Evento LGBT acusa escola de não enfrentar violência contra gays

A representante da Secretaria de Direitos Humanos, Nadine Borges, disse que professores não estão preparados para enfrentar o debate sobre a violência contra os homossexuais. Para ela, a escola deve ser espaço de conquista de cidadania. “O adolescente não pode achar que é sua orientação sexual é crime”, afirmou, durante o 9º Seminário Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), realizado nesta terça-feira (15), na Câmara dos Deputados, em Brasília. 

O seminário, organizado pelas comissões de Direitos Humanos e de Educação, discute durante todo o dia a sexualidade na infância e na adolescência, papel de gênero e bullying.

A representante do movimento “Mães pela Igualdade”, Marlene Xavier, mãe de quatro filhos homossexuais, contou que há 10 anos perdeu um de seus filhos por conta da homofobia. “Ele foi tirado de mim por pessoas homofóbicas, e os responsáveis por isso estão livres, porque são pessoas de grande poder aquisitivo, infiltradas na política”, relatou, confirmando as palavras de Nadine, de que, em pleno século 21, muitos adultos ainda morrem no Brasil por conta da sua orientação sexual.

De acordo com Marlene, nunca foi fácil lidar com o desrespeito da sociedade com seus filhos e com o sofrimento deles com o ‘bullying’ e outras formas de violência. Segundo ela, seus filhos tiveram dificuldades de conseguir trabalho na cidade mineira onde nasceram – Montes Claros. “Foi difícil não deixar que meus filhos caíssem na marginalidade e foi difícil lidar com o pai das crianças”, relatou. “Apesar de amarmos profundamente nossos filhos, não desejamos que sejam homossexuais por medo da sociedade, por medo da discriminação”.

Sem defesa

O deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) destacou que a violência contra os homossexuais, que inclui casos diários de assassinatos, tem origem na infância. Wyllys, que é coordenador da Frente Mista pela Cidadania LGBT na Câmara, deu depoimento pessoal sobre sua infância em Alagoinhas, no interior da Bahia.

“Eu gostava de fazer desenhos, brincar de roda, de cantar e de brincar de boneca com as minhas primas. Eu gostava de coisas de menina”, disse. Segundo ele, nessa época começou a ser chamado de apelidos ofensivos e receber outras injúrias, além de ser vítima de violência física, por parte de outras crianças e também por parte de adultos, inclusive familiares.

“Essas crianças não recebem nenhuma defesa na escola, e os professores muitas vezes inclusive culpam as crianças pelas injúrias recebidas”, afirmou. “Quem mandou ter esse jeitinho?, perguntam as professoras”. Segundo ele, os efeitos do tratamento hostil nas crianças e adolescentes vão da timidez a deficiências da fala, chegando a psicoses.

Conforme a representante da Secretaria de Direitos Humanos, a violência contra crianças e adolescentes, inclusive de gênero, também pode ser denunciada por meio do serviço Disque 100, criado inicialmente para receber denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes.

De Brasília
Com Agência Câmara