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Cine Belas Artes reúne ciclistas e amantes do cinema em ato

Um ano depois da última sessão exibida no Cine Belas Artes, no centro de São Paulo (SP),  frequentadores, cineastas e intelectuais fazem um ato em homenagem ao espaço que existiu durante 68 anos, no sábado (17), entre 16h e 18h. Depois, um grupo de cicloativistas se junta ao movimento e realizam a primeira Pedalada pelo Cine Belas Artes, que fechou em 17 de março de 2011 após perder patrocínio e não resistir à especulação imobiliária.

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Durante a atividade, promovida pelo Movimento Cine Belas Artes, será lida uma carta protesto em frente ao local, na Rua da Consolação, esquina com a Avenida Paulista. O documento já foi entregue ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) e deve chegar nas mãos do governador Geraldo Alckmin (PSDB) ainda nesta semana.

“Decidimos reunir dois movimentos que lutam por uma São Paulo mais humana, com mais gente na rua, com mais cultura e melhor qualidade de vida”, disse ao Vermelho um dos coordenadores do Movimento Cine Belas Artes, Jorge Eduardo Rubies. O movimento foi fundado, oficialmente, desde seu fechamento, e luta pela reabertura do cinema.

Paulistano, formado em Administração e Direito, Jorge atribui ao cinema parte de sua formação cultural. Era frequentador assíduo do espaço, inaugurado em 1943 como Cine Ritz, e depois Cinema Trianon, desde 1967 abrigava o Belas Artes. De 1982 a 1985, pertenceu à distribuidora francesa Gaumont. Em sua programação, um conjunto de filmes de arte, conhecido como cineclube. Antes da lei Cidade Limpa (em 2007), a fachada do prédio exibia cartazes pintados memoráveis dos filmes como Bagdá Café. Até mesmo quem passava de ônibus e nunca havia tido a oportunidade de entrar nas salas, se encantava.

“O cinema fica em um espaço onde antes havia um movimento de cultural com livrarias e bares. Ele foi e ainda é importante para a vida cultural da cidade. Como o Belas Artes, muitos outros locais estão sendo devastados por conta da especulação imobiliária. Perdê-lo por conta de uma situação circunstancial é inconcebível”, completou Jorge Rubies, que também é presidente da Associação Preserva, que atua em conjunto com outras frentes de preservação dos espaços urbanos na capital paulista, como moradores de Santa Efigênia, que combate o projeto Nova Luz e a mobilização contra a construção de um túnel para ligar a avenida Roberto Marinho à rodovia dos Imigrantes.

“Hailander”

O Belas Artes já viveu outras más fases. Em 1981, foi alvo de uma operação da Prefeitura que exigia a readequação de 4.100 prédios da cidade, incluindo o cinema. Algumas salas foram diagnosticadas como irregulares. Um ano depois, sofreu um incêndio que destruído boa parte das instalações. Inicialmente, chegou a ser cogitado a possibilidade de um ato criminoso. Depois, a perícia concluíra que foi acidental.

Processo de tombamento

Quando André Sturnm, um dos sócios do cinema tentou renovar o aluguel com o proprietário, Flávio Maluf, descobriu que o dono do prédio aumentou o valor para R$ 150 mil. Na ocasião, foi informado que alugaria o prédio para uma loja de departamentos. Foi então que um grupo de cerca de 20 pessoas mobilizou todos os que mantêm uma relação afetiva com o local pela manutenção do lugar.

A pressão popular acabou culminando em um processo de tombamento, na esfera municipal (no Conpresp), e na Estadual (no Condephaat), que gerou muitas dúvidas nos conselheiros sobre o objeto a ser preservado: se era o edifício em que as práticas culturais ocorriam, ou as práticas em si, e se, no último caso, seria legítimo tombar o prédio.

No Conpresp, o tombamento foi arquivado em setembro, sem ter entrado em votação, depois
do parecer da Procuradoria-Geral do Município, a pedido da prefeitura, que considerou incompatível com a legislação vigente já que o que se pretende preservar é a prática e não o imóvel. Mas, pareceres técnicos eram claros: recomendavam o tombamento do cinema.

Em 19 de dezembro, a Justiça decidiu pela reabertura do processo de tombamento do imóvel, acolhendo um pedido do Ministério Público Estadual, acionado pelos defensores do cinema.

Com a nova decisão, o proprietário do edifício fica expressamente proibido de modificar ou demolir o imóvel. Os órgãos municipal e estadual do patrimônio histórico, obrigatoriamente, devem reabrir os estudos de tombamento e a fiscalizar a preservação do cinema, enquanto uma nova decisão sobre o tombamento não for tomada. Em caso de descumprimento, os órgãos ficam sujeitos a multa diária de R$ 100 mil.

“É a maior mobilização por um patrimônio cultural e histórico que está conseguindo impedir que seja demolido ou transformado em uma grande loja de departamento. Queremos o Belas Artes de volta. Ele faz parte da nossa cultura”, argumentou o jornalista Beto Gonçalves, que integra à coordenação do movimento.

O cineasta Fernando Meirelles chegou a comentar sobre o fato: “infelizmente não há nada parecido com o Belas Artes na cidade. O pior de tudo foi saber que o cinema vai sair dali para dar lugar a mais uma lojinha. Caramba, São Paulo já tem tanta lojinha. Não entendo esta compulsão por compras. Acho que nasci na época errada.”

Enquanto as portas do Belas Artes não reabrem, amantes do cinema se consolam em outras salas  na região como o Espaço Unibanco, o Cinesesc e, a mais recente delas, o Reserva Cultural.

Serviço
Ato Público e Pedalada pela Reabertura do Cine Belas Artes
Dia: 17 de março de 2012 (sábado)
Horário: 16h (ato) e 18h (pedalada saindo da praça do Ciclista, na Avenida Paulista)
Local: em frente ao Cine Belas Artes (Rua da Consolação, 2423)
Realização: Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA

De São Paulo
Deborah Moreira