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Diferença entre ricos e pobres alimenta o ressentimento mundial

O crescente mal-estar causado por altos níveis de desigualdade e evidenciado por movimentos como o Ocupa Wall Street ou a primavera árabe, pode produzir o descarrilar do processo da globalização e ameaçar as economias globais, indicou o Fórum Econômico Mundial (FEM) em seu informe Global Risks 2012.

As grandes disparidades de renda e as fracas finanças públicas foram colocadas como as principais ameaças econômicas que o planeta enfrenta, de acordo com relatório 2012 sobre os riscos globais, divulgado quarta-feira pelo Fórum.

O documento de 60 páginas foi divulgado duas semanas antes da reunião anual que se realiza no centro de esqui de Davos-Klosters, na Suíça e desenha um quadro desolador frente a um mundo cada vez mais incerto.

Nas últimas quatro décadas o encontro de Davos, que reúne políticos, empresários e economistas mais influentes do mundo [econômico], tornou-se sinônimo de globalização.

O crescente desemprego dos jovens, os problemas que enfrentam os aposentados para se aposentarem em situações de endividamento e uma profunda fenda na sua renda, semeou as sementes de uma anti-utopia, assinala o relatório, com base em uma pesquisa entre 469 especialistas e líderes industriais.

“Pela primeira vez em gerações, as pessoas já não acreditam que seus filhos terão um melhor padrão de vida. Esta nova sensação de desconforto é particularmente aguda nos países industrializados, que historicamente têm sido fonte de grande confiança e idéias ousadas”, acrescenta o documento.

“Isto precisa de atenção política imediata, caso contrário a retórica política que responde a esta agitação social gerará nacionalismos, protecionismos e um retrocesso no processo de globalização”, assegurou o diretor do Fórum, Lee Howell.

O texto salienta que o fosso crescente entre ricos e pobres está alimentando o ressentimento global. Os níveis insustentáveis da dívida pública em muitos países já tinham sido mencionados como uma importante ameaça nos dois relatórios anteriores do Fórum, sobre os riscos mundiais. A natureza crônica dos desequilíbrios fiscais faz com que este assunto siga no centro dos debates, também de acordo com o Fórum.

A sétima edição do estudo indicou que os desequilíbrios fiscais crônicos e graves disparidades de renda são os principais riscos que vão dominar os próximos 10 anos na economia global. O primeiro, de acordo com o informe, ameaça o crescimento global, porque esses riscos são condutores de nacionalismo, populismo e protecionismo, num momento em que o mundo está vulnerável a choques sistêmicos financeiros, bem como possíveis crises de alimentos e de água.

O texto descreve 50 riscos globais agrupadas em diversas categorias: econômicos, ambientais, sociais, geopolíticos e tecnológicos. Em cada uma das categorias se percebe o risco sistêmico mais importante e também se destacam os fatores X, que dizem respeito às preocupações emergentes que devem ser investigadas em profundidade. Os três casos de risco e de fatores X serão o foco de atenção em sessões especiais na próxima reunião.

O relatório destaca duas tendências: a primeira se refere a dúvidas sobre a capacidade de enfrentar os riscos derivados das tecnologias emergentes, a interdependência financeira e a mudança climática. A segunda se relaciona com o crime cibernético que engloba o crescente mercado de smartphones e o acesso à Internet. “A primavera árabe demonstrou o poder que os serviços de comunicação em rede têm para avançar na liberdade pessoal; entretanto, a mesma tecnologia atuou a serviço dos tumultos em Londres”, opinou Steve Wilson, diretor de riscos da General Insurance, em Zurique.

Desde o último encontro em Davos, a crise da eurozona se espalhou e se aprofundou, forçando mudanças de governo na Grécia e na Itália. Os Estados Unidos tão pouco têm se saído muito melhor já que em agosto passado a agência Standard & Poors retirou-lhe a qualificação de dívida AAA, devido à sua delicada situação fiscal.

Com tal panorama, neste ano o Fórum de Davos dará mais atenção do que nunca para as falhas da economia de mercado, incluindo discussões sobre o futuro do capitalismo, tema que era deixado de lado nos anos anteriores à crise financeira.

Fonte: La Jornada