Cláudio Ferreira Lima – Pecém: um grande desafio

Por *Cláudio Ferreira Lima

Uso no título o artigo indefinido “um”, mas bem que poderia ser o definido “o” tal a dimensão socioeconômica para o Ceará do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Se não o fiz, é porque saúde, educação, moradia e segurança pública ainda são grandes desafios. Embora já se tenha realizado muito nessas áreas, saldar a elevada dívida social acumulada ao longo da história é tarefa para muitos e bons governos. Ocorre que o CIPP pode criar condições para se abater parte substancial dela, porém, para isso, há um longo e acidentado caminho a percorrer.

Situado parte em Caucaia, parte em São Gonçalo do Amarante, o CIPP é projeto estratégico e, como tal, produz mudanças estruturais na economia do Estado, com profundas repercussões sociais. Compõe-se de porto offshore (a certa distância da praia), com profundidade para dar o acesso a navios gigantes, e de área industrial, que abriga inclusive a Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Nela, acham-se instaladas, entre outras, duas usinas de energia elétrica em regime de backup (uma terceira, em implantação, produzirá para o mercado) e duas indústrias de cimento.

O porto opera há dez anos com contêineres e carga geral. Agora está sendo preparado para receber, depois de idas e vindas, as duas indústrias-âncoras: a Companhia Siderúrgica do Pecém e a refinaria da Petrobras, que vão gerar, quando iniciarem as atividades – a primeira em 2014, e a segunda em 2017 -, 5.500 e oito mil empregos diretos, respectivamente. Na fase de construção, em determinado momento, haverá no canteiro de obras cerca de 30 mil pessoas. A esses postos de trabalho somam-se os milhares de empregos indiretos de montante a jusante da cadeia produtiva. A ferrovia Transnordestina, que liga o interior do Piauí, do Ceará e de Pernambuco aos portos do Pecém e de Suape (PE), em andamento (conclusão prevista para 2014), abrirá, mediante o processamento de frutas, grãos e minérios em suas margens, novas oportunidades de negócio e de emprego.

Mas o CIPP tem muitos desafios pela frente. O maior deles é mão de obra capacitada tanto para construção quanto para a operação comercial dos empreendimentos. E, claro, para que o CIPP beneficie o nosso Estado, essa mão de obra tem de ser, necessariamente, na maior proporção possível, cearense. Outros desafios importantes já detectados são: cadeia de suprimentos; meio ambiente; infraestrutura e logística; planejamento urbano; ambiente de negócios; combate a drogas, prostituição e violência; e a própria governança do CIPP.

Para se vencer estes e outros desafios, exige-se ação planejada e, sobretudo, pactuada entre os atores do processo, e isso demanda mediação. Dada a experiência na negociação de pactos, a Assembleia Legislativa, estimulada pelo Governo do Estado, vai mediar, com o apoio do seu Conselho de Altos Estudos, o Pacto pelo Pecém, que será lançado em abril na Casa do Povo. O que se almeja com ele é que o CIPP aumente de forma expressiva o emprego, a renda e a receita pública do Estado, dando vida digna e feliz a quem lá for trabalhar. E nada disso pode acontecer sem a participação da sociedade. Portanto, como diz Michel Godet: “(…) o futuro não está escrito, no essencial ele está aberto a ser construído pelos atores mais bem colocados e determinados a bater-se pelo sucesso dos seus projetos”.

*Cláudio Ferreira Lima é Economista

Fonte: O Povo