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Crise sistêmica global – EUA: Um país insolvente e ingovernável

O GEAP é um grupo de estudos da conjuntura voltado à análise da situação política e econômica do mundo e, anualmente, divulga previsões para os próximos quatro anos. O estudo divulgado este ano antecipa as crescentes dificuldades econômicas, políticas e sociais que serão enfrentadas pelos EUA
 
Por GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin)

Como anunciado nos GEAB anteriores, nossa equipe apresenta neste nº 60 suas antecipações sobre a evolução dos Estados Unidos para o período 2012-1016. Este país, epicentro da crise sistémica global e pilar do sistema internacional desde 1945, vai atravessar um período particularmente trágico da sua história no decurso destes cinco anos. Já insolvente, irá tornar-se ingovernável – provocando para os norte-americanos e aqueles que dependem dos Estados Unidos choques econômicos, financeiros, monetários, geopolíticos e sociais violentos e destruidores. Se os Estados Unidos de hoje já são bem diferentes da "hiperpotência" de 2006, ano de publicação dos primeiros GEAB que anunciavam a crise sistêmica global e o fim do poderio estadunidense, as mudanças que antecipamos para o período 2012-2016 são ainda mais importantes e vão transformar radicalmente o país, seu sistema institucional, seu tecido social e seu peso económico e financeiro.

Paralelamente, como a cada mês de dezembro, avaliamos nossas antecipações para o ano decorrido. Este exercício muito raramente praticado pelos especialistas e pela imprensa (1) é um instrumento que permite tanto aos assinantes (2) como aos nossos investigadores verificar que o nosso trabalho mantém um forte valor acrescentado e que está em ligação direta com a realidade. Neste ano o nosso desempenho melhorou ligeiramente e o LEAP/E2020 atingiu um resultado de 82% de êxito nas suas antecipações para 2011.

Pormenorizamos igualmente nossas recomendações referentes às divisas, ao ouro, às bolsas e às consequências da marginalização do Reino Unido no seio da União Europeia (UE) (3) sobre a libra, o ouro e a dívida britânica e apresentamos alguns conselhos quanto às evoluções do sistema institucional americano (4) .

Neste comunicado público optamos por apresentar um extrato da nossa antecipação sobre a evolução dos Estados Unidos para o período 2012-2016.

Antes de abordar o caso americano, queremos comentar a situação europeia (5) .


Da não deslocação da Eurolândia à deslocação do Reino Unido

Como já foi antecipado pela nossa equipe, a cúpula europeia de Bruxelas, dos dias 7 e 8 de dezembro últimos, desembocou em dois acontecimentos chave:

• a busca da integração da Eurolândia com uma aceleração e um reforço das integrações orçamentais e financeiras e o esboço de uma integração fiscal (6)

• Os governos da zona euro, Alemanha à frente, confirmaram a disposição de irem até o fim neste processo, ao contrário de todos os discursos anglo-saxões e eurocéticos que há dois anos prediziam que a Alemanha abandonaria o euro. Paralelamente, recusam-se a seguir o caminho do FED e do Banco da Inglaterra proibindo-se de fazer trabalhar a impressora de papel-moeda (Quantitative Easing, QE – emissões monetárias) enquanto a disciplina orçamental não estiver assegurada no seio da Eurolândia (7). Os fracassos evidentes das QE tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido (8) confirmam a pertinência desta opção que permitirá no fim de 2012 iniciar a criação de eurobonds (9).

Em contrapartida, a "garantia" de que o caso grego, de "imposição voluntária" de um desconto de 50% aos credores privados do país, permanecerá uma exceção é uma promessa que não compromete senão aqueles que nela acreditam. Ela foi igualmente avançada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy cujos concidadãos sabem muito bem, após cinco anos de experiência prática, que os seus compromissos não têm valor duradouro e são sempre de natureza tática (10).

