Perícia confirma projétil de bala em vítima dos Crimes de Maio

A história de maio de 2006 passará a ser reeditada a partir de julho deste ano para uma parcela da sociedade. Há pouco mais de seis anos, familiares e amigos perderam pessoas queridas, vítimas de homicídios possivelmente praticados por PMs em resposta à onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado. Na terça-feira (3), a perícia confirmou que havia um projétil nos restos mortais do gari Edson Rogério Silva dos Santos, 29 anos, morto nos conflitos.

Nenhuma das 490 execuções ocorridas em São Paulo naquela época – sendo 57 na Baixada Santista – foram esclarecidas até hoje. No entanto, o desfecho de uma pequena parte desse episódio, conhecido como Crimes de Maio, está mais perto de ser desvendado.

Peritos do Instituto Médico Legal (IML) conseguiram identificar um projétil nos restos mortais do gari Edson Rogério Silva dos Santos, de 29 anos. Ele teria sido assassinado, em maio de 2006, por um grupo de extermínio formado por PMs e ex-policiais.

No dia 13 de junho, o IML exumou o corpo da vítima para tentar identificar o objeto metálico. O pedido partiu de Cássio Conserino, um dos promotores do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) – Núcleo Santos.

Possivelmente situada entre as vértebras do rapaz, a bala encontrada renova a esperança de Justiça, pois são grandes as chances de o Ministério Público reabrir o inquérito para investigar esse caso e outros delitos semelhantes da época.

O laudo oficial sobre o projétil identificado ainda não foi recebido pelo Gaeco. E não há previsão de quando o documento oficial chegará às mãos de Conserino.

“O nosso próximo passo é chamar os familiares de outras vítimas que possam ter sido enterradas com projéteis, e solicitar a autorização dos parentes para o IML fazer a exumação”, diz. São seis ou sete casos desse tipo na região.

O promotor explica que após a finalização dessa etapa, será feita a perícia dos objetos metálicos achados para saber o calibre do revólver utilizado e descobrir se os tiros partiram de uma mesma arma. Com o fim da apuração do confronto balístico, o Gaeco poderá solicitar a reabertura dos inquéritos.

Esperança renovada

A líder do Movimento Mães de Maio, Débora Maria da Silva, acompanhou atentamente, na tarde de ontem, os funcionários do IML devolverem os restos mortais do filho Edson ao Cemitério da Areia Branca, em Santos.

Ela não escondeu a tristeza e a saudade do ente querido. “A nossa missão ainda não terminou. Infelizmente, alguns representantes do Governo do Estado e deputados estaduais criminalizam a nossa luta em busca da verdade sobre esses crimes executados por grupos de extermínio, que continuam existindo”, desabafa.

Na avaliação de Débora, o serviço de perícia e de investigação deveria receber mais investimentos e aprimoramentos da estrutura de investigação policial, com a finalidade de elucidar mais casos.

“Pretendo processar o Estado novamente. O IML foi omisso ao deixar meu filho ser enterrado com um projétil, que poderia ter sido identificado antes para fazer o exame de balística”, diz.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Adriano Diogo (PT), afirma que a luta de Débora e das outras mães é “impressionante”, pela persistência em cobrar das autoridades a elucidação desses delitos de 2006.

“O resultado da exuma-ção atingiu os objetivos. O projétil, que deveria ter sido retirado para a apuração da execução, é a prova de que o Edson foi assassinado”, opina.

Fonte: A Tribuna