Fanáticos tentam censurar Césare Battisti em Caxias do Sul-RS

A atividade literária que envolveu a classe intelectual e, inclusive, antigos militantes neste sábado (28) na cidade de Caxias do Sul foi um encontro aos moldes da clandestinidade. Durante as últimas semanas, a divulgação de uma sessão de autógrafos com o escritor Césare Battisti criou um conflito na cidade, em que, acima das ameaças verbais, envolveu uma ameaça de bomba na livraria onde iria ocorrer.

Por Michael Susin*, especial para o Vermelho

Césare Battisti - Michael Susin

Esta atividade aparentemente livre e democrática como qualquer outro encontro desvelou a realidade: a intolerância e o facismo segue presente dentro da nossa comunidade. Devido a isto, a livraria decidiu optar pela autocensura antes que algo acontecesse. Porém, grupos indignaram-se e decidiram seguir com o evento, buscando manter e promover a nossa liberdade de expressão, que custou tantas vidas para termos o direito.

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Em um local desconhecido, improvisado e longe da mídia, encontramos Cesare Battisti, uma pessoa de hábitos simples, que declarou seu fascínio pelo povo brasileiro e contou sobre os seus livros e projetos sociais, falou durante duas horas sobre seu livro e sua vida. Mas o centro da atenção foi a perseguição que vem sofrendo e as inúmeras tentativas de tirar a credibilidade do autor, revelando a influência do governo italiano para frear a divulgação do livro com base em inúmeras acusações infundadas contra ele.

A imparcialidade foi percebida com clareza quando a mídia da cidade silenciou as vozes que queriam o italiano em Caxias e exaltou os que eram contra. Inclusive um escritor com prestígio exigiu sua censura e se posicionou contra sua presença.

Foi promovido, mesmo assim, um debate construtivo, porém com o desgosto de o fanatismo caxiense ter censurado uma grande voz humanista que ecoa pelo mundo. A sociedade vai amargar com a ausência de opiniões, típica de Caxias por mais tempo. E quem sabe, após o fato, realcemos a discussão acerca da liberdade, tanto de opinião como a de ir e vir. Pois, somente assim as ideias vão valer mais do que a violência.

*Michael Susin é educador social e estudante de Jornalismo pela Universidade de Caxias do Sul