Renato Rabelo: Mobilidade urbana e desenvolvimento

Assunto candente no debate eleitoral, a problemática da mobilidade urbana ganha ares de centralidade. E não é por menos. A questão do transporte público se confunde diretamente com pendências e heranças de muito tempo de semiestagnação econômica atrelada ao mais rápido processo de urbanização ocorrida no mundo na segunda metade do século 20 e que teve lugar no Brasil.

Por Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB

São dois níveis importantes do debate a se considerar. O primeiro voltado mais para a questão social e democrática que inclui o próprio direito ao lazer por parte dos trabalhadores que se utilizam de transporte público para irem e voltarem do trabalho. Mais tempo com a família. Mais tempo para a própria educação dos filhos e mais sociabilidade. Esse é um ponto. O segundo ponto, mais diretamente relacionado com a centralidade do processo de desenvolvimento nacional e como parte essencial ao próprio processo de desenvolvimento de cidades mais humanizadas.

O desenvolvimento sob a égide de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é a chave estratégica do lema das “cidades mais humanas”. Importante salientar essa ligação para que tenhamos clareza sobre os pontos de estrangulamento verificados no trânsito caótico das grandes cidades e a péssima qualidade de transporte de massas. Não necessitamos elaborar uma grande tese para perceber que a mobilidade urbana demanda pesados investimentos públicos e privados na construção de centenas de linhas de metrôs, corredores de ônibus, vias de trens leves, túneis, viadutos, anéis viários e estacionamentos subterrâneos.

É preciso transitar do discurso de agitação para outro discurso mais propositivo. O problema da mobilidade urbana tem solução. Difícil solução, pois é determinada também por uma ampla mudança de mentalidade, para quem o prefeito – dentro dos limites impostos pelo orçamento – deixe de ser um mero síndico de um grande condomínio para se tornar um grande agente do desenvolvimento econômico local. Demanda superar discursos ideologizados e perceber onde se encontram os recursos necessários para o enfrentamento deste desafio, que podem estar tanto no próprio Estado quanto na iniciativa privada. Demanda capacidade política de percepção da relação entre o local (cidade) e o global (nacional).

Trata-se inclusive de se aproveitar deste amplo programa de concessões aberto pelo governo federal da ordem de R$ 140 bilhões provindos da iniciativa privada. É sensibilizar politicamente todas as esferas de governo para o problema – cada vez mais político e de ordem pública – da mobilidade urbana. É clareza para enxergar a solução dos problemas candentes do desenvolvimento local de forma mais ampla, cuja solução não se encontra apenas diretamente na esfera dos próprios municípios.