Agnelo denuncia perseguição e abre sigilos à CPI

Governador do DF depôs por quase dez horas, diz que encontrou Cachoeira apenas uma vez e que tem renda para bancar seu patrimônio.

Agnelo denuncia perseguição e abre sigilos à CPI

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, negou nesta quarta-feira à CPI qualquer favorecimento à construtora Delta, alvo de denúncias que envolvem o bicheiro Carlos Cachoeira, e disse que sofre perseguição política pelo crime organizado no DF. Ele negou também ter favorecido o grupo do contraventor. “É legitimo eu questionar, quero o nome de uma pessoa que eu tenha nomeado a pedido de Cachoeira. Um só nome que eu tenha nomeado a pedido de Cachoeira com todas as 30 mil horas de gravação [da Operação Monte Carlo]”, afirmou. Agnelo disse que não vai “conviver com desconfiança da sua biografia” e colocou à disposição da CPI seus sigilos bancário, fiscal e telefônico. E foi muito aplaudido por parlamentares da base aliada presentes na comissão.
O governador do DF, Agnelo Queiroz, depõe à CPI do Cachoeira Embora cobrado ontem, o governador de Goiás, Marconi Perillo, que depôs por mais de oito horas, não tomou a mesma atitude. A cobrança, chegou a causar alvoroço na CPI e gerou bate-boca. Hoje, no entanto, após a decisão de Agnelo, Perillo mandou recado à CPI de que abre também suas informações bancária, fiscal e telefônica. Agnelo também assinou um documento que determina as quebras. A CPI deve votar a abertura dos sigilos de Perillo e Agnelo em reunião marcada para quinta-feira.
Agnelo também afirmou que o DF tem apenas um contrato com a Delta, o de coleta de lixo, e que o documento foi assinado antes do início do seu governo em 2011. O governador rebateu “a versão de alguns veículos de comunicação”, segundo a qual ele teria assinado um ofício que beneficiaria a Delta antes de tomar posse como governador do DF. “Isso é uma mentira, está aqui o ofício, foi expedido no dia 15 de dezembro de 2010 (…), coleta de lixo, varrição de ruas, aluguel de veículos oficiais e outros ofícios da minha época de transição, minha equipe de transição que encaminhou para o Rosso (Rogério Rosso, ex-governador do DF). O contrato da Delta não fazia parte desses serviços (…). A Delta entrou no DF em 2007, na gestão Arruda (ex-governador José Roberto Arruda, que caiu em 2010 após denúncias do mensalão do DEM)”, afirmou o governador. O depoimento de Agnelo começou às 10h35. "Minha presença na CPI é fruto da luta política", disse o governador do DF no início de sua fala. "Não há no documento [requerimento de convocação] nenhum ato que eu tenha praticado em favor de Cachoeira e da empresa Delta (…). A história que trago aqui é a de um governo perseguido pelo crime organizado", afirmou.
Agnelo alegou, em momentos diferentes de sua fala, “perseguição política”, “campanha orquestrada”, “ataque leviano”, “interesses baixos”, “operação meticulosa para desgastar a imagem do governador” etc. Disse que sofre perseguição porque feriu interesses de grupos que tinham interesses, contratos e negócios no DF e que apertou a fiscalização de contratos quando assumiu o governo em janeiro de 2011.
“Nesse um ano e seis meses de mandato, tenho enfrentado todos os tipo de sordidez que um político pode enfrentar, ataques de todas as formas. Não podem atacar meu governo, já atacaram questões pessoais, minha família, minha mãe. Além de criminosos, são covardes. Quero dizer que vou resistir, vou continuar lutando contra esse grupo.
Esperamos que as apurações da Caixa de Pandora [que investigou o mensalão do DEM e derrubou o então governador Arruda] sejam concluídas e divulgadas. Não é possível que quem praticou crime não esteja preso e continue com os mesmos métodos de organização criminosa”, disse à CPI.
Agnelo declarou que esquemas de espionagem e arapongagem são práticas recorrentes na capital do País. Segundo ele, "muitos desses grupos criminosos" que se valem das interceptações ilegais são aqueles que "anunciaram várias vezes" que ele iria cair.
Encontro com Cachoeira e outras denúncias Ainda sobre Cachoeira, Agnelo afirmou que encontrou o contraventor apenas uma vez, em visita à empresa farmacêutica Vitaplan, em Anápolis (GO), e disse que impediu o grupo do bicheiro de entrar no negócio de controle do sistema de bilhetagem dos ônibus do DF. “Quando assumi, o Estado assumiu o controle do sistema, o DFTrans passou a controlar a bilhetagem em junho de 2011, aqui estão os documentos”. Segundo o governador, várias fraudes foram descobertas, como cartões clonados, e o gasto teria sido reduzido de R$ 9 milhões para R$ 3 milhões.
