Caetano faz 70 anos, sempre se reinventando

Homem de vanguarda e de atitude, ícone da música popular brasileira, o cantor e compositor Caetano Veloso completa 70 anos nesta terça (7). Sempre envolto em controvérsias e a sucitar sentimentos apaixonados no público, ele firmou-se como um grande artista, amplo, de muitas facetas: é de Santo Amaro da Purificação, cidadezinha da Bahia, mas é também do mundo todo.

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A data não será marcada por grandes comemorações. Não estão marcados shows, homenagens ou qualquer tipo de evento público. Mas a gravadora de Caetano, a Universal, preparou uma reverência ao cantor. O selo lança nesta terça o disco "A Tribute to Caetano Veloso" , que traz nomes internacionais (como Beck, Jorge Drexler e Devendra Banhart) e nacionais (Marcelo Camelo, Céu, Seu Jorge) interpretando músicas do artista nascido em 7 de agosto de 1942.

“Eu escolhi artistas internacionais que gostam do trabalho de Caetano. Quanto aos brasileiros, selecionei os que fazem parte de uma geração nova da MPB e que de alguma forma são influenciados pelo trabalho dele. Todos tiveram livre escolha. Só fiquei atento para que ninguém gravasse a mesma música”, explica Paul Ralphes, produtor do álbum.

A opção da Universal por jovens artistas casa bem com o trabalho de Caetano nos último anos. Desde 2006, quando lançou "Cê", o cantor tem procurado se reinvetar, passeando pelo rock, música eletrônica e atuando em parcerias com jovens artistas. Esta constante tendência à mutação, embora possa soar estranha quando se fala de um senhor de 70 anos, não destoa em nada do Caetano de sempre, nunca igual.

Sua trajetória artística teve início num longínquo 1947, quando começou a demonstrar gosto por música, desenho e pintura. Adorava ouvir rádio e se encantava com as músicas de Luiz Gonzaga. Em 1952, fez uma gravação para a família de Feitiço Da Vila, de Vadico e Noel Rosa, e Mãezinha Querida, de Getúlio Macedo e Lourival Faissal.

Em 1961, aprendeu violão e começou a cantar com Maria Bethânia, em bares de Salvador. Parceiros desde sempre, Caetano só conheceu Gilberto Gil, a quem já admirava à distância, em 1963. No mesmo período, foi apresentado a Gal Costa e Tom Zé e decidiu se tornar cantor e compositor.

Ainda na década de 60, mudou-se para o Rio, lançando seu primeiro compacto simples. "Cavaleiro" e "Samba em Paz" foram as duas primeiras canções que Caetano lançou em formato single, em 1965.

Com Gal, Caetano Veloso lançou o LP de estreia,"Domingo", em 1967. E foi também nessa altura que começou a participar nos festivais da canção de MPB, em que foi recebido de maneiras opostas. Naquela época, os festivais tinham outro perfil, eram responsáveis por revelar grandes artistas, mobilizavam a população.

"Alegria, Alegria" foi um sucesso instantâneo, caiu na boa do povo. Por outro lado, "É Proibido Proibir", uma crítica direta à falta de liberdade no Brasil durante a ditadura militar, foi recebida de outra forma: com assobios e vaias, sendo desclassificada. "Vocês não estão entendendo nada", foi a frase que ficou dessa participação, em setembro de 1968, em São Paulo.

No final desse ano, Caetano e Gil acabariam presos pela polícia militar, acusados de desrespeitarem o hino e a bandeira nacionais. O exílio em Londres não esmoreceu a sua influência na cultura brasileira, ao mesmo tempo que o levou a incluir algumas canções escritas em inglês no primeiro disco que gravou fora do Brasil, "Caetano Veloso" (1970).

Com 45 álbuns editados, vencedor de cinco Grammys Latinos e autor de músicas que viraram hinos de diversas gerações – como "Leãozinho" e "Sampa" – Caetano tem dado sua contribuição para moldar a cultura verde-amarela. É protagonista de vários embates para além da sua carreira musical. Opina sobre política, comportamento e tudo que lhe der na telha. A princípio, combatia a caretice, depois deu uma guinada conservadora – tudo cabe nesse artista. Até mesmo a discrição.

Assim, sem muitos planos para marcar as sete décadas, o único compromisso do músico nos próximos dias é um show de voz e violão no dia 10. Homenageará outro baiano cidadão do mundo: Jorge Amado, cujo nascimento completa 100 anos.

Com agências