Rio+20: Conselho de Juventude media debate sobre política juvenil

O público era tímido no início da manhã, mas o debate esquentou a partir das dez horas, quando o público quase lotou a Arena Socioambiental para ouvir o consultor para sociedade de informação Marcelo Branco, a cientista social Regina Novaes, o atual secretário executivo da Organização Continental Latinoamericana e Caribenha de Estudantes (OCLAE) Mateus Fiorentini, a secretária nacional de Juventude, Severine Macedo, e o rapper Genival Oliveira Gonçalves, o GOG.

O debate foi mediado pela socióloga e atual presidente do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) Ângela Guimarães.

GOG defendeu que cultura deve ser peça chave em qualquer debate que envolva a juventude, não importa se o tema é educação, segurança ou meio ambiente. A criação do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) e a realização das duas Conferências Nacionais de Juventude são ações recentes que colocam o Brasil como um dos líderes no diálogo sobre o tema. Mas os debates sobre o protagonismo da juventude brasileira nos últimos 20 anos e sua importância nas políticas públicas e nos espaços de participação social seguem sendo motivos de preocupação sobre como valorizar o envolvimento da população abaixo dos 35 anos, que soma 49 milhões de brasileiros, no fortalecimento da democracia no país. Bem por isso, o debate de hoje faz parte de uma ampla agenda de ações planejada pelo Juventudes na Rio+20, reunindo a Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, em parceria com o Conselho Nacional de Juventude e diversos coletivos como Fora do Eixo, Viração, Viva Favela, Agência de Redes para a Juventude e Pontão de Cultura Digital da ECO/UFRJ.

“A causa ambiental não é uma causa fácil”

Questões como meio ambiente, desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza e combate à desigualdade estão na pauta da agenda do Juventudes na Rio+20, que pretende incluir reivindicações já discutidas e aprovadas pelos movimentos de juventude no documento final da Conferência. Neste sentido, Regina Novaes defende que um panorama histórico sobre o tema é importante para realçar a transversalidade de debates proporcionada para a geração deste início de século.

“Eu quero dar um depoimento geracional, principalmente porque a questão ecológica estava muito distante das discussões que tínhamos durante a Guerra Fria, por exemplo. Falávamos em classe operária e nas contradições do capitalismo, mas não nesta específica. A nova geração pode considerar a construção de uma utopia ampla que pensa desenvolvimento social, ambiental e econômico”, disse.

Segundo a cientista social, além de temas tradicionais como desemprego e violência, a falta de água no planeta já figura entre os principais medos da juventude brasileira. “A crítica ao modelo social somada à critica ao modelo ambiental é uma oportunidade que deve ser agarrada com todas as forças. É um debate no qual podemos alargar os aliados, onde podemos discutir as matrizes do desenvolvimento. Apesar disso, a causa do meio ambiente não é apenas uma questão de adesão, não é uma causa fácil, ela deve ser o mais abrangente possível para ser a utopia das novas gerações”, concluiu.

As redes e as ruas

Uma espécie de histórico do movimento jovem brasileiro, de Zumbi dos Palmares à geração que mantém o twitter permanentemente ligado nos telefones celulares, foi a tônica da fala de Matheus Fiorentini. “A relação do movimento estudantil brasileiro com a América Latina é um tema fundamental desde a Jornada Continental de Lutas, que aconteceu em agosto do ano passado.” De qualquer forma, Fiorentini não acredita que a sociedade em rede vá substituir formas tradicionais de luta pelo mundo digital. “A juventude dialoga com estas tecnologias, mas é maior que isso, conecta rede e território. A passeata, o protesto e muitas organizações tradicionais seguem importantes e vivas”, disse.

Para Branco, a história é um pouco outra. “O período histórico que estamos vivendo reúne uma revolução tecnológica e social que poderia ser comparada à Revolução Industrial. As redes potencializam atributos que já existiam, mas também criam novas formas de relacionamento e participação. Também é lógico que não adianta apenas banda larga se reproduzirmos modelos sociais antigos. Não é o patamar de tecnologia que determina o modelo social, se vamos ter mais ou menos liberdade. Um modelo pode ser tecnológico e autoritário. Mas são as conquistas nesse campo que vão determinar a democracia e a vida na sociedade em rede”.

GOG e o peso da palavra

Último a falar, o rapper e escritor defendeu com poesia que cultura deve ser peça chave em qualquer outro debate, não importa se o tema é educação, segurança ou meio ambiente. “Desenvolvimento sustentável na ótica da periferia é simples. Desenvolver é nascer, crescer e viver, o que achamos bem difícil. Sustentabilidade é sustento diário, o que também é difícil. Na verdade, vemos que o extermínio da juventude negra se dá de várias formas. Somos quem menos contribui para a poluição e, ao mesmo tempo, os que mais trabalham para o sistema estabelecido que se alimenta do nosso sangue e da nossa vitalidade, do nosso sangue e da nossa caminhada diária”. O público aplaudiu.

“Os dados de reciclagem de latinhas não estão vinculados à ação governamental, mas existe uma parte grande da população que sobrevive catando latinha. Será que a participação de negros e negras na Copa do Mundo, por exemplo, será vender cerveja e catar latinha no final do espetáculo? A geração que nasceu em 2001 vai chegar na FEBEM no ano que vem. Entende? É um rolo compressor. Como vamos impedir que esses meninos cheguem na FEBEM? Nós temos as UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, mas nós periféricos acreditamos nas Unidades de Poesia Preta. A cultura que vai nos permitir trabalhar estes temas. Li que 70% da população brasileira não sabe o que é a Rio+20, mas o problema mesmo é que os outros 30% pensam que sabem. Não quero saber se o Obama veio ou não, o que importa é que a gente tá aqui, tentando descobrir”, finalizou GOG, seguido de mais aplausos. O rapper ainda defendeu que educação sem cultura é treinamento e disse que sente falta da palavra cultura nos debates da Rio+20.

Fonte: Arena Sócio Ambiental