Em 27 anos, Israel impediu 240 mil palestinos voltarem para casa

Israel negou o direito de retorno a mais de 240 mil palestinos aos territórios ocupados, informou documento do Ministério de Defesa do país. Os dados, divulgados a pedido da ONG Haoked, tratam dos palestinos que tiveram seu direito de residência cassado pelo governo israelense desde a guerra de 1967 até os acordos de Oslo de 1994.

Segundo o documento, 140 mil moradores da Cisjordânia e outros 100 mil residentes de Gaza saíram de suas terras e foram impedidos de retornar aos territórios ocupados por Israel, deixando família e propriedades. A COGAT (Coordenação das Atividades do Governo nos Territórios) explicou que desses 240 mil, cerca de 44 mil perderam seus direitos por estarem fora do país há sete anos ou mais, deixando de renovar a permissão; outros 61 mil deixaram de responder ao censo de 1981 ou de 1988.

Marian Massi fez parte desses 240 mil pessoas. Nascida em 1932 na cidade de Ramallah, (Cisjordânia), a palestina abandonou sua terra e familiares em decorrência da guerra de 1967. Escoltada pelo exercito jordaniano, Marian levou seus filhos ao campo de refugiados da Alzarca. Em seguida, seguiu até o Líbano, onde conseguiu o visto para morar no Brasil, onde possuía familiares e amigos.

Em 1998, Marian e seu marido decidiram retornar à sua terra, mas nunca conseguiram autorização. Israel lhes negou até mesmo o visto de turistas. Mudaram-se então para a Jordânia e até 2005, tentaram receber a permissão para voltar à Palestina. Marian faleceu em 2006, com 74 anos, a 90 quilômetros de sua aldeia natal sem nunca conseguir visitá-la.

Refugiados

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (e inglês, UNRWA) entende que palestinos, como Marian, não são refugiados. Para a agência, apenas aqueles que perderam suas casas e meios de vida como resultado da guerra árabe-israelense de 1948 se enquadram no perfil.

Existem correntes, entretanto, que discordam da definição da ONU. Intelectuais e ativistas defendem que os palestinos foram forçados a sair de suas terras após o conflito de 1967, quando Israel ocupou os territórios palestinos Cisjordânia e Faixa de Gaza.

No ano passado, quando a Assembléia Geral da ONU discutiu o reconhecimento do Estado palestino, a controversa questão do direito de retorno dos palestinos foi levantada. A proposta do presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas incluía Marian e os deslocados de 1967, mas não os cinco milhões de refugiados de 1948.

Intransigência

Israel não aceitou os termos apresentados pela Autoridade Palestina e não mostra sinais de admitir o retorno dos 240 mil palestinos deslocados. Pelo contrário, a política do governo israelense apenas indica que a criação de um estado palestino está cada vez mais distante. Os territórios estão sendo ocupados, cada vez mais, por assentamentos israelenses.

Em entrevista ao Opera Mundi, o analista israelense, Illan Pape, explicou: “Não há nenhum movimento na sociedade, qualquer que seja, o que permite a Israel aprofundar e expandir o projeto de assentamentos na Cisjordânia e na área da Grande Jerusalém. Cada expansão faz com que a ideia de dois Estados seja cada dia mais irreal”.

O caso de Marian é apenas um entre milhares. Seu filho explicou ao Opera Mundi que apesar de ter herdado a propriedade de seus pais, não tem direito de visitar nem residir o local. Segundo ele, a terra de seus pais é hoje, ocupada por colonos judeus que a cercaram de seguranças.

Fonte: Opera Mundi