Edgar Alan Poe não salva filme O Corvo da mediocridade
Não, esta não é a continuação (ou o remake) do clássico cult The Crow (1994) estrelado por Brandon Lee. O filho do mítico Bruce Lee morreu durante as filmagen daquele e, mesmo se este fosse o caso de um remake, John Cusack certamente não seria o protagonista. Este O Corvo, dirigido por James McTeigue (do satisfatório V de Vingança), conta a última história vivida pelo escritor Edgar Allan Poe antes da sua morte precoce em 1849, aos 40 anos.
Publicado 06/06/2012 16:23
Encontrado em estado catatônico num banco de praça em Baltimore (não se preocupe, isso é história, não spoiler), as causas da morte do poeta norte-americano até hoje são indefinidas, o que as tornam um terreno fértil para várias teorias. Essa é a premissa que O Corvo utiliza para seu roteiro, que começa relativamente bem, até o malfadado segundo ato que leva o longa para uma conclusão definitivamente tosca.
Quando uma mãe e sua filha são encontradas brutalmente assassinadas na Baltimore do século 19, o detetive Fields (Luke Evans, insípido como sempre) reconhece as pistas deixadas na cena do crime: são as mesmas escritas num dos romances do escritor Edgar Allan Poe. Ao procurar o poeta para dar um depoimento e auxiliar nas buscas (já que é óbvio ele próprio não ser o assassino), Fields se depara com um Poe falido, bêbado, mas ainda extremamente sarcástico.
Este é o ponto forte do longa. Apesar dos conhecidos altos e baixos da carreira de Cusack (para ficar apenas nos números, lembremos das atuações no suspense 1408 e no apocalíptico 2012), ele consegue passar, de forma efetiva, credibilidade à sua versão de Allan Poe. Se o roteiro de Ben Livingston e Hannah Shakespeare não se esforçasse tanto para tornar o filme um clichê, no sentido mais banal possível do termo, poderíamos dizer que O Corvo seria um marco na carreira de Cusack. Só que não, infelizmente…
Sequências tediosas
Voltando à trama. Allan Poe só decide ajudar nas investigações quando o caso se torna pessoal. Lógico. Na recriação de uma das tragédias literárias, em uma festa à fantasia (um clichê bem empregado), o misterioso assassino sequestra a mocinha Emily Hamilton (Alice Eve, que também está em cartaz em MIB III). Para salvar a amada, o escritor precisa ajudar a polícia a pegar o serial killer.
O romance, apesar de breve, é bem trabalhado, e é impossível não se encantar com a beleza e os traços marcantes de Eve no papel de uma jovem determinada que, em pleno século 19, pretende enfrentar o pai (Brendan Gleeson, em mais um papel severo) para se casar com o homem que ama. No caso, um poeta com poucos resquícios de ainda ser o “grande Edgar Allan Poe”.
Pois bem, a trama segue para um segundo ato recheado de sequências longas, tediosas e às vezes sem sentido. O que dizer da cena do cemitério, em que o auxiliar de Fields é esfaqueado, o próprio detetive toma um tiro, e só resta a Poe correr atrás do assassino em um bosque. Não antes de Luke Evans, numa atuação digna do "Framboesa de Ouro", gritar o óbvio “Vá atrás dele, Edgar!“. Patético.
Desfecho nonsense
Outro elemento falho do roteiro é a maneira que o serial killer escolhe para agir. E pare por aqui se não quiser saber fatos importantes da trama. Ele quer que Poe volte a escrever, estipula o jornal na qual a coluna sobre o caso deve ser publicada – o editor interpretado por Kevin McNally, de Piratas do Caribe, é uma boa surpresa -, mata um crítico literário que era desafeto de Poe e que, grande surpresa, era funcionário no jornal. Difícil descobrir de quem se trata, não? Pois, mesmo com todas essas dicas, a trama parece tão complicada para as mentes do escritor e do detetive que o assassino praticamente se entrega no último ato, provavelmente não acreditando na inapetência de seus perseguidores.
O desfecho é tão nonsense que é melhor não comentar. Até porque parte dele já nos é apresentado no início do filme: lembram que Allan Poe foi encontrado quase morto num banco de praça? Ninguém tem esperanças de uma conclusão feliz (ou de qualquer solução diferente) quando o desfecho é mostrado logo no começo. Bota anti-clímax nisso…
No fim das contas, O Corvo vale a pena pela atuação de Cusack, pela boa química entre o casal, pela competente direção de arte (com figurinos fiéis à época), e pelos coadjuvantes bem empregados. Com a exceção de Evans, claro. Até agora, não vi um filme em que ele tenha atuado bem, e esta já é a quarta vez, contando com Imortais, Os Três Mosqueteiros e Fúria de Titãs. E a lista deve continuar.
Em todo caso, não vá para o cinema com grandes expectativas. Com a mesma pegada de O Corvo, temos os filmes e a série Sherlock Holmes – e até o longa brasileiro O Xangô de Baker Street – como melhores opções de “suspense literário” em nosso cinema atual.
The Raven
EUA – 2012
Filme – 111 minutos
Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingston e Hannah Shakespeare
Elenco: John Cusack, Alice Eve, Luke Evans, Brendan Gleeson e Kevin McNally
Fonte: A Mosca Branca