Justina Iva: Por que quero ser vereadora?

Por Justina Iva*

Porque me reconheço vocacionada para a vida pública, através da participação política, desde a adolescência. Em toda a minha vida de estudante fui militante no movimento estudantil com assento nas direções ou nos conselhos dessas mesmas entidades.

No dia 1º de abril do ano de 1964, estudante secundarista e membro da diretoria da União Estudantil Caicoense, percorri as ruas da cidade de Caicó, ao lado de outros colegas, conclamando estudantes e o povo em geral para combater o golpe militar e a ditadura instalada em nosso país, no dia anterior.

Em 1968, aluna do Curso de Serviço Social da UFRN, participei intensamente da luta dos estudantes em favor da ampliação de vagas no Curso de Medicina, conhecida como a “luta dos excedentes”. Período de forte repressão aos movimentos sociais. O Movimento Estudantil assumiu o papel de vanguarda na defesa das liberdades democráticas e dele participei intensamente. Vivi, ao lado de tantos outros colegas militantes, a experiência dos “sem teto”. O Diretório Central dos Estudantes foi proibido de realizar reuniões na sede do Restaurante Universitário, o que provocou uma reação dos líderes estudantis e a entrada no prédio sem autorização. A administração da UFRN reagiu de forma inesperada, retirando todos os gêneros alimentícios e servidores daquele prédio, deixando-nos sem comida. Durante 18 dias os estudantes assumiram a tarefa de pedir alimentos nas ruas, preparar as refeições e manter o espaço limpo e organizado. Participei com afinco de quase todas, excetuando-se a preparação dos alimentos, por falta de competência. Após o jantar aconteciam as reuniões políticas, na maioria das vezes, na areia da praia do meio. Saudosos tempos!

Presidi o Centro Acadêmico de Serviço Social, o qual denominamos de Centro Acadêmico D. Helder Câmara, apesar de todas as pressões de determinadas autoridades para que não adotássemos aquele nome por que poderíamos, segundo argumentavam, despertar a fúria da ditadura militar contra a Escola de Serviço Social.

Após concluir o curso de Serviço Social (1971) fui para o Rio de Janeiro e fiz uma pós-graduação na área social, num curso denominado Realidade Nacional e Desenvolvimento, oferecido pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social – IBRADES, o qual me despertou ainda mais o interesse pelo engajamento no campo da política. Isso ocorreu em 1972.

Ao voltar do Rio de Janeiro decidi ingressar na carreira do magistério e escolhi a disciplina Política Social pelo interesse que tinha na temática das políticas públicas. Aprovada em concurso público de provas e títulos, da UFRN, em primeiro lugar, fui nomeada professora do curso de Serviço Social e ali permaneci até aposentar-me no ano de 1994.

Como docente do ensino superior da UFRN, participei ativamente das lutas universitárias. Sou uma das fundadoras do movimento docente, ex-conselheira da ADURN e ex-membro do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE. Primeira chefe de Departamento Acadêmico, eleita pelos pares, disputei o cargo de Reitor (a) na primeira eleição direta (consulta à comunidade) no ano de1986. Mesmo não tendo logrado êxito, o meu concorrente foi eleito com a minoria de votos da comunidade universitária.

Este processo de consulta à comunidade, hoje eleição direta para preenchimento do cargo de Reitor, foi fruto das lutas de que participei, particularmente do conhecido Movimento de Emaús, que coordenei no âmbito interno da UFRN e do qual resultou a democratização institucional e a descentralização orçamentária e financeira, garantindo autonomia administrativa aos Centros Acadêmicos.

Como cidadã política, somei-me à luta das Diretas Já, pelo fim da ditadura militar, pelo retorno das eleições diretas e, como brasileira apaixonada pelo que acredita, chorei copiosamente a morte de Tancredo Neves, que parecia ameaçar o sonho da retomada do regime democrático.

Como desdobramento da minha vida acadêmica, no exercício da função de magistério superior, assumi o cargo eletivo de Presidente da Associação Brasileira do Ensino de Serviço Social – ABESS, eleita no Congresso de 1987, para um mandato de dois anos. Nesse ínterim, fiz parte como membro titular, da International Association of Social Work.

Aposentei-me da UFRN no ano de 1994 e o fiz porque desejava estar mais próxima da população mais desfavorecida, do ponto de vista do acesso aos serviços e bens públicos, notadamente no campo dos direitos sociais.

Em 1995 assumi a Presidência da Fundação da Criança e do Adolescente do Rio Grande do Norte-FUNDAC/RN, onde permaneci por 04 anos, e, como tal, fui eleita presidente do Fórum Nacional de Dirigentes Governamentais de Entidades Executoras da Política de Promoção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes – FONACRIAD, por duas vezes sucessivas. Pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido, nesse campo, fui agraciada pela Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça, com a Medalha de Mérito de Proteção Integral, em outubro de 1997, na cidade de Fortaleza/CE.

