", diz um trecho da nota da SPM.

Relembre a entrevista de Eliza ao jornal Extra, do Rio, em 2009, logo depois de ter sido ameaçada por Bruno e seus amigos.

Da redação com Folha de S. Paulo