– a marginalização duradoura (por pelo menos cinco anos) do Reino Unido no seio da União Europeia confirma de modo gritante que daqui para diante é a Eurolândia que dirige os assuntos europeus. A incapacidade de David Cameron para reunir nem que fossem dois ou três dos "aliados tradicionais" do Reino Unido (11) ilustra o enfraquecimento estrutural da diplomacia britânica e a falta de confiança, geral na Europa, sobre a capacidade do Reino Unido para ultrapassar a crise (12). Também é um indicador forte da perda de influência dos Estados Unidos sobre o continente uma vez que o envio do secretário do Tesouro Tim Geithner e do vice-presidente Joe Biden, em perambulação no continente alguns dias antes da cúpula, não serviu para nada e não evitou o fracasso britânico (13).

Esta cúpula pode ter sido histórica, mas não por ter resolvido os problemas financeiros e orçamentários europeus. Como havíamos antecipado em dezembro de 2010, e como Angela Merkel acaba de recordar no Bundestag (o parlamento alemão), o caminho da Eurolândia é um percurso longo, complexo e caótico, à imagem da rota percorrida desde os anos 1950 em matéria de integração económica (14). Mas é um caminho que reforça a Europa e vai colocar a Eurolândia no coração do mundo de após a crise (15). Se os mercados não estão contentes com esta realidade, o problema é deles. Eles vão continuar a ver seus ativos-fantasmas esvaírem-se em fumo, seus bancos e hedge funds abrirem falência, tentando em vão fazer escalar as taxas de juros sobre as dívidas europeias (16) com o resultado de verem as notas das agências de crédito anglo-saxônicas perderem toda credibilidade (17).

Esta cúpula é histórica pois confirma e dinamiza o retorno dos países fundadores da UE ao comando do projeto europeu e porque mostra que longe de assistir a um deslocamento da zona euro, o choque tentado por David Cameron às ordens dos financeiros da City (18) levou a uma aceleração do deslocamento do Reino Unido (19). Além do afrontamento entre liberais-democratas e conservadores que a atitude de Cameron iniciou, fragilizando sempre mais uma coligação já em más condições, esta marginalização britânica provoca uma oposição determinada na Escócia e no País de Gales, cujos dirigentes proclamam seu apego à UE e sua vontade, no que se refere à Escócia (20), de aderir ao euro uma vez posto em marcha o processo de independência por volta de 2014 (21).

E, a cereja em cima do bolo, a conivência entre a City e o governo britânico doravante é um tema que ultrapassa as fronteiras britânicas e reforça a determinação do continente de colocar sob controle definitivo esta entidade "fora da lei". Como havíamos descrito desde dezembro de 2009 e do início dos ataques contra a Grécia e a Eurolândia, a City, alarmada pelas consequências da crise em matéria de regulamentação europeia, lançou-se num ataque contra a Eurolândia em gestação, pondo ao seu serviço o Partido Conservador e a mídia financeira anglo-saxônica (22). O episódio da recente cúpula de Bruxelas marca uma grande derrota para a City nesta guerra cada vez mais pública, expondo de passagem o rancor de uma maioria de britânicos não contra a Eurolândia mas contra a City (23), acusada de parasitar o país (24).

Com 1,8 trilhões de libras de dinheiro público investidos nos bancos para evitar o seu colapso em 2008, os contribuintes britânicos são efetivamente os que pagaram mais caro o salvamento dos estabelecimentos financeiros. E o governo inglês pode muito continuar a excluir esta soma do cálculo do seu endividamento público pretendendo que se trata de um "investimento", quando de fato cada vez menos gente imagina que os bancos da City se recuperarão da crise, sobretudo desde o agravamento do segundo semestre de 2011: as ações compradas pelo Estado de fato já não valem mais nada. O "hedge fund UK" está à beira do precipício (25)… e graças à David Cameron e à City, ele está isolado, sem ninguém para lhe acudir, nem na Europa nem nos Estados Unidos.

