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Cenários de crise e tarefas dos comunistas

Um recente artigo do jornal Repubblica pôs em evidência mais uma vez como cerca de 150 multinacionais (na maior parte empresas financeiras) controlam o mundo inteiro, tendo sob ataque os mercados e os próprios Estados.

Por Erman Dovis* no site Marx 21

O que o jornal não diz é que no jogo da participação nos conselhos de administração e entre os acionistas nas próprias empresas, as grandes famílias proprietárias dessas multinacionais não são mais de quinze. Isto não representa uma novidade: a continuiidade do poder burguês, um punhado de oligarcas industriais e financeiros manobra incessantemente para assumir o domínio absoluto de todos os aspectos da vida do país e do Estado.

Alargam seus poderes ao exterior e através do controle dos bancos e das multinacionais especulam, corrompem, acumulam dinheiro, segundo o interesse do lucro máximo e contra os intersses nacionais. Estes poderes estão, e estarão sempre, na base dos regimes fortes. Um dos aspetcos que reforçam o capital monopolista é o processo de descentralização da produção e de deslocalização iniciado nos primeiros anos do pós-segunda guerra, quando se acentuou ainda mais a concentração capitalista em poucas mãos no campo das finanças e da indústria, operação que consiste essencialmente em transferir parte do trabalho em diversas e menores empresas, muitas vezes pequeníssimas unidades produtivas a domicilio.

O escopo é duplo: de um lado, os custos são notavelmente reduzidos, não há limites sobre o horário de trabalho e sobre as regulamentações, além do que o pagameno é feito por peça produzida.

Por outro lado, se divide e se fraciona fisicamente a classe operária, minando sua combatividade. Gianni Agnelli, em uma entrevista concedida ao jornal Expresso em 1970, chegou a declarar: "a retomada da luta operária em 1969 – 70 ensinou à Fiat que acabou o tempo das grandes concentrações operárias”.

Com efeito, a dispersão impede uma organização operária coesa e uma homogeneidade de pensamento, e influi sobre a mentalidade do operário, muda segundo seu enquadramento em uma grande ou pequena empresa, assim como na microempresa: na primeira o trabalhador vê o empregador como o inimigo de classe, o explorador, ao passo que na outra o patrãoé considerado como “um deles”.

Na época atual, marcada pelo acentuar-se violento da crise de restauração, as contradições entre os grupos monopolistas especuladores e as massas populares se tornam cada vez mais agudas. A feroz rotatividade do dinheiro operada a todo custo não só atirou à miséria as classes débeis, mas está engolindo no vórtice da crise a pequena e a média burguesia, que ficam esmagadas pelo capital financeiro e tende a uma condição de proletarização. A concentração monopolista que se reforça através da deslocalização, a subcontratação e a destruição produtiva, não deixa margem de manobra: a rapina do dinheiro líquido em todas as suas formas, as dívidas insolventes, a falência e a requisição dos bens das pequenas e médias empresas, que são absorvidas pelos grandes grupos, são apenas alguns aspectos do terrorismo oligárquico.

Estas situações não podem deixar de evidenciar-se no nível local: de fato a violentíssima crise que se abateu sobre nosso país não poupou a província de Teramo, varrendo de 2009 até hoje 562 mpresas da indústria manufatureira, das quais 188 em Val Vibrata.
Nas cidades de Giulianova e Roseto degli Abruzzi foram fechadas 103 empresas, 54 em Martinsicuro, 34 em Tortoreto. Este processo atingiu em cheio a classe operária, causando a perda de sete mil postos de trabalho em cerca de quatro anos, determinando um cenário de autêntico drama social. Segundo dados da Fillea-Cgil, no setor madeireiro se denuncia uma perda de 40% da força de trabalho de 2008 até hoje, o fechamento de importantes fábricas e a séria dificuldade dos restantes, para um setor produtivo que só fornece emprego agora para cerca de 870 trabalhadores.

A diminuição do número de trabalhadores ocupados no setor da construção chega a 30%, sempre em comparação com os dados de 2008, com 1770 postos de trabalho perdidos, enquanto no setor de cimento se registra uma perda ocupacional de 17% em relação a três anos atrás. Os dados fornecidos pela Filctem sobre o setor têxtil-vestuário são dramáticos para a nossa província: de 12 mil ocupados em 2008 restam cerca de 9400, o que significa quase três mil postos de trabalho liquidados, aos quais se somam 3.500 trabalhadores em mobilidade e 6.400 em processo de demissão. Recorre-se amplamente à seguridade social também no setor metalúrgico, com 1.400 trabalhadores em estado de mobilidade e demissão.

Na província de Chieti, na área Chieti-Ortona-Guardiagrele a taxa de desocupação chega a 18%, e em toda a província são 14.000 os desocupados inscritos em busca de emprego e 2.500 os inscritos na mobilidade. No setor metalúrgico são quase três mil (2800) os postos de tabalho ameaçados. A situação é insustentável não só em Teramo, mas em toda a região e para os operários e suas famílias tudo isto tem um significado preciso: angústia, pobreza, desespero. De imediato, occorre uma convocação de todas as partes sociais pelo desenvolvimento de um plano industrial concreto, mas isto obviamente não basta.

A tarefa dos comunistas é antes de tudo compreender o que está ocorrendo, maturar uma compreensão de classe, orgânica e dialética, partindo da realidade da luta entre as classes e não dos desejos individuais que geram abstração e espontaneísmo.
O Partido Comunista, dirigido pela vanguarda da classe operária, não segue os acontecimentos, mas os precede. Não vai a reboque do movimento operário, o dirige. Seguindo os ensinamentos leninistas e gramscianos, luta pela transformação revolucionária da sociedade, educando e elevando a consciência de classe das massas e ao mesmo tempo luta pelas reivindicações imediatas, por melhorias ainda que parciais das condições gerais de vida das classes débeis.

A unidade é o instrumento fundamental para perseguir tal objetivo: se analisamos com atenção, é evidente que a obra de divisão aberta em nosso interior, fruto do oportunismo, revisionismo, mas também da decomposição física da produção e dos trabalhadores (já divididos em numerosas categorias contratuais) produz por reflexo uma desoladora fragmentação partidária e sindical, que politicamente deve ser superada através de acordos de unidade de ação, buscando envolver todas as forças não hostis.

Devemos estar em condições de mobilizar todos aqueles que possam ser úteis, para objetivos a curto, médio e longo prazos. Nos centros de produção uma grande ajuda pode vir empenhando-se na construção de comitês unitários, ou melhor, de coordenação, nos quais a influência dos comunistas seja decisiva para contrastar a rivalidade entre as várias siglas, o imobilismo e a ruinosa fuga para frente que a divisão comporta que frequentemente limitam a potencialidade da luta.

A longa onda de restauração, começada há tantos anos, etapa após etapa, chegou a seu objetivo e difunde hoje o seu veneno mortal sobre toda a sociedade: destrói a nação, o povo, o trabalho, a nossa própria vida cotidiana. A firme resposta chegará pelas mãos da classe operária organizada, que já resiste em toda a nossa província e região e que com dignidade e orgulho afirma: “Desta vez, não, não passarão”.

*Membro do Comitê Central do Partido dos Comunistas Italianos