Capistrano: Neiva Moreira (1917/2012)
Li, no Vermelho (10/5/2012), com muito pesar, a notícia da morte do jornalista Neiva Moreira, ele estava com 94 anos de uma longa e profícua vida. Fiquei a rememorar as lutas desse grande militante de esquerda e resolvi publicar um artigo que eu tinha escrito e publicado em 2003.
Publicado 11/05/2012 09:48 | Editado 04/03/2020 17:07
Hoje, poucos conhecem a história e a luta dessa personalidade da vida política e jornalística do Brasil, presença marcante nas lutas democráticas e nacionalistas dos últimos 60 anos. Mesmo com o passar do tempo Neiva Moreira continuava firme com seus ideais. Tive a grata satisfação de assistir uma entrevista concedida por ele a TV Câmara no dia 22 de julho de 2003. Figura histórica da esquerda brasileira que ao lado de Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Almino Afonso, Josué de Castro, Miguel Arraes, Djalma Maranhão e outros, marcaram o cenário político do nosso país.
Lembro-me da sua presença em Natal no famoso comício de maio de 1963 da Frente Parlamentar Nacionalista, comício realizado no Grande Ponto, era o contraponto das forças nacionalista contra a presença no Palácio Potengi do embaixador norte-americano Lincoln Gordon em jantar com o governador Aluisio Alves e o general Antonio Carlos Muricy, naquele momento o embaixador Lincoln Gordon já estava tramando o golpe de 1964 que iria implantar a famigerada ditadura militar.
O comício de maio em Natal foi realizado pelas forças nacionalista. Forças essas lideradas aqui no nosso Estado pelo prefeito Djalma Maranhão, uma das maiores liderança de esquerda do nordeste e um dos melhores prefeitos da cidade de Natal.
Neiva Moreira era ligado ao brizolismo. Com o golpe militar de 1964 teve os seus direitos político cassado. A partir daí vai para o exílio, vivendo em vários países da América Latina. Com o golpe militar no Chile em 1973 e o predomínio das ditaduras no nosso continente ele vai para a África mediterrânea. Fixa residência na Argélia, onde já estavam alguns brasileiros, entre eles Miguel Arraes, um velho amigo do PTB, de quem foi hóspede durante certo tempo. Neiva inicia um novo trabalho no jornalismo com criação da revista Caderno do Terceiro Mundo, publicação mensal com circulação em diversos continentes. Essa publicação é de grande importância para o jornalismo do mundo periférico, transformando-se no único meio de informações de esquerda, a nível internacional, levando para o mundo a real situação do continente africano, dos países latino-americano e do Caribe, sem deixar de noticiar as questões pertinentes à Ásia. Era a voz com credibilidade do jornalismo do terceiro mundo.
A revista Cadernos do Terceiro Mundo foi criada com um corpo editorial de primeira linha, com a presença de intelectuais que militavam no jornalismo em diversas partes do mundo, com isso dando ainda mais credibilidade as informações nela contida. A revista tinha como lema nas suas três versões a seguinte afirmativa: “publicação com informações e analises das realidades, aspirações e lutas dos países emergentes, destinadas a consolidar uma Nova Ordem Informativa Internacional”. Era esse o objetivo primordial dessa publicação, que realizou um grande trabalho de levar os acontecimentos que estavam ocorrendo no mundo periférico, mas que a grande mídia não tinha nenhum interesse em divulgar.
Fiquei feliz ao ver Neiva Moreira, aos 85 anos de idade, falando sobre a sua atuação no campo do jornalismo, ainda com vigor e alegria, pensando em retomar a publicação da brava revista dentro de uma visão por ele colocada, de que, Cadernos do Terceiro Mundo voltava para tratar de velhos temas dentro de novas conjunturas.
Segundo Neiva Moreira a pobreza aumentou, a violência vem se alastrando por todo o mundo subdesenvolvido, a África arde com epidemias, com a fome, com a pilhagem das suas riquezas, com o roubo praticado pelas potências imperialistas que dominam o mundo a mais de 500 anos, esses velhos temas continuam presentes na pauta da redação da revista Cadernos do Terceiro Mundo. Neiva Moreira volta a nos brindar com um jornalismo comprometido com a informação verdadeira. Ao bravo militante uma saudação toda especial e um, muito obrigado camarada.