Eduardo Febbro: O poderoso chefe do narcotráfico do México

Crime, narcotráfico e lenda. “Vou cantar uns versos/que compus para um amigo/não posso dizer seu nome/muito menos o sobrenome, todos o chamam El Chapo/assim é conhecido”.

Por Eduardo Febbro*

A letra da canção mexicana, interpretada pelo trio Los Alteños de la Sierra, oriundo de Sinaloa, narra a lenda daquele que se converteu no chefe da organização criminosa mais importante do continente: Joaquim Guzmán, El Chapo, chefe do cartel de Sinaloa. Seu nome, na cidade do México, é pronunciado em voz baixa, muitas vezes com admiração e sempre com respeito. Sua história é um acúmulo de capítulos alucinantes que fizeram dele o mais destacado e poderoso dos chefes do narcotráfico. Nunca alguém alcançou tanta fama, tanto poder, tanta fortuna e tanta liberdade.

A revista Forbes, que classifica os multimilionários do mundo, deu a ele um lugar destacada entre as grandes fortunas do planeta. Em apenas um ano, de 2010 a 2011, El Chapo passou da posição 60 para a 55 na lista da Forbes. Joaquim Guzmán Loera será, sem dúvida, um dos primeiros problemas que o presidente eleito Enrique Peña Nieto terá que enfrentar. Em sua primeira mensagem ao país, Peña Nieto disse: “Que fique claro: frente ao crime organizado não haverá nem pacto nem trégua”. É difícil adivinhar como se poderia terminar com o reinado de um homem cuja organização controla praticamente 25 Estados dos 32 que o México possui.

Joaquim Guzmán Loera, El Chapo, ganhou fama mundial quando foi preso em 1993. Em 2001 conseguiu fugir da prisão de Puente Grande, em Jalisco, e desde então consolidou um império que superou o que havia sido construído pelo narcotraficante colombiano Pablo Escobar. Segundo a DEA norteamericana, El Chapo vende mais droga que Escobar vendia no momento mais elevado de sua carreira. Ele nasceu em 1957, em um povoado chamado La Tuna, na Sierra Madre Occidental. Estudou até o terceiro grau e, nos anos 80, se uniu ao cartel de Guadalajara, que era dirigido por um ex-policial, Miguel Ángel Félix Gallardo, conhecido como El Padrinho. Gallardo, que foi mentor de Guzmán, tinha um título convincente: “Capo dos Capos”. Mas El Chapo o superou. O mesmo fez com “O Senhor dos Céus”, Amado Carrillo Fuentes, o chefe do cartel de Juarez.

Os especialistas mexicanos destacam que El Chapo aumentou seu reinado com a chegada ao poder do Partido Ação Nacional, o PAN. O movimento panista desalojou o PRI do poder, após 70 anos de governo ininterrupto. O PAN ganhou as eleições presidenciais em 2000, com Vicente Fox, e em 2006, com Felipe Calderón. Assim que fugiu da cadeia em 2001, El Chapo organizou uma cúpula de chefes do narcotráfico com o objetivo de expandir o cartel de Sinaloa por todo o México. O ponto central consistiu em terminar com o domínio da família Carrilo Fuentes, derrotar o cartel de Tijuana e apagar do mapa o grupo armado conhecido como “Los Zetas”, um braço do Cartel do Golfo, dirigido por Osiel Cárdenas Guillén (extraditado aos EUA em 2007, após sua captura em 2003).

Guzmán já era um chefe com muito poder quando foi detido em 1993. Naqueles dias, El Chapo tinha 27 contas bancárias, três aviões para executivos e dezenas de empresas. O Cartel de Sinaloa conta hoje com ramificações em todas as direções. A DEA norteamericana e a Procuradoria Geral da República (PGR) do México dão contra de que a “narco empresa” de Guzmán é uma estrutura horizontal que se associou com outras famílias e carteis para assentar seu poder. Desde 2005, o cartel de Sinaloa controla todo o transporte da droga desde a Colômbia até o México. Segundo informes da DEA e da PGR mexicana, El Chapo supervisiona a droga proveniente da Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia. Os mesmos organismos assinalam que El Chapo viveu um tempo na Argentina e que, nos últimos anos, expandiu suas empresas para a Espanha e Grã-Bretanha.

A violência que atingiu o México nos últimos seis anos tem muito a ver com a guerra entre os diferentes cartéis pelo controle das rotas da droga. Arturo Beltrán Leyva era chamado de “La muerte”. Era um dos narcos mais buscados e caiu morto em 2009 durante um enfrentamento com a Marinha mexicana. Os Leyva são um clã de três irmãos: Arturo, Héctor e Alfredo. Em um dado momento, os irmãos Leyva colocaram seus capangas – Los Pelones e Los Güeros – a serviço de El Chapo. Mas os irmãos acusaram Chapa de traidor quando Alfredo Beltrán Leyva foi preso. A partir daí começou uma das guerras mais cruéis entre narcotraficantes. Os aliados do passado se tornaram inimigos. Os Leyva firmaram uma aliança com o Cartel do Golfo e seu braço armado, Los Zetas, para disputar o controle do tráfico de drogas com a chamada “Federação”, grupo de narco organizações sob o comando de El Chapo Guzmán e Ismael “El Mayo” Zambada.

Nenhuma autoridade o alcança. El Chapo gozou de tal proteção que costuma sair de moto pelas ruas da cidade de Durango. As câmeras de segurança de Durango o captaram várias vezes e essas imagens serviram para constatar que ele havia feito cirurgia plástica. Como diz o verso dos Alteños de la Sierra: “com esta me despeço/já diz aquele refrão/não há Chapo que não seja bravo/não vão se enredar/e quem não goste disso/que não tente anunciar”.

*Eduardo Febbro correspondente da Carta Maior na Cidade do México.

Fonte: Carta Maior