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Occupy critica sistema político nos EUA e não apoiará ninguém

A camisa social de manga curta, a expressão simpática e o sorriso de Stephen Lerner não denunciam a fala enfática e a atuação num dos movimentos mais contundentes do início do século 21. Entretanto, o norte-americano de 54 anos é um dos mentores do movimento Occupy Wall Street.

Desde 17 de setembro de 2011, os protestos têm ocupado as ruas de diversas cidades contra a crise econômica nos EUA e contra a crescente influência empresarial na sociedade norte-americana. Há três décadas Lerner atua na organização de movimentos trabalhistas por melhor remuneração, condições de trabalho e qualidade de vida.

Em entrevista exclusiva ao Opera Mundi na sede do Sindicato dos Bancários, em São Paulo, Lerner disse que o Occupy Wall Street fará pressão durante e após a campanha presidencial de 2012, mas não apoiará nenhum candidato. Segundo ele, é uma ação necessária, pois “a direita questiona cada vez mais” os benefícios dados aos cidadãos norte-americanos menos favorecidos. “Se (Mitt) Romney for indicado para disputar a eleição contra Obama, vocês verão esses questionamentos”, afirma Lerner.

De acordo com ele, reintroduzir o debate sobre a desigualdade social foi uma das principais vitórias do movimento. “O poder e a riqueza estão cada vez mais concentrados nas mãos dos executivos financeiros de Wall Street”. Para Lerner, a solução é o aumento dos impostos sobre os rendimentos dos mais ricos. “Cada vez mais, o cidadão comum questiona a interferência das empresas na política norte-americana.”

Segundo ele, o Occupy Wall Street não irá apoiar ou condenar nenhum candidato. “Muitos já entenderam o nosso papel em criticar a política tradicional e até por conta de sermos um movimento horizontal e disperso em várias demandas, não iremos declarar apoio a nenhum candidato”, explica.

Obama

Apesar de se sentir desconfortável para falar em nome do Occupy sobre Barack Obama, Lerner admite que há descontentamento com o governo atual. “Para além do presidente, há ceticismo quanto ao sistema político nos EUA”, pontua. “Mesmo quando elegemos um político progressista como Obama, é difícil conquistar coisas”.

Segundo Lerner, o Occupy Wall Street terá um papel forte depois das eleições: “em 2008, elegemos Obama e ficamos parados enquanto a direita cumpria sua agenda. Não podemos deixar que isso se repita em 2012”.

Na opinião dele, o Occupy precisa se manter ativo para continuar pressionando contra os privilégios dos banqueiros enquanto a maioria da população sofre as consequências da crise econômica: “será nossa culpa, se não cumprirmos essa missão”, conclui.

Ocupar. E depois?

A falta de uma liderança definida e a ausência de “objetivos” são duas das críticas mais comuns ao Occupy Wall Street. Lerner minimiza esses ataques e diz que o movimento abalou os sindicatos tradicionais. “Em seis meses, o movimento cresceu muito e colocou em pauta uma questão (aumento da desigualdade nos EUA) de uma maneira que outros movimentos jamais conseguiram”.

Mas há desafios a serem vencidos na continuidade do movimento. “Temos muitas lideranças e uma lista imensa de demandas, mas não temos poder”, afirma Lerner. “Nosso desafio é utilizar essa energia e nos conectar com as organizações sociais tradicionais para sermos ainda maiores. Por outro lado, esperamos continuar a agir sem medo.”

“O Occupy Wall Street não é um movimento sem líder. São muitos líderes e muitas facetas, demandas”, explica o sindicalista. Segmentos do movimento adotaram demandas sociais diversas, diz. “Alguns foram lutar pelos direitos de quem perdeu suas casas com a crise dos títulos subprime (hipotecas); outros foram para as universidades protestar contra os crescentes custos da educação superior norte-americana; há aqueles que foram para os Occupy Work Places, ajudando a fomentar sindicatos e fortalecer a luta trabalhista”.

Resto do mundo

Para ele, “é difícil pensar em termos globais, pois cada país vive uma situação histórica e política diferente”. Mas Lerner tenta traçar alguns paralelos entre o Occupy Wall Street e outros movimentos sociais ao redor do globo. “As pessoas que tomaram a capital de Wisconsin tinham a Primavera Árabe como inspiração”.

Segundo o ativista, os norte-americanos estão mais conscientes das mudanças sociais no resto do mundo e perceberam como estavam ficando desiguais economicamente. “Os EUA não têm uma tradição recente de protestos massivos, mas estávamos prestando atenção ao que acontecia no mundo”.

Fonte: Opera Mundi