Com a bolha chinesa (26) prestes a juntar-se à recessão europeia e à depressão americana, a tempestade de 2012 vai determinar se David Cameron e seu ministro das Finanças George Osborne são descendentes dignos dos grandes navegadores britânicos.

Mas retornemos agora ao extrato da nossa antecipação sobre o futuro dos Estados Unidos para o período 2012-2016.

EUA 2012/2016: Um país insolvente e ingovernável

Neste GEAB nº 60, nossa equipe apresenta suas antecipações do futuro dos Estados Unidos para o período 2012-2016. Recordamos que desde 2006 e os primeiros GEAB, o LEAP/E2020 descreveu a crise sistêmica global como um fenômeno caracterizando o fim do mundo tal como se conhece desde 1945, marcando o colapso do pilar norte-americano sobre o qual esta ordem mundial tem repousado há cerca de sete décadas. Desde 2006 havíamos identificado os anos 2011-2013 como aqueles durante os quais o "Muro Dólar", sobre o qual assenta a potência dos Estados Unidos, ia se deslocar. O Verão de 2011, com a degradação da classificação de crédito dos EUA pela agência S&P, marcou uma viragem histórica e confirmou que o "impossível" (27) estava mesmo em vias de se concretizar. Parece portanto essencial proporcionar hoje aos nossos leitores uma visão antecipadora clara sobre o que espera o "pilar" do mundo de antes da crise no momento, desde o Verão de 2011, em que esta crise passou à "velocidade superior" (28).

Assim, segundo o LEAP/E2020, o ano eleitoral 2012 que se abre sobre um fundo de depressão econômica e social, de paralisia completa do aparelho de estado federal (29), de forte rejeição do bipartidarismo tradicional e de questionamentos crescentes sobre a pertinência da Constituição, inaugura um período crucial da história dos Estados Unidos. No decorrer dos próximos quatro anos, o país vai ser submetido a choques políticos, econômicos, financeiros e sociais jamais experimentados desde o fim da Guerra de Secessão que, acaso da história, começou muito precisamente há 150 anos, em 1861. No decorrer deste período, os Estados Unidos vão ser simultaneamente insolventes e ingovernáveis, transformando em "barco à deriva" o que foi o "navio almirante" do mundo destas últimas décadas.

Para tornar compreensível a complexidade dos processos em curso, nossa equipe optou por organizar suas antecipações neste assunto em torno de três grandes polos:

1. A paralisia institucional estadunidense e o deslocamento do bipartidarismo tradicional.

2. A espiral econômica infernal dos EUA: recessão/depressão/inflação

3. A decomposição do tecido sócio-político estadunidense.

A espiral econômica infernal dos EUA: recessão/depressão/inflação (extrato)

Os Estados Unidos terminam o ano de 2011 num estado de fraqueza sem equivalente desde a Guerra de Secessão. Já não exercem nenhuma liderança significativa a nível internacional. A confrontação entre blocos geopolíticos aguça-se e acham-se confrontados com quase todos os grandes atores do mundo: China, Rússia, Brasil (e mais geralmente quase toda a América do Sul) e agora a Eurolândia (30). Paralelamente, não chegar a dominar um desemprego cuja taxa real está estagnada em tornos dos 20% no pano de fundo de uma redução contínua e sem precedente da população ativa (que caiu ao seu nível de 2011) (31).

O imobiliário, fundamento da riqueza das famílias estadunidenses juntamente com a bolsa, continua a ver os seus preços caírem ano após ano apesar das tentativas desesperadas do FED (32) de facilitar os empréstimos à economia através da taxa zero. A bolsa retomou sua baixa interrompida artificialmente pelas duas Quantitative Easing (emissões monetárias) de 2009 e 2010. Os bancos americanos, cujos balanços estão muito mais carregados de produtos financeiros derivados do que os seus homólogos europeus, aproximam-se perigosamente de uma nova série de falências de que a MF Global é um sinal precursor, demonstrando a inexistência dos procedimentos de controle ou de alerta três anos após o colapso da Wall Street em 2008 (33).