Um embate entre Agnelo Queiroz e integrantes da oposição esquentou a CPI. Um dos mais exaltados era o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que se irritou com a presença de assessores do governador. Segundo o deputado, eles estavam debochando dos parlamentares. Outro momento tenso foi protagonizado pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) quando ele perguntou a Agnelo quem o convidara para visitar a Vitaplan, de
Cachoeira. Agnelo respondeu: “A empresa”. E Sampaio rebateu: “Empresa é pessoa jurídica, não fala”. Houve protestos dos dois lados. Agnelo também se irritou com uma pergunta do deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) sobre o valor de sua casa. "Não sei, não sou corretor. Não estou acompanhando o mercado imobiliário. Tenho muito o que fazer no
Distrito Federal".
Agnelo também negou denúncias sobre sua passagem na Anvisa e também no Ministério dos Esportes, ainda na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No começo do seu depoimento, ele também falou sobre suspeitas em relação ao seu patrimônio, que teria aumentado mais de 400% em quatro anos. Agnelo afirmou que tem renda suficiente para
pagar pelos seus bens. “Sou cirurgião casado com uma ginecologista há 30 anos, ela já aposentada. Fui deputado por 16 anos, 8 anos morando em apartamento funcional. Disputei o Senado e perdi por margem pequena de votos, foi quando eu e minha esposa juntamos nossas economias para comprar uma casa e compramos um imóvel, achamos essa casa em obra inacabada num condomínio de classe média do DF, parcelamos e pagamos e está declarada no Imposto de Renda”.
Ex-chefe de gabinete
O governador do DF afirmou que mantém confiança no seu ex-chefe de gabinete Cláudio Monteiro, que pediu demissão após ser flagrado, pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em interceptações telefônicas com dois supostos operadores do contraventor. "Eu
perguntei ao Cláudio Monteiro e ele me garantiu que isso não aconteceu, não teve o repasse, não tem uma interceptação com o Cláudio Monteiro", respondeu Agnelo, ressaltando que foi o próprio Monteiro quem preferiu colocar o cargo à disposição.
O grupo de Cachoeira também teria entregue um aparelho Nextel a Cláudio Monteiro. O governador do DF disse que também questionou o ex-assessor sobre o tema e, segundo ele, Monteiro negou ter recebido o aparelho. Agnelo, lembrando que Monteiro também colocou seus sigilos à disposição a fim de apurar "a verdade dos fatos". O governador do DF disse que uma investigação dentro do GDF apura a conduta do seu ex-auxiliar direto. Na semana passada, exonerou dois secretários para engrossar sua bancada na Câmara.
O governador também determinou o rompimento do contrato que a empreiteira Delta mantinha com o DF. Petistas, no entanto, se dizem tranquilos em relação ao depoimento de Agnelo. “Todas as questões serão esclarecidas”, afirma o vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP). “Acho que Agnelo virá convicto e de alma tranquila”.
Reclamação da oposição
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), reclama que a comissão recebeu, na quarta-feira da semana passada, apenas parte do inquérito da operação Saint Michel. “Não creio em surpresas porque não vieram os anexos com as gravações telefônicas, que podem aprofundar as relações de Cachoeira com o governo do Distrito Federal”, diz o tucano.
Na sessão de ontem da CPI, que ouviu o governador do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), Dias levantou uma questão de ordem questionando a demora no recebimento dos dados. “Estamos sendo rápidos para aprovar requerimentos, mas as informações estão chegando em um passo muito lento. Não vamos poder nos valer disto”, assinala.
Iniciada em abril, a operação Saint Michel é um desdobramento da Monte Carlo, que resultou na prisão de Cachoeira e outras pessoas ligadas a ele. A investigação da Polícia Civil da capital identificou a tentativa do grupo do contraventor em fraudar licitações para
implantação de bilhetes eletrônicos no transporte público de Brasília.
Mesmo sem as gravações, a oposição promete rigor contra Agnelo similar a que aliados tiveram no depoimento de Perillo. Deve abordar, por exemplo, o suposto envolvimento do petista e de seus assessores em lobby para um grupo farmacêutico acusado, entre outras coisas, de sonegação fiscal e falsificação de medicamentos.