Olívia Santana diz que gestão de Salvador é desastrosa 

"Nota zero. É uma gestão desastrosa." A afirmação é da vereadora Olívia Santana, candidata a vice-prefeita na chapa do petista Nelson Pelegrino para a prefeitura de Salvador (BA), na avaliação que faz da gestão do prefeito João Henrique (PP). Ex-secretaria de Educação na primeira gestão do prefeito, passou para a oposição nos últimos anos e dá nota zero ao segundo mandato do prefeito. Olívia acredita que suas bandeiras contra o racismo a diferenciam dos candidatos a vice das outras chapas.

Olívia Santana disputa prefeitura de Salvador - Foto: A Tarde

Leia a seguir partes da entrevista de Olívia Santana ao jornal A Tarde:

A Tarde: Quando a senhora falou que representava o Movimento Negro, Nestor Neto, vice de Mário Kertész (PMDB), disse que não era correto. Por que a senhora reivindica esta posição?
Olívia Santana: Há uma expressiva presença do Movimento Negro organizado em torno da nossa candidatura. Muitos me ligaram, o Fórum das Entidades Negras, o João Jorge (Olodum), o Vovô (Ilê Aiyê), a Steve Biko, pedindo que eu aceitasse a vice. Enfim, quis demarcar o campo pois nós temos uma trajetória. Sou militante do Movimento Negro há mais de 20 anos e sempre estive ao lado de forças políticas que, de fato, defendem o avanço da luta antirracista, promoção da igualdade, defesa da política de cotas e tudo. Eu estive na Conferência Mundial contra o Racismo, fui um dos três brasileiros que se pronunciaram no Fórum das Nações Unidas, fazendo a denúncia que no Brasil existia racismo e que nós precisamos de política de reparação, já em 2001. Na votação das cotas no Supremo Tribunal Federal, participei da vigília em Brasília, acompanhei o processo de votação que foi uma disputa muito intensa com o DEM, o partido que resolveu acionar a Corte Suprema com o objetivo de desqualificar o sistema de cotas. E tivemos uma vitória acachapante de 10 a zero. Enfim, quando informei a presença do MN na minha candidatura, apenas informei algo que é fato. Sou vereadora do PCdoB, pela minha militância, principalmente no Movimento Negro.

A Tarde: Sua presença na chapa de Nelson Pelegrino significa o quê para o Movimento Negro e suas bandeiras políticas?
OS: O Movimento Negro luta por uma maior presença da população negra. Você não eleva a qualidade de vida desse segmento, não enfrenta as desigualdades que são brutais, fora das estruturas de poder. Acessar esse espaço significará contribuir com a construção de um projeto para a cidade em que a população negra seja vista como sujeito, e não apenas como objeto da política.

A Tarde: A retirada da candidatura de Alice Portugal para prefeito não deixou cicatrizes no PCdoB já que ela estava certa que iria até o fim?
OS: Claro que a busca de um partido é dirigir uma sociedade. O PCdoB sempre quis se apresentar na capital baiana com essa perspectiva. Mas você tem que construir as condições para que isso se realize. Infelizmente, não conseguimos atrair um arco de alianças que nos desse esse suporte, de por exemplo ampliar o tempo na TV para apresentarmos nossas propostas. Portanto, chegamos a essa avaliação. Havíamos feito o "bloquinho" com o PTB, o PSB. Mas esses partidos migraram para a candidatura de Nelson e nós chegamos a uma situação de nos encontramos sozinhos. Isso pesou bastante. Não dependia apenas da vontade do PCdoB.

A Tarde: Como a senhora vê essa aliança tão grande de partidos, integrada inclusive pelo PP do prefeito João Henrique que teve o PCdoB como oposição firme nos últimos anos?
OS: Na política o mais importante é qual o projeto que conduz a aliança. Os partidos se associam a esse projeto de desenvolvimento para Salvador. Lula governou em regime de alianças, Dilma e Wagner também. O mais importante é ter a segurança de um gestor equilibrado que comande o projeto político.

A Tarde: A senhora foi secretária de Educação no primeiro mandato de João Henrique como era sua relação com ele?

OS: Fiquei no governo um ano e dois meses. Deixamos marcas positivas. O projeto de matrícula informatizada, o aumento de 15,38% no salário dos professores que estabeleceu uma política de recomposição de salário. Tivemos uma relação de respeito. Mas no final do meu período notamos resistência na proposta de instalação do conselho político do mandato. Não conseguimos instalá-lo. Seria importante para discutirmos os rumos do governo. A questão de como o Plano Diretor (PDDU) estava sendo desenhada também pesou, revelava como poderia ter um impacto ruim para a cidade. Ele tinha outra visão. Enfim, o PCdoB foi o primeiro partido a deixar a gestão municipal.

A Tarde: Qual a nota que a senhora dá a esses oito anos da gestão João Henrique?
OS: Zero. Especialmente para o segundo mandato, a avaliação que eu faço é muito negativa. É uma gestão desastrosa.