Chora o samba candango

Fundador do bloco de carnaval Pacotão, Wilson Miranda, conhecido como Brother, morreu ontem aos 60 anos.

Brasília perdeu ontem um ícone. Sambista, flamenguista, salgueirense e jornalista, Wilson Miranda morreu, pela manhã, em sua casa, no Lago Norte. Brother, como era conhecido, enfrentava um câncer na garganta. O velório teve início às 19h, na capela 6 do Cemitério Campo da Esperança, e o sepultamento está marcado para as 9h de hoje. O carioca de 60 anos, com pelo menos 35 de profissão, formou-se pela Universidade de Brasília (UnB) em jornalismo, em 1977, e, desde então, fez carreira em jornais locais, principalmente na editoria de Esportes. Ele foi um dos fundadores do bloco de carnaval Pacotão e da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-DF).

Na escola de samba Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), Brother também teve participação ativa. “Foi ele quem me levou para a Aruc. Era um sujeito alegre, brincalhão, gostava muito de festas e era muito solidário. Vai fazer muita falta, com certeza”, lamentou o ex-presidente da escola e amigo de Wilson, Moacyr de Oliveira Filho, o Moa. “Conhecemo-nos em 1977, quando cheguei a Brasília e ele já era um jornalista importante. Há meses ele sofria de câncer, que se agravou nos últimos dias”, completou.

“Éramos muito amigos, fiquei muito mal quando soube. Ele era uma figura muito bonita”, disse José Antonio Filho, também jornalista e fundador do Pacotão. “Naquela época, não tínhamos nenhum movimento na cidade durante o carnaval, por isso decidimos criar o bloco. Também era difícil, porque a ditadura proibia qualquer manifestação em via pública”, lembrou-se. Brother foi ainda fundador da Ala da Imprensa. “Estive presente na fundação do bloco, mas quem motivava mesmo as pessoas era ele”, contou Filho.

A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal lamentou a morte de Brother. “É uma grande perda para a categoria, uma vez que Brother era um exemplo de como unir a atuação profissional com a militância e a irreverência”, descreveu a entidade, em nota. Diversos colegas escreveram homenagens a Wilson. No blog do jornalista João Negrão, ele é lembrado como boêmio e sambista. “Para quem conheceu o Brother de perto, sabe que ele soube viver intensamente a vida”, recordou.

O jornalista Chico Sant’Anna ressaltou, em seu blog, que “o carnaval, a política e o jornalismo de Brasília estão de luto”. No perfil de Brother na rede social Facebook, amigos e familiares se despediram do sambista com homenagens e fotos. Em sua página, ele se descreveu como “um cara modesto, bacana, genial e da maior qualidade”. A organização carioca União de Negros pela Igualdade (Unegro) também deixou uma mensagem ao sambista. “Estamos tristes, mas acalentados com a certeza de que você travou uma boa batalha e foi vitorioso, pois cada unegrino tem um pouco de seu legado. Sendo assim, você estará sempre presente”, publicou, em seu site.

Contra a ditadura
O Pacotão é um tradicional bloco de carnaval de Brasília. Foi fundado por jornalistas, entre eles Wilson, em 1978. O nome é uma sátira ao “Pacote de Abril”, conjunto de leis que modificavam as eleições, lançado um ano antes pelo presidente Ernesto Geisel, em plena ditadura militar. O grupo sempre desfila na contramão da W3.

LARISSA GARCIA