A pobreza estende-se cada dia um pouco mais através do país, em que um norte-americano em cada seis depende agora de selos de alimentação (34) e em que uma criança em cada cinco experimenta episódios de vida na rua (35). Os serviços públicos (educação, sociais, polícia, rodoviários…) foram consideravelmente reduzidos em todo o país para evitar as falências de cidades, municípios ou Estados. O êxito encontrado pela revolta das classes médias e dos jovens (Tea Party e Occupy Wall Street) é explicado por estas evoluções objetivas. E os próximos anos verão estas tendências agravarem-se.

O estado de fraqueza da economia e da sociedade estadunidense de 2011 é, paradoxalmente, o resultado das tentativas de "salvamento" efetuadas em 2009/2010 (planos de estímulo, QE, …) e da degradação de uma situação "normal" pré 2008. O ano de 2012 vai assinalar o primeiro ano de degradação a partir de uma situação já muito deteriorada (36).

As PMEs (pequenas e médias empresas), as famílias, as coletividades locais (37), os serviços públicos, não têm mais "colchões amortecedores" para atenuar o choque da recessão em que o país caiu de novo (38). Havíamos antecipado que o ano de 2012 veria uma baixa de 30% do dólar norte-americano em relação às principais divisas mundiais. Nesta economia, que importa o essencial dos bens de consumo, isso se traduzirá por uma baixa quase equivalente ao poder de compra das famílias estadunidenses num fundo de inflação com dois algarismos.

Os Tea Party e Occupy Wall Street têm portanto belos dias pela frente pois a cólera de 2011 tornar-se-á a fúria de 2012/2013…

Notas:

(1) Sem falar das agências de classificação que passam o tempo a modificar as suas avaliações, prova de que não dispõe de nenhuma metodologia fiável e que vagam ao sabor das pressões e das modas.

(2) Que assim podem julgar diretamente tanto a pertinência das nossas antecipações como a honestidade das nossas avaliações.

(3) Uma evolução antecipada há muito pela nossa equipe.

(4) A pedido de numerosos leitores estadunidenses.

(5) No GEAB 61 ou 62 apresentaremos nossas antecipações para a UE 2012-2016.

(6) O presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, quase tem razão ao dizer que dentro de alguns anos o fim de ano de 2011 será julgado como um "annus mirabilis" para a Europa. Para a nossa equipe, 2012 é que será de fato o ano chave. Fonte: Le Soir, 13/12/2011

(7) Fonte: New York Times, 10/12/2011

(8) O Banco de Pagamentos Internacionais (BIS, na sigla em inglês) acaba de assinalar ao Reino Unido que a sua política de Quantitative Easing (emissões monetárias) estava em vias de fracassar. Fonte: Telegraph, 12/12/2011

(9) Seja o que for que Angela Merkel diga hoje.

(10) Os alemães, holandeses e outros países com excedente estão igualmente determinados a retornar a este ponto quando chegar o momento certo. E mantemos nossa antecipação de que 30% da dívida pública ocidental não será reembolsada em 2012: na Europa, no Japão e nos Estados Unidos.

(11) Ou seja, os países europeus ainda enfeudados a Washington como a República Tcheca de Vaclav Klaus, os países bálticos ou a Suécia.

(12) Todos os países da zona euro, exceto o Reino Unido, alinharam-se sabiamente por trás da bandeira da moeda única europeia. Mas sem dúvida são "irresponsáveis", "idiotas" ou "inconscientes"… ao contrário dos comentaristas da mídia anglo-saxônica que sabem estar tudo condenado ao fracasso. Assim como antes de 2008 eles estavam persuadidos da invencibilidade das finanças anglo-saxônicas ou, até o segundo semestre de 2011, de que a crise estava sob controle! Fonte: Libération, 13/12/2011

(13) Este tipo de visitas estadunidenses de alto nível ou telefonemas presidenciais, amplamente divulgados pela imprensa dos EUA, pouco antes de uma cúpula europeia tornou-se uma característica da administração Obama. Impossibilitada de poder influir sobre os acontecimentos – uma vez que os eurolandeses fizeram compreender a Washington que devia ocupar-se dos seus próprios assuntos – isso permite fazer com que a opinião pública americana acredite que Washington continua sempre o "deus ex machina" dos assuntos europeus; embora nunca desde 1945 a influência dos EUA foi tão fraca sobre a evolução da Europa. É verdade que sem dinheiro, sem ameaça comum e sem credibilidade em matéria económica e financeira, a tarefa dos enviados americanos não é fácil!

(14) Fonte: Euronews, 14/12/2011

(15) Segundo o LEAP/E2020, Angela Merkel é hoje sem contestação o único "homem de estado" europeu e mesmo ocidental. Ela não é uma grande visionária mas é a única responsável política que combina a necessidade de políticas difíceis com uma visão positiva do futuro. E seja o que for que se pense, ela dá prova de uma inegável determinação, uma qualidade necessária para realizar as coisas que têm importância em política e que são sempre coisas difíceis.

(16) Dizemos "em vão" por duas razões. Por um lado, porque as taxas reais atuais não são de todo aquelas que a imprensa utiliza (ver gráfico acima) e, por outro, porque, segundo as nossas análises, a Eurolândia em 2012 ou princípio de 2013, se as taxas continuarem a subir, tratará de arrecadar diretamente uma parte da imensa poupança europeia para desligar-se nas suas próprias condições dos mercados financeiros anglo-saxônicos… que deverão aceitar um enorme desconto (haircut).

(17) A este respeito, a composição dos acionistas das três agências esclarece a ausência total de independência das suas decisões pois estão nas mãos de alguns grandes bancos e fundos de investimento estadunidenses (fonte: Bankster). Já é tempo de elas degradarem a classificação da Eurolândia em vários pontos… para que os investidores façam a sua opção: acreditar nas classificações das agências ou confiar nas suas próprias opiniões (fonte: CNBC, 15/12/2011). Haverá uma diferença no fim. Segundo o LEAP/E2020, aqueles que seguirem as agências serão os maiores perdedores desta crise financeira. E a tentativa dos governos europeus de "manter a todo preço o seu AAA", como é o caso de Nicolas Sarkozy, demonstra apenas uma coisa: eles não fazem senão ouvir os seus amigos financeiros. Quando se está na Eurolândia e se é o primeiro bloco comercial do mundo, o detentor da maior poupança mundial, etc…, pode-se zombar das agências de classificação. Ou se as ignora ou se lhes corta as rédeas. Duas coisas que estarão igualmente no programa de 2012.

(18) Os "hedge funds" da City tornaram-se os maiores doadores do Partido Conservador (ver gráfico acima) que de fato é o seu intermediário político. E estes mesmos "hedge funds" tem naturalmente uma ternura particular pelos eurocéticos britânicos dos quais Roger Cohen esboça um quadro particularmente edificante no New York Times de 13/12/2011. O que os eurocéticos britânicos reprovam em Angela Merkel não é que ela seja alemã e sim que não seja nazi. Se fosse o caso, as suas ideias de "raça superior" poderiam exprimir-se mais facilmente no seio da UE.

