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Fórum reúne novos e tradicionais movimentos anti-imperialistas

O Fórum Social Temático 2012 começou hoje (24), em Porto Alegre (RS), trazendo grande expectativa sobre um dos temas centrais do megaevento: a crise do capitalismo e a luta anti-imperialista dos povos, em vários continentes, contra o sistema hegemônico. Tendo como pano de fundo discussões que antecedem a Cúpula dos Povos, evento alternativo à Rio+20, movimentos sociais históricos se encontram com novas lideranças de mobilizações que ocuparam praças de cidades em todo mundo, em 2011.

marcha FST 2012

“Conseguimos articular um espectro bastante grande dos movimentos sociais. Tantos nacionais, quanto internacionais . Estamos trazendo todo o seguimento histórico do fórum social mundial, as organizações que participam desde o início, mas também novos movimentos e mobilizações que ocuparam as praças de todos os continentes, em 2011, especialmente a Primavera Árabe, os Indignados na Europa, o Ocupar Wall Street de Nova York e de Londres, e o movimento estudantil no Chile”, disse ao Vermelho Mauri Cruz, coordenador do Comitê Organizador do FST.

Lideranças dos movimentos, como a chilena Camila Vallejo, estão presentes. Mauri Cruz ressalta que muitos desses movimentos não possuem ideologia, mas que são válidos e que acumularam ao longo deste ano uma trajetória de luta contra o capital. “Várias lideranças estarão aqui até para que haja essa troca. Como sabemos não se trata de um movimento com recorte ideológico, é mais uma indignação. Então, haverá uma troca bastante interessante entre os novos movimentos e a luta histórica dos trabalhadores, representados por sindicatos, e das massas populares contra o modelo capitalista”, avalia o coordenador.

Essa troca ocorrerá naturalmente entre os participantes nas diversas atividades e em momentos específicos temáticos, sempre entre 12h e 14h, nas atividades de testemunhos. A cada dia um novo relato das lideranças.

A organização do evento estima que entre 30 a 50 mil pessoas participarão das cerca de 800 atividades.

Cúpula dos Povos

O FST2012 é um encontro preparatório para a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, evento organizado pela sociedade civil de diversos países, que acontecerá entre 15 e 23 de junho, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro (RJ). Ele ocorre paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), a Rio+20.

A ideia é que, durante o FST, a Assembleia Permanente dos Povos, principal fórum político da Cúpula, se organize em torno de três eixos e debata as causas estruturais da atual crise, sem fragmentá-la em crises específicas – energética, financeira, ambiental, alimentar – com objetivo de construir novos paradigmas e apontar uma agenda política para o próximo período.

Para tanto, foram organizados Grupos Temáticos a partir da agenda da sustentabilidade e da justiça social e ambiental; da existência de redes em condições de facilitar política e operacionalmente os debates e de sistematizar a discussão realizada nos fóruns eletrônicos; viabilizando as discussões em diferentes línguas para os participantes, tornando-as abrangentes.

Os grupos se encontrarão em Porto Alegre na quarta e na quinta-feira para a sistematização dos debates. Na sexta-feira e sábado haverá uma articulação dos vários diálogos estabelecidos, organizados em quatro eixos:

– fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação;
– direitos humanos, povos, territórios e defesa da Mãe-Terra;
– produção, distribuição e consumo: acesso à riqueza, bens comuns e economia de transição;
– sujeitos políticos, arquitetura de poder e democracia.

“A nossa estratégia é não participar da conferência oficial. Queremos que a cúpula dos povos na Rio+20 seja reconhecida pela ONU como um espaço da sociedade civil internacional e que a cúpula oficial dialogue com esse espaço, respeitando sua soberania. Não nos interessa tirar meia dúzia de representantes para conversar com assessores e embaixadores. Queremos nosso espaço e que a ONU reconheça nossa representatividade”, explica Mauri Cruz, que classifica a ida do governo brasileiro ao FST como “importantíssima” para a consolidação e estruturação do evento no Rio.

A presidente Dilma participará do FST na quinta-feira (26), às 19h, no Gigantinho. O presidente uruguaio, José Pepe Mujica, também confirmou presença na mesma atividade.

“Além do diálogo com a presidente Dilma, o governo brasileiro vai estar presente em outras mesas, com a presença de ministros, para discutir com representantes de outros países como Bolívia e Argentina. Devemos definir como será a dinâmica da cúpula dos povos na Rio+20”, completa Mauri.

No sábado (28), será realizada uma atividade convocatória global para a Cúpula dos Povos, onde diversos movimentos estarão reunidos.

O que é o Fórum Social Temático (FST)?

O FST surgiu em 2005, sob o guarda-chuva do Fórum Social Mundial (FSM), quando os organizadores decidiram realizar a edição centralizada a cada dois anos, nos anos ímpares. Nos anos pares surgiram os encontros temáticos e descentralizados.

Em entrevista à organização do evento, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que participa desta edição, atribui ao encontro a responsabilidade de fazer do continente americano o maior em número de movimentos de contestação ao capitalismo e na consolidação de governos de esquerda.

No entanto, Boaventura avalia que o fórum deveria se posicionar com mais clareza, com a divulgação de documentos com decisões coletivas dos movimentos, inclusive. Por sua vez, a organização do FSM rebate afirmando que o fórum não tem um caráter deliberativo, de definições. Trata-se de um espaço, plural, onde diversas entidades da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo.

“Suas propostas contrapõem-se a um processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais", diz um trecho da carta de princípios do FSM.

de São Paulo
Deborah Moreira

Ouça entrevista de Mauri Cruz, para a Rádio Guaíba: