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Ângelo Alves: Horribilis

Começou o ano que alguns meios de comunicação resolveram chamar de “horribilis”. A escolha da palavra não é nem original nem inocente. Remete-nos para um ano de terror em que forças sobrenaturais, invencíveis e obscuras nos sujeitam a uma sucessão de cataclismos e maldições que – inevitavelmente – se abatem sobre a nossa cabeça sem que possamos fazer grande coisa senão rezar e, quando muito, apelar aos ofícios exorcistas de um sacerdote experiente na matéria.

Por Ângelo Alves, no Avante!

Sabemos bem que a teoria da inevitabilidade e da impotência dos povos face aos ataques a que são sujeitos, a promoção do obscurantismo, do sobrenatural, do racismo, da xenofobia, das teorias abertamente reacionárias e fascistizantes, do anticomunismo, farão o seu caminho neste ano, é próprio do aprofundamento da crise do capitalismo.

Os sinais de que o sistema poderá recorrer aos seus mais obscuros métodos para conter o desenvolvimento da luta dos trabalhadores e dos povos são mais do que muitos. No Oriente Médio os ventos de guerra imperialista são soprados por gigantescas campanhas de mentira e desinformação, pela reiterada instrumentalização de organizações internacionais e pela provocação aberta. As notícias de que o Catar e a Arábia Saudita estarão a financiar o armamento e o treino em território turco de um exército de mercenários pronto para intervir na Síria são a prova da insistência na agenda de guerra. Simultaneamente, nos EUA, Obama acaba de promulgar a «lei de autorização de defesa nacional» que, entre outras medidas, autoriza os militares norte-americanos a deter por tempo indeterminado e sem qualquer juízo prévio qualquer cidadão norte-americano.

Estes são apenas dois exemplos dos reais perigos a que os povos, a paz e a democracia estão sujeitos neste ano que começa. Mas nada disto é inevitável! O que temos pela frente não é um ano horribilis, mas antes um ano de duras, difíceis, mas apaixonantes lutas. Um ano em que a mobilização dos trabalhadores e dos povos será determinante para infligir derrotas ao imperialismo, resistir à sua poderosa ofensiva anti-social, antidemocrática e militarista e contribuir assim para derrotar o sistema capitalista – esse sim verdadeiramente horribilis.

Ângelo Alves é membro da Comissão Política do Partido Comunista Português