Lejeune Mirhan: “Revolução árabe era previsível”

Em apenas um ano, o mundo árabe viveu mais distúrbios que durante décadas: depois de derrubar dirigentes, os tunisianos e os egípcios acabam de organizar as primeiras eleições livres de sua história e os líbios buscam instalar a democracia depois da queda de Muammar Kadafi. Os iemenitas estão a ponto de deixar para trás um regime autocrático, enquanto na Síria a revolta contra Bashar al Assad recebe apoio da Liga Árabe e da comunidade internacional.

Para o sociólogo e especialista em mundo árabe Lejeune Mirhan, as revoluções no mundo árabe eram de certa forma previsíveis, mas surpreenderam pela intensidade e pela rapidez com que aconteceram ao longo de 2011. "Nós sabíamos que havia um movimento de oposição em todos os países árabes. Somado com esse movimento oposicionista, a crise econômica que assola o mundo também assola o Oriente", explicou Mirhan.

O analista vê relação entre os distúrbios nos países árabes com os protestos, também em 2011, dos "indignados" da Espanha e do Ocupe "Wall Street" dos EUA.

"A raiz econômica é a mesma. Esse pessoal não fala contra o capitalismo de uma forma geral. Fala contra o capitalismo financeiro. Tanto quanto o ´Ocupe Wall Street´, quando os ´indignados´ da Espanha, como os jovens da Praça Tahrir, o índice de desemprego na população mais jovem é muito alto".

O sociólogo considera que, como há uma revolução ainda em curso, não se sabe aonde esses países vão chegar. "Imaginamos que possam ser formados governos democráticos, progressistas e nacionalistas no mundo. Porque hoje a maioria desses governos é pró-Estados Unidos e pró-Israel".

Para Mirhan, a revolução vai se estender a outros países e o último a passar por esse processo deve ser a Arábia Saudita. "A Arábia Saudita é a monarquia mais absolutista e mais pró-americana do Oriente Médio. No contorno dela chegou ao Bahrein, Omã, Catar, Iêmen".

Mirhan prefere utilizar a expressão "revolução árabe" em lugar de "primavera árabe", termo que considera uma invenção que não exprime com exatidão o atual momento. "Não é uma revolta, nem uma rebelião. É uma revolução. Tem muitos aspectos a serem considerados, cada país tem uma variante, tem uma liderança", avalia. Ele destaca a experiência recente do Líbano, que não passa por um levante, e é governado por uma coligação que une da esquerda ao centro.

Fonte: Diário do Nordeste