Em 1999, atendendo convite do Governo do Estado, assumi o maior e inesperado desafio, até então. Perguntas reacionárias após o anúncio do meu nome como diretora daquele órgão: o que vai fazer no DETRAN, uma mulher, e ainda, uma assistente social? Fizemos educação para o trânsito, campanhas em defesa da vida, combatemos a corrupção interna e externa, garantimos direitos, agimos com equidade, quebramos monopólios, enfrentamos ameaças de marginais, pressões políticas e perseguições de quem teve interesses contrariados. Fizemos a diferença, cumprimos o nosso dever e, segundo ouvimos com freqüência, deixamos saudades.

No ano de 2001 mais uma grande surpresa. A Prefeita eleita do Natal pedira ao Governador do Estado que me liberasse para assumir a pasta da Educação Municipal. Gratificou-me ouvir o Governador afirmar que não poderia negar o pedido que lhe houvera sido feito, mas que a minha permanência no DETRAN dava-lhe tranqüilidade para dormir sem susto. Por outro lado, aquela a quem fiz forte oposição na campanha de 1985, dizia-me ter solicitado a minha liberação porque necessitava de alguém pra assumir a Secretaria Municipal de Educação-SME, com o meu perfil: “competência e honestidade”.

Assumi a SME em janeiro de 2001 e encerrei o meu mandato em dezembro de 2008. Interessantíssima e rica experiência. Melhoria da rede física – 27 escolas construídas e 47 reformadas, Plano de Carreira Docente reformulado, Plano Municipal de Educação aprovado -2005-2014, com vinculação de 30% da receita para a educação, fim do turno intermediário beneficiando 16 mil alunos, construção do CEMURE, descentralização orçamentária e financeira, Escola Aberta, Mais Educação, Programa 2º Tempo, política permanente de formação continuada, etc.

Como desdobramento e repercussão do trabalho desenvolvido na SME, fui eleita presidente da UNDIME/RN por dois mandatos -04 anos- e Presidente da UNDIME Nacional- 2007/2009, entidade que reúne 5.564 dirigentes municipais de todo o país. Fui membro dos Conselhos do FUNDEF, do FUNDEB, bem como, do Conselho Consultivo do INEP e da Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, dentre outras.

No campo da política partidária sempre atuei, não como candidata, como militante e apoiadora de candidatos que julgava melhores para dirigir nossos entes federados ou representar os interesses coletivos do nosso povo. Nem sempre vencendo, às vezes errando, mas nunca desistindo de continuar lutando. Minha primeira experiência se deu na campanha do saudoso e admirável Monsenhor Walfredo Gurgel. Estive no seu palanque em Jardim de Piranhas e São João do Sabugi, minha cidade, onde os adversários nos atiraram alguns ovos e pedras. Nada grave. Monsenhor Walfredo foi vitorioso, ganhou o RN. Desde então, jamais estive ausente de qualquer campanha política, sem qualquer outra intenção que não a de contribuir para que se faça sempre a melhor escolha para a população.

Voto, trabalho na política e tenho clareza da responsabilidade que temos os letrados, os que tivemos acesso á educação, pela escolha dos nossos representantes. É nas casas legislativas que se tomam as decisões que vinculam a todos nós. Ali deveriam estar pessoas com mais competência técnica, com postura ética e mais comprometidas com os interesses da população e dos seus representados. Lamentavelmente, isto nem sempre tem acontecido. Os eleitores estão decepcionados, querem votar nulo porque não mais acreditam no parlamento e no poder executivo. Aqueles que são politicamente alfabetizados, que sabem o valor do seu voto, clamam por candidatos que lhes inspirem confiança. Que sejam competentes e comprometidos, que saibam respeitar a sociedade, que não comprem votos do eleitor, e, uma vez eleitos, não se vendam, que não façam da representação política um meio de locupletar-se.

Relutei sempre em adentrar estas casas. Pelas dificuldades de enfrentar uma campanha sem recursos financeiros e pelo envolvimento com outras atividades. Entretanto, encaro como missão a tarefa que hoje me proponho assumir, atendendo inúmeros apelos do povo dessa bela cidade que me adotou, como sua cidadã. Acumulei experiências na área de gestão pública, sinto-me preparada para tomar assento naquela casa e contribuir com o avanço das políticas públicas sob responsabilidade do município de Natal. Defenderei saúde e educação para todos e assistência para quem dela necessitar. Sem fragmentar a sociedade, sem discriminação, sem bravatas, sem preconceito, com compromisso e muita civilidade. Quero contribuir com Natal e os natalenses para que tenham garantidos e respeitados seus direitos humanos, agora exercendo um mandato porque me reconheço vocacionada para a política e preparada para bem servir exercendo o poder legislativo.


*Justina Iva de Araújo Silva
Candidata a vereadora pelo PCdoB em 2012.
Nº 65112