Brasília: plural e democrática

Trabalho da administração regional de Brasília neste ano tem sido desenvolvido por meio de visitas às quadras, onde Messias de Souza, responsável pela região, é acompanhado de técnicos e especilistas. Eles buscam ouvir a comunidade e garantir mais condições a todos

Brasília: plural e democrática

O administrador de Brasília, Messias de Souza vem realizando uma série de visitas às quadras, acompanhado por técnicos das empresas do governo do Distrito Federal. O objetivo é fazer da capital o melhor local para se morar, enfrentando adversidades de opiniões e ouvindo a todos. Tudo isso para preparar a cidade para o presente e o futuro, ouvindo a opinião da população das quadras residenciais e dos empresários das quadras comerciais. Enquanto cidadão, Messias conta seu sentimento e fala do orgulho da cidade em que mora em entrevista ao Jornal da Comunidade, o que tem feito pela capital em termos práticos, zelando sempre pelos espaços públicos, para estarem prontos para a população residente e para os turistas, para que seja vista como referência. Ele fala de Brasília como uma cidade grande, moderna, cosmopolita e que recebe influência cultural de outros estados, e do mundo inteiro, mas que também se preocupa com quem tem a mobilidade reduzida.

Como a Administração de Brasília está trabalhando para garantir a acessibilidade para portadores de necessidades especiais?
As entidades de pessoas que têm dificuldade de mobilidade estiveram reunidas com o governo do DF, para ouvir deles sugestões e opiniões sobre uma série de obras que o Governo do DF está desenvolvendo na nossa região. Começamos, o trabalho de mudança do asfalto dos eixinhos Norte e Sul. E com isso o governo está trabalhando para que essas vias sejam inteiramente recuperadas, com uma nova tecnologia.

Essas obras levam em conta o atendimento a essa população?
Sim. A Administração de Brasília só aprova projetos de obras que levam em conta as normas de acessibilidade. Mas, percebemos que mais do que aprovar um projeto com elementos de acessibilidade, é fundamental que o destinatário dessas obras possa opinar em tempo. Por isso, fizemos a reunião que foi muito importante, porque cada um, na sua percepção, trouxe uma contribuição. Às vezes, o local definido pelos técnicos não é o local prioritário na óptica de quem o utiliza, que tem um itinerário próprio.

Cite um exemplo.
Os portadores de deficiência visual alegaram que mais importante que ter uma calçada totalmente com piso tátil, para eles é fundamental a colocação de pisos que dão identificação de direção nas áreas em que há uma interface entre uma calçada e uma ciclovia, ou que a sinalização tátil possa ter segmentos com uma sinalização sonora. Então uma série de sugestões foram dadas para o aperfeiçoamento das obras que estão levando em conta as questões de acessibilidade, mas a orientação delas, topograficamente, onde é mais útil para cada um daqueles grupos. E a percepção dos portadores de deficiência de visão é quanto a sua limitação. Já os cadeirantes levam em conta outro tipo de preocupação. E a mesma obra tem de atender as demandas de todos esses grupos que têm restrição na sua respectiva mobilidade.

Os idosos também estão incluídos?
Estão, especialmente, porque Brasília é uma cidade em que cada vez mais vê sua população envelhecer e, o idoso normal já tem uma limitação motora e as obras precisam atender não só àqueles que são portadores de deficiência, mas também as pessoas de idade avançada. A percepção de todos esses interesses levam a determinados ajustes nas obras. Foi estabelecido um cronograma das obras e essas entidades vão acompanhar os trabalhos com os engenheiros da Novacap e da Administração de Brasília.

Essas obras que incluem a acessibilidade estão de acordo com os preparativos dos eventos como a Copa das Confederações e a Copa de 2014?
Eu diria que essas obras de acessibilidade são necessárias para a universalização dos direitos de locomoção de todos os grupos sociais: os que moram aqui, considerados grupos normais e os que têm restrição motora e é claro que os turistas que vêm e virão em função dos grandes eventos muitos correspondem a esses grupos sociais, como alguns que têm limitações e precisarão desses equipamentos que hoje são padrões internacionais. Por isso, é importante que ela tenha esse padrão definido nas normas,e que se escute também a experiência desses grupos específicos, pois os turistas encontrarão aqui obras que representam mais do que a definição de um técnico, ou um engenheiro; terão o zelo de quem sente na pele, no dia a dia , essa necessidade.

As ciclovias em execução no Plano Piloto vão atender quais áreas?
O governador Agnelo Queiroz determinou que vai transformar o Plano Piloto numa cidade com uma malha intensa de ciclovias. As primeiras serão as que estão sendo implantadas na L2 Sul e Norte, envolvendo uma ciclovia no sentido longitudinal da via e com acesso às quadras 200 e 400. Depois, isso vai se repetir paralelo ao eixo W e tem uma previsão de uma outra longitudinal no sentido do Eixão, que está integrada ao projeto que ganhou o concurso de arquitetura para a revitalização das passagens subterrâneas. E depois todas elas estarão ligadas no sentido transversal. Quer dizer: desde as quadras 900, 700 até as 300 e 100 acima do Eixão, e abaixo também, as 200, 400 até as 600 haverá a ligação transversal à principal ciclovia.

Qual o objetivo dessa malha cicloviária?
Quando tudo estiver concluído, teremos uma malha que permitirá às pessoas se deslocarem praticamente em todos os sentidos. A preocupação hoje do governo é transformar essas ciclovias para o uso de transporte, como um modal de transporte moderno, ambientalmente correto, para aproveitar principalmente a topografia do Plano Piloto, que é favorável à prática do ciclismo. A cidade não tem morros e nem grandes obstáculos que não possam ser superados com as obras dessa malha cicloviária.

Como tem sido o retorno do programa 'A Administração vai à Quadras'?
Trata-se de um projeto extraordinário pela recepção que a comunidade e as lideranças comunitárias têm dado e um diálogo muito produtivo dos moradores com a administração. No geral, recebemos muitas demandas e críticas sobre o estado em que se encontra a cidade, mas também, é a oportunidade da comunidade perceber o esforço que a administração e que o GDF vêm fazendo, como o zelo para melhorar as condições de vida da nossa população. Além dessas críticas, temos recebido muitas sugestões e elogios por parte das iniciativas já adotadas.

Como é esse diálogo?
Fica claro que essa conversa com a comunidade é muito produtiva para ver se as medidas tomadas estão sendo corretas e se atendem às expectativas. Às vezes, vêm críticas e sugestões para correção de mazelas antigas que a cidade convive a 20 ou 30 anos. E isso é encaminhado aos órgãos competentes. Não é o administrador que vai às quadras. É o governo do Distrito Federal que vai com uma equipe formada por um representante da Novacap, da Polícia Militar, do Serviço de Limpeza Urbana e da Companhia Energética de Brasília, de tal forma que essa equipe que atende diretamente à população pode ouvir e dar retorno de suas iniciativas à comunidade.

Quais são as maiores reivindicações?
São problemas de natureza urbanística graves na cidade e transcendem a uma ação administrativa. São problemas de estacionamento e uso do comércio local. Nas quadras onde têm muitos restaurantes ou determinadas atividades, que por si só atraem muita gente e muitos carros, há grande estresse no trânsito da quadra comercial que transborda para a quadra residencial. Mesmo nas quadras mais tranquilas que têm o comércio à moda antiga de comércio local, a área residencial é obstruída pelo automóvel, porque em Brasília, em quase todas as residências, há mais de um carro e, no máximo, os prédios têm uma vaga para cada apartamento. Daí, há um tensionamento, porque o estacionamento público não comporta esse número exagerado de automóveis.

Há muitos conflitos com estas reclamações?
Há sim. Não raro há conflitos de interesse dentro da comunidade, porque em algumas quadras temos uma população com um perfil mais definido, como quadras com idosos que reivindicam pontos de encontro comunitário (PECs), o tipo de calçada mais propício para o andar das pessoas com idade mais avançada. Já as quadras com casais com filhos adolescentes, a população solicita espaços esportivos e os casais mais jovens pedem instalação de parques infantis. E as mistas têm muitos conflitos. Quando acabamos de recuperar áreas de esporte a pedido da comunidade, depois parte dessa comunidade vem reivindicar para que seja fechado em determinado horário porque os adolescentes utilizam os espaços até de madrugada e fazem barulho e perturbam os vizinhos mais próximos. Quanto a iluminação também. Muitos pedem mais iluminação e quando colocamos os postes outros vêm reclamar e pedir a retirada do poste porque não conseguem dormir em razão da claridade.

Como é feito esse gerenciamento?
Essas críticas são normais em uma sociedade democrática como a nossa. Esses problemas foram tão fortes no ano passado, e observamos que recebíamos muitos síndicos que traziam muitos problemas do seu prédio e que tinha a ver com o prédio vizinho ou com os comerciantes, de tal forma que decidimos oferecer um curso para formação de síndico, que é um projeto que está em execução e vitorioso, porque criamos uma escola de gestão e o primeiro curso para síndicos aborda desde os problemas da legislação de condomínios até a questão de prestação de contas (contabilidade), como fazer uma reforma na área tombada já que Brasília é uma cidade tombada pela Unesco. Portanto, se isso é um orgulho para nós, precisa ser bem gerenciado no dia a dia. E esteconceito de Brasília, Cidade Parque é o que garante uma excelente qualidade de vida à nossa cidade e a todos nós.

O curso de formação de síndico foi bem aceito?
Bastante. E há uma disciplina importante, de nome Gestão de Conflitos e Relações Interpessoais. E é uma das disciplinas que mais chamou a atenção dos síndicos, porque no cotidiano eles convivem com conflitos. Às vezes,é de um bloco com outro, de um grupo com outro, ou de uma geração com a outra, que geram demandas distintas e complexas. O ponto de equilíbrio é que precisa ser encontrado para se trabalhar bem.

Como o senhor vê a Brasília de hoje?
Brasília é uma cidade cosmopolita e está no centro de uma grande região metropolitana. Ela não é uma bolha isolada do reflexo de toda a população que a habita. Isso interfere na paisagem bucólica do passado em que a quadra era uma redoma. Hoje, ela sofre pressão, tem barulho, porque conta com grande número de veículos, outros decorrentes das áreas de lazer, dos bares, restaurantes, animais… Tudo isso gera conflito. Entretanto, uma cidade grande, cosmopolita e que recebe influência cultural de outros estados, e do mundo inteiro, deve aprender a viver como uma cidade cosmopolita moderna, onde se garante qualidade de vida a todos os moradores, com uma certa tolerância e apreço a este ambiente cultural.

DAISE LISBOA, [email protected] Redação Jornal da Comunidade