(19) Que se encontra privado de influência sobre decisões que o afetarão de qualquer maneira. Fonte: Guardian, 10/12/2011

(20) Fontes: Scottish TV, 12/12/2011; Wales Online, 10/12/2011; Independent, 05/12/2011

(21) A propósito disto, nossa equipe aproveita para partilhar as suas reflexões sobre a utilização do termo "Unido" nos nomes de países. Consideramos que todos os países ou entidades políticas que põem a palavra Unido ou União no seu nome estão condenados à desunião no dia em que uma crise grave modifica os equilíbrios internos. O fato de utilizar o termo "Unido" mascara na verdade um problema fundamental de identidade comum. É por isso que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas entrou em colapso; que as Províncias Unidas estão desunidas e que os Estados Unidos assim como o Reino Unido enfrentam tendências centrífugas crescentes. Também é por isso que a União Europeia não é uma entidade política viável (está destinada a ser apenas um grande mercado; fonte: Spiegel, 18/11/2011)… ao contrário da Eurolândia que não tem necessidade de acrescentar União ou Unido para ter uma identidade comum. Franck Biancheri, diretor do LEAP/E2020, exprimiu assim, por estas razões, sua oposição à adoção da expressão União Europeia em lugar de Comunidade Europeia no princípio dos anos 1990.

(22) E utilizando plenamente sua capacidade de manipular as cotações das divisas e de outros ativos financeiros. Uma aptidão em declínio rápido devido à crise e ao desmascaramento crescente da manipulação em curso.

(23) Fonte: Independent, 10/12/2011

(24) A City é uma sobrevivência feudal que escapa a toda regulamentação séria no Reino Unido. Nem que seja por ser um imenso centro financeiro que muito poucos controladores "controlam", apoiada sobre a vasta rede de paraísos fiscais formada por confetis do antigo império britânico. Para informação, a France Télévisions acaba de difundir uma notável reportagem sobre a City em 11/2011. Poder-se-ia dizer que a City é uma espécie de base de "piratas" à imagem das costas bárbaras que as potências europeias finalmente dominaram através de campanhas militares no século 19, após séculos de piratarias e de tráficos de toda espécie.

(25) Seja devido ao fator de a dívida ser pública ou privada. Assim, em 2012 os investimentos imobiliários britânicos serão incapazes de refinanciar US$156 mil milhões de empréstimos. Fonte: Bloomberg, 09/12/2011

(26) Fontes: Telegraph, 14/12/2011; Les Echos, 01/12/2011

(27) Recordemos que apenas um ano antes parecia totalmente linsano antecipar uma tal degradação. Os peritos financeiros, a mídia especializada e outros especialistas do "futuro como cópia do passado" consideravam impossível uma tal degradação, ou eventualmente a prazo de cinco ou dez anos se a situação financeira do país continuasse a degradar-se.

(28) Esta exigência é tanto mais forte porque as esferas midiáticas e financeiras são totalmente parasitadas pelo "chamariz" que constitui a "crise do euro", destinada, como sublinhamos desde há dois anos, e ocultar a gravidade da situação no cerne do sistema financeira mundial, a saber, Wall Street e a City. O clamoroso fracasso de David Cameron em Bruxelas, no início de dezembro, ilustra igualmente o pânico que reina no coração das finanças anglo-saxônicas.

(29) A Eurolândia, apesar das suas "desvantagens" constantemente recordadas pela mídia anglo-saxônicas e dos sarcasmos histéricos dos intermediários de Wall Street e da City, conseguiu há cerca de dois anos construir toda uma nova aparelhagem político-institucional para atravessar a crise e preparar-se para o mundo de amanhã. Os Estados Unidos ao contrário foram totalmente incapazes da menor iniciativa para adaptarem-se à nova ordem mundial como mostrou recentemente o fracasso da supercomissão de redução do déficit apesar do seu objetivo bem limitado de 1,500 trilhões de cortes ao longo de 10 anos (ver o gráfico acima). A história dos Estados, tal como a das espécies, mostra entretanto que a capacidade de adaptação é essencial para a sobrevivência; e que isto é uma lei que não tem exceção.

(30) No seu belo poema "Se", Rudyard Kipling escrevia "Se puderes suportar ouvir tuas palavras / Travestidas por trapaceiros para enganar tolos, / E ouvir mentirem sobre ti suas bocas loucas / Sem que mintas tu mesmo uma única palavra… Então os Reis, os Deuses, a Fortuna e a Vitória / Serão para sempre seus escravos submissos". E este conselho vale tanto para as coletividades quanto para os indivíduos pois a leitura imprensa anglo-saxônica sobre o euro e a Eurolândia faz com que a nossa equipe pense irresistivelmente nesta passagem do poema. Contudo, com a marginalização do Reino Unido no seio da UE e a aceleração da integração da Eurolândia (conforme as nossas antecipações), constatamos a ultrapassagem de uma barreira psicológica na Eurolândia: já não é tempo de poupar as susceptibilidades dos nossos "aliados" anglo-saxônicos, mas muito simplesmente de nos protegermos dos ataques dos nossos adversários anglo-saxônicos. Ao contrário da mídia e dos peritos "mainstream" da Wall Street e da City, os eurolandeses não perdem tempo a "travestir as palavras para enganar tolos"; eles contentam-se em levar em conta a realidade, a avançar ignorando-os e a cortar uma por uma as cordas que os ligam às praças financeiras (e amanhã políticas) britânicas e americanas. Nossa equipe não pode resistir ao prazer de apresentar uma nova ilustração da manipulação quotidiana de informação em que a maior parte da mídia britânica e americana se tornou especialista. Assim, no quadro da nossa rubrica "os trapaceiros falam aos tolos", MarketWatch publicou em 14/12/2011 um artigo intitulado "Os gestores de fundos temem uma deslocação da zona euro". Ora, o que é que se descobre nesse artigo? Que o seu principal temor (para 75% dentre eles) era uma nova degradação da classificação dos EUA (48% pensam que acontecerá em 2012) e que somente 44% deles pensavam que havia um risco de que um país saia um dia da zona euro, sem mencionar o prazo. Um título honesto deveria portanto ter sido "Os gestores de fundos temem uma nova degradação da classificação dos EUA". Mas, como se diz em francês, "à la guerre, comme à la guerre!" (faça o que é preciso fazer).

(31) No mesmo período a população dos EUA aumentou em 30 milhões de pessoas, ou seja, uma alta de 10%. Fonte: Washington Post, 02/12/2011

(32) Para a nossa equipe, 2013/2014 vai proporcionar, através do Congresso e devido a um apoio maciço na opinião pública, uma ocasião sem precedentes para reclamar um desmantelamento do FED. As convicções antifederais dos Tea Parties e as outras anti-Wall Stret encontrarão aí um ponto de convergência irresistível.

(33) A este respeito, é particularmente interessante constatar que as agências de classificação, Moody's à frente, mais uma vez nada viram aproximar-se pois no fim do Verão de 2011 a MF Global era recomendada por estas agências… quando aquela empresa já estava em vias de retirar dinheiro das contas dos seus clientes para tentar sobreviver. Aqueles que acreditam que os seus investimentos estão melhor protegidos em Wall Street ou na City que meditem sobre este "pormenor".

(34) Fontes: MSNBC, 11/2011; RT, 08/12/2011

(35) São números que agora classificam o país integralmente na categoria "terceiro mundo" em matéria social. Fonte: Beforeitsnews, 29/11/2011

(36) O país já não gera crescimento, como explica Gregor McDonald em SeekingAlpha de 05/12/2011.

(37) Fonte: Washington Post, 29/11/2011

(38) O país de fato nunca saiu desde 2008, salvo tecnicamente devido a medidas macroeconómicas. Mas ninguém se alimenta de macroeconomia… salvo os economistas.

15 de Dezembro de 2011

O original deste estudo pode ser lido no endereço: http://www.leap2020.eu/GEAB-N-60-est-disponible-Crise-systemique-globale-USA-2012-2016-Un-pays-insolvable-et-ingouvernable_a8454.html

Nota: dada a extensão deste artigo, o portal Vermelho deixa de publicar os quatro gráficos que o acompanham, voltados aos especialistas, e que podem ser consultados na edição original, seguinto o endereço eletrônico acima.