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Assad Frangieh: Adeus 2011 – Feliz Nova Muralha 2012

O cenário da retirada das tropas americanas do Iraque não repetiu a fuga desesperada desse mesmo exército em seus últimos dias no Vietnã. Tanto uma como a outra, as derrotas foram humilhantes e as perdas significativas em material, vidas e principalmente em estratégias.

Por Assad Frangieh

A retirada assinada em outubro de 2008 pelo presidente Bush foi resultado de uma coordenação diplomática e militar dos três pilares da resistência iraquiana: o Premiê Nouri Al-Maliki no comando do Executivo, a liderança popular e religiosa de Moktada Al-Sadr e a hábil política do Conselho da Revolução Islâmica em Teerã.

Para encerrar esta etapa, faltava afastar os principais colaboradores e protegidos dos Estados Unidos e Arábia Saudita: O vice-presidente Tarek Al-Hashimi, o vice-premiê Saleh Al-Mutlak e um grupo de militares acusados de ser treinados pela Turquia para um golpe militar. O vice-presidente Al-Hashimi é acusado de ser o mentor de uma explosão de um carro bomba preparado para o premiê Al-Maliki e da explosão do prédio do Parlamento. Os próprios guardas do vice-presidente e seu cunhado, todos presos, confessaram o envolvimento. Tarek Al-Hashimi, refugiado atualmente em território curdo semi-independente, poderá ser enforcado e os curdos já lavaram a mão desse assunto, tentando uma última saída de misericórdia e uma súplica ao líder Moktada Al-Sadr.

A nova Muralha se formou. Em Gaza, as tentativas do Qatar & Cia em afastar o Hamas da Síria já caíram por água abaixo. Uma expectativa de abandonar a luta armada e se entregar apenas à resistência popular pacífica não passa de uma leitura errônea da história do conflito árabe-israelense e do espírito palestino. No Líbano, a tríade composta pelo Exército, Povo e Resistência, continua sendo a estratégia Master” do atual governo de Suleiman, desmascarando cada vez mais as redes de espionagem da CIA e as rotas de tráfico ilegal de armas aos terroristas multinacionais do Conselho de Istambul & Cia já que todos os sócios são conhecidos.

A conspiração contra a Síria já recebeu sua principal derrota. A consciência popular, a lealdade das forças armadas em torno de seus princípios e as sábias ações de reformas constitucionais iniciadas pelo Estado sírio separaram o joio do trigo. Os atos de terrorismo de milícias sem escrúpulos e o trabalho de mercenários ao estilo invasão da Líbia, podem continuar mais um tempo e certamente serão dizimados. A última tentativa de declarar uma área liberada em Edlib e Jisr El Cheghour próxima à fronteira noroeste com a Turquia, durante a conferência de Bergham Ghalioun na Tunísia, assistida pelo embaixador francês e seu colega norte-americano e, patrocinada pelo Qatar, foi um fracasso e tanto: aproximadamente 150 rebeldes mortos e outros 100 capturados entre feridos e presos. Imediatamente a Turquia já lavou as mãos como o fez quando a Síria informou ter frustrado uma tentativa de um grupo de milicianos entrarem pela fronteira norte há pouco mais de um mês.

A Turquia precisa fazer suas contas de novo em sua política externa batizada de Zero Problema. Pelo jeito, virou Zero Amigo. No norte da África, Erdogan foi bem recebido como palestrante, porém, o Egito, a Líbia e a Tunísia dispensam qualquer liderança otomana. Basta a intervenção do Qatar, cada vez mais repelida pelos novos ascendentes ao poder. Retribuir a dívida parece coerente. Pagar juros eternos, ninguém o fará. Por outro lado, a tentativa turca de se infiltrar na Liga Árabe ficou mais desastrada. Aliar-se ao Qatar e deslocar a Arábia Saudita é muita pretensão mesmo com toda a cobertura da Otan. A Turquia precisa refazer seus cálculos ainda mais com a saúde de Erdogan atingida pelo câncer e uma disputa prévia por sua sucessão.

A Liga Árabe já demonstrou sua incoerência. Nenhum vizinho da Síria aderiu ao boicote e, além disso, alguns países como a Argélia, o Sudão e o Sultanato de Omã – membro do Conselho de Cooperação do Golfo, já iniciaram uma revisão das ações conduzidas pelo Qatar. O próprio Nabil Al-Arabi secretário geral da Liga Árabe, sob pressões do Egito, começou a mudar seu discurso de querer internacionalizar a crise na Síria para tentar uma saída árabe negociada.

A Arábia Saudita já chamou por uma integração entre os países do Golfo Pérsico. Foi além da cooperação. O medo é o Irã e agora o Iraque também, com seus oitocentos quilômetros de fronteira, logo com a comunidade xiita que ocupa o leste da península. Sem esquecer a revolta popular no Bahrein, os eternos conflitos no Iemen e ainda, as tímidas manifestações dos Bidoune no Kuwait e Qatar. Os Bidoune são uma versão parecida do MST brasileiro. São habitantes nativos e trabalhadores estrangeiros desses países, sem direito à cidadania, registros e outros direitos civis, apesar de representarem mais de cem mil pessoas. Bidoune (nacionalidade) significa em árabe sem cidadania.
Por fim, o Irã. Aí não precisa falar muito. Se foi possível entrar no comando dos aviões espiões e pousá-los para usá-los em engenharia reversa, seria mais prudente levá-los a sério e tratá-los como grande nação compartilhando respeito e não ameaças.

A nova Muralha já tem suas bandeiras tremulando: Gaza, Beirute, Damasco, Bagdá, Teerã, Moscou e Pequim. A próxima será da capital afegã, Cabul. Como diz o ditado árabe, o futuro para quem está esperando, é próximo.

Fonte: Al Marada