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Fidel elogia Dilma e ironiza Obama

Em mais uma reflexão sobre a Cúpula das Américas que se realiza em Cartagena, Colômbia, o líder da Revolução cubana, Fidel Castro, em texto publicado neste domingo (15) sob o título “Realidades edulcoradas que se afastam”, diz que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, parecia “ausente” e que a brasileira, Dilma Rousseff, apresenta as questões com “autoridade e dignidade”.

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Foi assombroso escutar o discurso de José Miguel Insulza em Cartagena. Pensava que aquele que falava em nome da OEA se ocuparia ao menos de exigir o respeito à soberania dos países deste hemisfério que ao longo de séculos foram colonizados e cruelmente explorados pelas potências coloniais.

Por que não disse uma só palavra sobre as Ilhas Malvinas nem exigiu o respeito dos direitos soberanos da nação irmã Argentina?

A Cúpula de Cartagena tem cenas que não serão fáceis de esquecer. É certo que a mesma implicou um enorme esforço. Apesar das horas transcorridas, não temos ideia do que ocorreu no almoço com que Santos tentou repor o colossal desgaste de energia que os participantes investiram nesse encontro.

Para quem está entretido, poucas vezes na vida terá oportunidade de ver os rostos de mais de 30 líderes políticos diante das câmeras de televisão, desde que desciam do carro, até que em um heroico esforço final depois de vencer o longo e atapetado corredor, subiam os dez ou doze degraus até a altura do cenário onde sorridente e feliz o anfitrião os esperava. Nisso não importava juventude, idade, pés chatos, rótulas operadas ou dificuldades em uma ou as duas pernas. Eram obrigados a continuar até o topo. Ricos ou pobres devíam cumprir o cerimonial.

Curiosamente, Obama foi único que aproveitou esse trajeto para fazer um treinamento esportivo. Como estava só, foi mais fácil: adotou uma pose esportiva e subiu os degraus trotando.

As mulheres, como acompanhantes ou chefes de Estado, são as que melhor o fizeram. Uma vez mais demonstraram que as coisas no mundo andariam melhor se elas se ocupassem dos asuntos políticos. Talvez houvesse menos guerras, embora ninguém possa estar seguro disso.

Qualquer um diria que, por óbvias razões políticas, que a figura que pior impressão me causaría seria Obama. Contudo, não foi assim. Observei-o pensativo e às vezes bastante ausente. Era como se dormisse com os olhos abertos. Não se sabe quanto descansou antes de chegar a Cartagena, com que generais falou, que problemas ocupavam sua mente. Se estaria pensando na Síria, Afeganistão, Iraque, Coreia do Norte ou Irã. Seguramente, é claro, nas eleições, nas jogadas do Tea Party e nos planos tenebrosos de Mitt Romney. Na última hora, pouco antes da Cúpula, decidiu que as contribuições dos mais ricos devam alcançar pelo menos 30% de suas rendas como ocorria antes de Bush filho. Obviamente, isso lhe permite apresentar-se diante da direita republicana com uma imagem mais diáfana de seu sentido de justiça.

Mas o problema é outro: a enorme dívida acumulada pelo governo federal que ultrapassa os 15 trilhões de dólares, o que demanda recursos que totalizam não menos de 5 trilhões de dólares. O imposto sobre os mais ricos aportará cerca de 50 bilhões de dólares em dez anos, enquanto a necessidade de dinheiro se eleva a 5 trilhões. Receberia, portanto, um dólar por cada 100 de que necessita. O cálculo está ao alcance de um aluno do oitavo ano.

Recordemos bem o que Dilma Rousseff reclamou : “relações ‘de igual para igual’ com o Brasil e o resto da América Latina”.

“A zona do euro reagiu à crise econômica através de uma expansão monetária, provocando um ‘tsunami’ que valoriza a moeda brasileira e afeta a competitividade da indústria nacional”, declarou.

A Dilma Rousseff, uma mulher capaz e inteligente, não escapam essas realidades e ela sabe apresentá-las com autoridade e dignidade.

Obama, acostumado a dar a última palavra, sabe que a economia do Brasil surge com impressionante força que associada às economias como as da Venezuela, Argentina, China, Rússia, África do Sul e outras da América Latina e do mundo, traçariam o futuro do desenvolvimento mundial.

O problema dos problemas é a tarefa de preservar a paz dos riscos crescentes de uma guerra que com o poder destrutivo das armas modernas põem a humanidade à beira do abismo.
Vejo que as reuniões em Cartagena se prolongam e as realidades edulcoradas se afastam. Não se falou das guayaberas obsequiadas a Obama. Alguém terá que encarregar-se de indenizar o figurinista de Cartagena Edgar Gómez.

Fidel Castro Ruz
14 de abril de 2012, 21h58
Fonte: Cubadebate
Tradução: José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho