João Ananias: Da Eco-92 a Rio+20

Vinte anos depois da ECO-92 o Rio de Janeiro recebe a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Um evento que, com certeza, vai colocar o tanto o Rio como o Brasil sob os holofotes da imprensa internacional. O Itamaraty já confirmou a participação de 130 países e os cálculos apontam para um custo de R$ 430 milhões , aproximadamente, com a organização, segurança, passagens e diárias.

Por João Ananias*

Paralelamente, ocorre a reunião da Cúpula dos Povos, um encontro dos movimentos sociais sem ligação oficial com a Rio+20 e que tem uma posição critica em relação aos objetivos atrelados ao lucro e defendidos pela ONU.

É com certeza um grande evento sobre o meio ambiente e o consumo sustentável, tema que, conforme pesquisas realizadas, aponta uma evolução na consciência da população brasileira que enxerga na poluição dos rios, lagos, e no desmatamento seus principais sintomas. Onde 85% dos entrevistados estão dispostos a aderir a uma campanha para reduzir o uso de sacolas plásticas.

Mesmo sendo um assunto ainda desconhecido, a Conferência Ambiental é uma grande oportunidade para que os chefes de Estado assumam compromissos como uma relação mais harmoniosa do homem com a natureza, já que a sustentabilidade não é uma proposta de redação romântica, de discurso apaixonado ,e sim uma questão de sobrevivência do homem como animal predador.

A racionalidade, filha do conhecimento científico, deve ser a norteadora das soluções para controlar o desmatamento das florestas, a poluição do ar e da água, a pesca excessiva, bem como a mãe de novos processos e tecnologias para reduzir as emissões de gases, aumentar a reciclagem, o reaproveitamento da água nos processos industriais, a fabricação de novas máquinas como as geladeiras que são produzidas hoje e consomem 60% menos energia do que as fabricadas há 10 anos, e muitos outros pontos dessa agenda contemporânea.

Hoje o planeta gira com sete bilhões de habitantes. Todos querendo uma vida melhor e confundindo isso com a aquisição de um número maior de produtos supérfluos. Éramos 5,5 bilhões na ECO-92, tínhamos 2.4 bilhões de moradores urbanos, hoje são 3.5 bilhões. Tínhamos 656 milhões de pessoas vivendo em favelas; hoje são 827.

Esses números mostram o desequilíbrio social e econômico do neoliberalismo verde, o caminho que a humanidade tomou nesses últimos 20 anos. Um caminho que passa longe do que se pode chamar de um harmonioso desenvolvimento sustentável e denuncia que algum desvio precisa ser feito para evitar o abismo.

* João Ananias é deputado federal (PCdoB-CE)

Fonte: O Povo