Negociações devem ir até últimas consequências, prevê negociador

Uma tendência na diplomacia de levar os debates até as últimas consequências para forçar uma resolução mais favorável deve a aplicada ser aplicada na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Essa é a avaliação do diretor da divisão de Desenvolvimento Sustentável do departamento de Desenvolvimento Econômico e social da ONU, Nikhil Seth, porta-voz das negociações nesta quinta-feira (14).

Há impasse em diversos pontos do documento base que está sendo preparado por grupos de negociadores, que será fechado nas discussões de cúpula entre os líderes mundiais. As divergências vão desde a formulação do conceito sobre economia verde, passando pelos mecanismos de sua implementação, até as responsabilidades dos países desenvolvidos, que consumiram (e poluíram) mais.

“Uma negociação longa também dá aos países um sentimento de comprometimento, de que o documento final é de cada um”, afirmou Seth. “Há muitas novidades na declaração que está em discussão: nunca se falou tanto em responsabilidades da sociedade civil, em parcerias, por exemplo. Há um foco muito maior em implementação e decisões participativas."

Desde ontem 13, o comitê preparatório se reúne para trabalhar no texto da declaração “O Futuro que nós queremos” que deve ser aprovada na reunião de cúpula, ao final da conferência. A Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, ocorre de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro.

“Deixamos Nova York com cerca de 21% da declaração pronta, aqui avançamos para 25%. Pode parecer que o avanço foi pouco, mas as negociações se concentram em quatro ou cinco pontos que, quando forem resolvidos, vão liberar boa parte do texto”, disse Seth.

Na sexta-feira (8), o jornal inglês "The Guardian" divulgou o rascunho do documento sob negociação e revelou que, na verdade, apenas 20% do texto está fechado. Na maior parte do documento, há discordâncias sobre a redação do texto, em sua maioria opondo os países do G77, o bloco dos países em desenvolvimento, onde está o Brasil, aos europeus, japoneses ou americanos.

Apenas no preâmbulo da declaração "O futuro que queremos", que deveria expressar as "visões comuns" dos países na mesa, há seis trechos sobre os quais os diplomatas não se entendem. Na seção sobre "economia verde", termo cujo significado exato ainda está em construção e que deve ser muito debatido na conferência, são mais de 60 trechos em discussão.

Segundo Zukang, para acelerar as negociações, o projeto de declaração foi dividido em duas partes, que serão discutidas por dois grupos de trabalho: um vai se ater à redação dos primeiros capítulos e dos capítulos intermediários, onde a discussão é mais formal, e outro deve redigir as recomendações aos Estados-membros e à sociedade civil, que costumam encerrar esse tipo de documento.

Da redação com UOL